Diferencia entre revisiones de «DAS CHAGAS LIMA Francisco»
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==(Curitiba, 1758 – Guarapuava, 1832) Padre, apóstolo dos gentios, fundador== | ==(Curitiba, 1758 – Guarapuava, 1832) Padre, apóstolo dos gentios, fundador== | ||
− | O Padre Francisco das Chagas Lima nasceu em Curitiba no ano de 1758, filho de um sargento-mor, foi ordenado sacerdote aos 22 anos.<ref>Cf. S. CASSAB JEHA, ''O Padre, o Militar e os índios,'' 23.</ref>Ficou na memória da Igreja e da historia principalmente por seu trato com os índios. Conhecemos o trabalho do Padre Chagas através de vários relatórios, memórias que ele mesmo fez de seu trabalho.<ref>Escritos do Padre Francisco das Chagas Lima, já publicados: «Estado Actual da Conquista de Guarapuava no fim do anno de 1821» in A. MARTINS FRANCO, ''Diogo Pinto e a Conquista de Guarapuava,'' Edição do Museu Paranaense, Curitiba 1943, 233-268; «Memória sobre o descobrimento e colônia de Guarapuava» in MONUMENTA, 55-86. Não publicados: «Informação do Missionário e vigário Collado na Fregueszia de N. Snrª de Belém nos Campos de Guarapuava 15 de Janeiro1827», in AESP, Ofícios de Castro, Caixa: 192, Ordem: 987, Pacote 1, Doc. 66; Tem-se ainda vários ofícios do Pároco e cartas ao Governador da Província de São Paulo na Mesma caixa e ordem do supracitado Arquivo. Todos esses documentos estão em nosso possesso, os quais serão citados conforme a necessidade de usá-los ou não no desenvolver de nossa pesquisa.</ref>Em uma de suas memórias Padre Chagas faz uma pequena autobiografia: | + | O Padre Francisco das Chagas Lima nasceu em Curitiba no ano de 1758, filho de um sargento-mor, foi ordenado sacerdote aos 22 anos.<ref>Cf. S. CASSAB JEHA, ''O Padre, o Militar e os índios,'' 23.</ref>Ficou na memória da Igreja e da historia principalmente por seu trato com os índios. Conhecemos o trabalho do Padre Chagas através de vários relatórios, memórias que ele mesmo fez de seu trabalho.<ref>Escritos do Padre Francisco das Chagas Lima, já publicados: «Estado Actual da Conquista de Guarapuava no fim do anno de 1821» in A. MARTINS FRANCO, ''Diogo Pinto e a Conquista de Guarapuava,'' Edição do Museu Paranaense, Curitiba 1943, 233-268; «Memória sobre o descobrimento e colônia de Guarapuava» in MONUMENTA, 55-86. Não publicados: «Informação do Missionário e vigário Collado na Fregueszia de N. Snrª de Belém nos [[GUARAPUAVA;_A_expedição_Real_de_1809 | Campos de Guarapuava]] 15 de Janeiro1827», in AESP, Ofícios [[DE_CASTRO_BARROS,_Pedro_Ignacio | de Castro]], Caixa: 192, Ordem: 987, Pacote 1, Doc. 66; Tem-se ainda vários ofícios do Pároco e cartas ao Governador da Província de [[SÃO_PAULO;_(São_Paulo)_–_Arquidiocese | São Paulo]] na Mesma caixa e ordem do supracitado Arquivo. Todos esses documentos estão em nosso possesso, os quais serão citados conforme a necessidade de usá-los ou não no desenvolver de nossa pesquisa.</ref>Em uma de suas memórias Padre Chagas faz uma pequena autobiografia: |
− | ''“O único missionário que resta, já tem 69 annos, e trata de se recolher para tratar do seu alivio e descanço nos últimos dias que lhe restam de sua existência; e ainda que estivesse em idade mais robusta, já não pôde só abranger a tudo o que exige em Guarapuava dos deveres de seu ministério da missão. Elle conta com 41 annos de serviço no Bispado de São Paulo, foi 15 annos coadjutor e vigário collado na Villa de Coritiba, 4 annos na capella de N. S. da Apparecida, districto da Villa de Guaratinguetá, 5 annos cathequisou na aldeia de Quêluz, e residiu 17 annos em Guarapuava.”''<ref>F. DAS CHAGAS LIMA, «Memoria Sobre o Descobrimento e Colônia de Guarapuava», in MONUMENTA, 77-78.</ref> | + | ''“O único missionário que resta, já tem 69 annos, e trata de se recolher para tratar do seu alivio e descanço nos últimos dias que lhe restam de sua existência; e ainda que estivesse em idade mais robusta, já não pôde só abranger a tudo o que exige em Guarapuava dos deveres de seu ministério da missão. Elle conta com 41 annos de serviço no Bispado de [[SÃO_PAULO;_(São_Paulo)_–_Arquidiocese | São Paulo]], foi 15 annos coadjutor e vigário collado na Villa de Coritiba, 4 annos na capella de N. S. da Apparecida, districto da Villa de Guaratinguetá, 5 annos cathequisou na aldeia de Quêluz, e residiu 17 annos em Guarapuava.”''<ref>F. DAS CHAGAS LIMA, «Memoria Sobre o Descobrimento e Colônia de Guarapuava», in MONUMENTA, 77-78.</ref> |
− | O fragmento autobiográfico supracitado escrito por ele na 3ª pessoa do singular em 1827 resume todas as suas atribuições ao longo de seu ministério sacerdotal. O que se percebe dos documentos é que era um homem incansável, dedicado de corpo e alma ao seu apostolado. O sucesso de sua missão como catequista dos índios de Queluz (os índios «puris») foi o que o habilitou ao serviço da Real Expedição aos Campos de Guarapuava. | + | O fragmento autobiográfico supracitado escrito por ele na 3ª pessoa do singular em 1827 resume todas as suas atribuições ao longo de seu ministério sacerdotal. O que se percebe dos documentos é que era um homem incansável, dedicado de corpo e alma ao seu apostolado. O sucesso de sua missão como catequista dos índios de Queluz (os índios «puris») foi o que o habilitou ao serviço da Real Expedição aos [[GUARAPUAVA;_A_expedição_Real_de_1809 | Campos de Guarapuava]]. |
==Suas funções na Real Expedição de 1809== | ==Suas funções na Real Expedição de 1809== | ||
− | Segundo Arthur Martins Franco, o Padre Chagas foi convidado pelo Governador da Província de São Paulo para Fazer parte da Real Expedição em Abril de 1809. Juntamente com ele foi convidado o Padre Jesuíno do Monte Carmello para a catequese dos índios. Este último se desculpou e não aceitou o convite, sendo substituído pelo Frei Pedro Nolasco.<ref>A. MARTINS FRANCO, ''Diogo Pinto e a Conquista de Guarapuava,'' 65.</ref> | + | Segundo Arthur Martins Franco, o Padre Chagas foi convidado pelo Governador da Província de [[SÃO_PAULO;_(São_Paulo)_–_Arquidiocese | São Paulo]] para Fazer parte da Real Expedição em Abril de 1809. Juntamente com ele foi convidado o Padre Jesuíno do Monte Carmello para a catequese dos índios. Este último se desculpou e não aceitou o convite, sendo substituído pelo Frei Pedro Nolasco.<ref>A. MARTINS FRANCO, ''Diogo Pinto e a Conquista de Guarapuava,'' 65.</ref> |
− | O mesmo Arthur Martins Franco informa que em Maio de 1809 foram nomeados os auxiliares da Expedição e entre eles o ''“Padre Francisco das Chagas Lima”''.<ref>''Ibidem,'' 66.</ref>O Sacerdote começou exercer sua função de Capelão da Real Expedição no dia 24 de Setembro de 1809 quando boa parte da Expedição já tinha partido em Agosto. É o que se lê em carta enviada pelo Padre ao Governador da Província de São Paulo em nove de Outubro do mesmo ano: | + | O mesmo Arthur Martins Franco informa que em Maio de 1809 foram nomeados os auxiliares da Expedição e entre eles o ''“Padre Francisco das Chagas Lima”''.<ref>''Ibidem,'' 66.</ref>O Sacerdote começou exercer sua função de Capelão da Real Expedição no dia 24 de Setembro de 1809 quando boa parte da Expedição já tinha partido em Agosto. É o que se lê em carta enviada pelo Padre ao Governador da Província de [[SÃO_PAULO;_(São_Paulo)_–_Arquidiocese | São Paulo]] em nove de Outubro do mesmo ano: |
''“IIImo°. E Exmo. Snr°. Antonio José da Franca e Horta. Quinze dias hão, q- felizmente cheguei a este primeiro abarracamento, que se chama São Felippe, Légua e meia dentro do bosque inculto, que imos atravessar pª. Chegar ao Campo de Guarapuaba. Agente, q- aqui se acha, são cento, e quarenta homens, entrando nesse numero os Milicianos, e Ordenanças, que a dous mezes aqui entrarão; e os saldados da Linha, que ontem chegaram com o seu Commandante. O Tente. Coronel Diogo Pinto de Azevedo Portugal consta, q- no dia 10 do corrente, q- he amanha, parte da Villa de Corytyba para este destacamento. Os ditos Milicianos, e Ordenanças, comandados pelo Alferes Bernardo José Pinto Prª. Tem trabalhado mt°.;por quanto neste breve espaço de tempo derribarão mattas para vinte alqueires de sementeira de milho, e fizerão aquartellamt°s. (cubertos de palha) para a tropa e seu officiaes, almazem pª.o trem, casa para nella se celebrar o Santo Sacrifício da Missa, e de residência, pª. Mim, e o meu companheiro o R. Fr. Pedro A. Nolasco, com qm. Estou junto neste destacamt°., cuidando na instrução da nossa corporação, visto q- dos Índios Selvagens ainda não há a menor noticia; e por conseqüência nem redução.”''<ref>F. DAS CHAGAS LIMA, «Carta ao IIIm°. E Exmo. Snr°. Antonio José da Franca e Horta», in ''Ibidem'', 76.</ref> | ''“IIImo°. E Exmo. Snr°. Antonio José da Franca e Horta. Quinze dias hão, q- felizmente cheguei a este primeiro abarracamento, que se chama São Felippe, Légua e meia dentro do bosque inculto, que imos atravessar pª. Chegar ao Campo de Guarapuaba. Agente, q- aqui se acha, são cento, e quarenta homens, entrando nesse numero os Milicianos, e Ordenanças, que a dous mezes aqui entrarão; e os saldados da Linha, que ontem chegaram com o seu Commandante. O Tente. Coronel Diogo Pinto de Azevedo Portugal consta, q- no dia 10 do corrente, q- he amanha, parte da Villa de Corytyba para este destacamento. Os ditos Milicianos, e Ordenanças, comandados pelo Alferes Bernardo José Pinto Prª. Tem trabalhado mt°.;por quanto neste breve espaço de tempo derribarão mattas para vinte alqueires de sementeira de milho, e fizerão aquartellamt°s. (cubertos de palha) para a tropa e seu officiaes, almazem pª.o trem, casa para nella se celebrar o Santo Sacrifício da Missa, e de residência, pª. Mim, e o meu companheiro o R. Fr. Pedro A. Nolasco, com qm. Estou junto neste destacamt°., cuidando na instrução da nossa corporação, visto q- dos Índios Selvagens ainda não há a menor noticia; e por conseqüência nem redução.”''<ref>F. DAS CHAGAS LIMA, «Carta ao IIIm°. E Exmo. Snr°. Antonio José da Franca e Horta», in ''Ibidem'', 76.</ref> | ||
− | Além de confirmada a sua atuação como Capelão da Real Expedição, se percebe através da carta, o bom relacionamento do Padre Chagas com o Governo de São Paulo. Além disso, percebe-se também a sua vocação de líder, pois faz um verdadeiro relatório detalhado dos trabalhos da Expedição mesmo antes de o seu Comandante, Diogo Pinto, chegar ao local. Porém, o fato de o Padre Chagas ter aptidão para coordenar outros trabalhos além do exclusivamente religioso, causará problemas entre ele e o Comandante da Expedição. | + | Além de confirmada a sua atuação como Capelão da Real Expedição, se percebe através da carta, o bom relacionamento do Padre Chagas com o Governo de [[SÃO_PAULO;_(São_Paulo)_–_Arquidiocese | São Paulo]]. Além disso, percebe-se também a sua vocação de líder, pois faz um verdadeiro relatório detalhado dos trabalhos da Expedição mesmo antes de o seu Comandante, Diogo Pinto, chegar ao local. Porém, o fato de o Padre Chagas ter aptidão para coordenar outros trabalhos além do exclusivamente religioso, causará problemas entre ele e o Comandante da Expedição. |
− | Na mesma carta de Outubro de 1809 ao Governador da Capitania de São Paulo ao encerrar a mesma, Padre Chagas expressa sua ansiedade em encontrar-se e converter os índios, nas suas palavras, «os infiéis»: ''“[...] já me disponho a sofrer por este anno os ares deste sertão, bem pouco benignoz a saúde dos homens; e sobre tudo à vehemência dos meus desejos; q- todos são de ver me já no Campo trabalhando na conversão dos infiéis”.''<ref>F. DAS CHAGAS LIMA, «Carta ao Governador Antonio José da Franca e Horta em 1809», in A. MARTINS FRANCO, ''Diogo Pinto e a Conquista de Guarapuava'', 77.</ref> | + | Na mesma carta de Outubro de 1809 ao Governador da Capitania de [[SÃO_PAULO;_(São_Paulo)_–_Arquidiocese | São Paulo]] ao encerrar a mesma, Padre Chagas expressa sua ansiedade em encontrar-se e converter os índios, nas suas palavras, «os infiéis»: ''“[...] já me disponho a sofrer por este anno os ares deste sertão, bem pouco benignoz a saúde dos homens; e sobre tudo à vehemência dos meus desejos; q- todos são de ver me já no Campo trabalhando na conversão dos infiéis”.''<ref>F. DAS CHAGAS LIMA, «Carta ao Governador Antonio José da Franca e Horta em 1809», in A. MARTINS FRANCO, ''Diogo Pinto e a Conquista de Guarapuava'', 77.</ref> |
− | Depois de 13 anos de trabalho, apesar das doenças e o aumento do trabalho, Padre Chagas continua com o mesmo vigor: “[...] ''não tenho vontade algua de renunciar ao meu Emprego, porque histo seria olhar para trás depois de haver mettido mão ao arado [...]”.''<ref>F. DAS CHAGAS LIMA, «Carta ao Governo Provisório da Capitania de São Paulo em 22 de Fevereiro de 1822», in ''Ibidem'', 235.</ref> | + | Depois de 13 anos de trabalho, apesar das doenças e o aumento do trabalho, Padre Chagas continua com o mesmo vigor: “[...] ''não tenho vontade algua de renunciar ao meu Emprego, porque histo seria olhar para trás depois de haver mettido mão ao arado [...]”.''<ref>F. DAS CHAGAS LIMA, «Carta ao Governo Provisório da Capitania de [[SÃO_PAULO;_(São_Paulo)_–_Arquidiocese | São Paulo]] em 22 de Fevereiro de 1822», in ''Ibidem'', 235.</ref> |
O trabalho árduo do Padre Chagas foi reconhecido. Em 1853, o Padre e deputado-geral Ildefonso Xavier Ferreira reclamou que, a respeito de catequese indígena, eram sempre lembrados os jesuítas. Ildefonso evocou o Padre Chagas, reconhecendo no missionário a imagem de mártir: | O trabalho árduo do Padre Chagas foi reconhecido. Em 1853, o Padre e deputado-geral Ildefonso Xavier Ferreira reclamou que, a respeito de catequese indígena, eram sempre lembrados os jesuítas. Ildefonso evocou o Padre Chagas, reconhecendo no missionário a imagem de mártir: | ||
− | ''“No começo deste presente século apareceu [...] um gênio raro, [...] o virtuoso curitibano padre Francisco das Chagas Lima, que estando capelão de Aparecida (Guaratinguetá) foi mandado a Queluz, hoje villa Rica e populosa ao pé de Areias para catequizar. Lutando contra a penúria, contra a fome e contra a miséria [...] conseguiu [...] aldear os índios, reduzi-los à fé católica e proporcionar aos fazendeiros aqueles ricos terrenos para a cultura do café.[...] [Em Guarapuava] seus trabalhos foram destruídos pelo comandante da expedição que contra a vontade do missionário queria misturar e com efeito misturou os soldados com os indígenas facilitando assim a desenvoltura dos soldados entre os selvagens, também a ela propensos. Esse passo foi o bastante para que o padre enlouquecesse e assim findou seus tristes dias [...].”''<ref>I. XAVIER FERREIRA, «Prólogo», in ''Constituiçoes Primeiras do Arcebispado da Bahia'', Typographia 2 de Dezembro, São Paulo 1853, 9-10.</ref> | + | ''“No começo deste presente século apareceu [...] um gênio raro, [...] o virtuoso curitibano padre Francisco das Chagas Lima, que estando capelão de Aparecida (Guaratinguetá) foi mandado a Queluz, hoje villa Rica e populosa ao pé de Areias para catequizar. Lutando contra a penúria, contra a fome e contra a miséria [...] conseguiu [...] aldear os índios, reduzi-los à fé católica e proporcionar aos fazendeiros aqueles ricos terrenos para a cultura do café.[...] [Em Guarapuava] seus trabalhos foram destruídos pelo comandante da expedição que contra a vontade do missionário queria misturar e com efeito misturou os soldados com os indígenas facilitando assim a desenvoltura dos soldados entre os selvagens, também a ela propensos. Esse passo foi o bastante para que o padre enlouquecesse e assim findou seus tristes dias [...].”''<ref>I. XAVIER FERREIRA, «Prólogo», in ''Constituiçoes Primeiras do [[CONSTITUIÇÕES_DO_ARCEBISPADO_DA_BAHIA | Arcebispado da Bahia]]'', Typographia 2 de Dezembro, [[SÃO_PAULO;_(São_Paulo)_–_Arquidiocese | São Paulo]] 1853, 9-10.</ref> |
O fato citado pelo padre e deputado Ildefonso como causa da doença mental do Padre Chagas e consequentemente de sua morte, foi apenas um dos desacordos entre Padre Chagas e Diogo Pinto comandante da Real Expedição. Porém, não se pode atribuir a causa da destruição do trabalho do Padre, sua doença e morte a apenas esse fato. | O fato citado pelo padre e deputado Ildefonso como causa da doença mental do Padre Chagas e consequentemente de sua morte, foi apenas um dos desacordos entre Padre Chagas e Diogo Pinto comandante da Real Expedição. Porém, não se pode atribuir a causa da destruição do trabalho do Padre, sua doença e morte a apenas esse fato. | ||
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É verdade que as visões diferentes entre os dois líderes prejudicaram o trabalho, mas não o destruiu. Realmente o Padre Chagas teve muitas dificuldades em seu trabalho na catequese dos índios, mas não foi somente um fato a causa das dificuldades. A citação do discurso acima foi apenas para ilustrar a fama e o reconhecimento do trabalho do Padre Chagas como catequista dos indígenas em nível nacional. | É verdade que as visões diferentes entre os dois líderes prejudicaram o trabalho, mas não o destruiu. Realmente o Padre Chagas teve muitas dificuldades em seu trabalho na catequese dos índios, mas não foi somente um fato a causa das dificuldades. A citação do discurso acima foi apenas para ilustrar a fama e o reconhecimento do trabalho do Padre Chagas como catequista dos indígenas em nível nacional. | ||
− | Ainda sobre a importância do trabalho e figura do Padre Chagas, o grande indigenista José Joaquim Machado de Oliveira, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, afirmou o seguinte: ''“seria indubitavelmente proveitoso estudar o caráter, a índole desse zeloso catequista; os fatos que decorreram da sua vida de missionário, para que possa servir de norma aos que houverem de achar-se em posições idênticas”.''<ref>J. JOAQUIM MACHADO DE OLIVEIRA, «Noticia racionada sobre as aldeias de índios da província de São Paulo, desde o começo até a atualidade» in RIHGB, 3 (1846), 237-8.</ref> | + | Ainda sobre a importância do trabalho e figura do Padre Chagas, o grande indigenista José Joaquim Machado de Oliveira, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, afirmou o seguinte: ''“seria indubitavelmente proveitoso estudar o caráter, a índole desse zeloso catequista; os fatos que decorreram da sua vida de missionário, para que possa servir de norma aos que houverem de achar-se em posições idênticas”.''<ref>J. JOAQUIM MACHADO DE OLIVEIRA, «Noticia racionada sobre as aldeias de índios da província de [[SÃO_PAULO;_(São_Paulo)_–_Arquidiocese | São Paulo]], desde o começo até a atualidade» in RIHGB, 3 (1846), 237-8.</ref> |
Ainda antes de terminar seu tempo de trabalho em Guarapuava, Padre Chagas transmite ao Imperador uma série de informações a respeito da catequese dos índios no qual informa que desde 1812 trabalhou sozinho com acumulo de funções: | Ainda antes de terminar seu tempo de trabalho em Guarapuava, Padre Chagas transmite ao Imperador uma série de informações a respeito da catequese dos índios no qual informa que desde 1812 trabalhou sozinho com acumulo de funções: | ||
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==BIBLIOGRAFÍA== | ==BIBLIOGRAFÍA== | ||
− | CASSAB JEHA S., O Padre, o Militar e os índio. Dissertação de Mestrado em História. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2005 | + | CASSAB JEHA S., ''O Padre, o Militar'' e os índio. Dissertação de Mestrado em História. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2005 |
− | MARTINS FRANCO A., Diogo Pinto e a Conquista de Guarapuava, Edição do Museu Paranaense, Curitiba 1943 | + | MARTINS FRANCO A., ''Diogo Pinto e a Conquista de Guarapuava'', Edição do Museu Paranaense, Curitiba 1943 |
− | XAVIER FERREIRA I., «Prólogo», in Constituiçoes Primeiras do Arcebispado da Bahia, Typographia 2 de Dezembro, São Paulo 1853 | + | XAVIER FERREIRA I., «Prólogo», in ''Constituiçoes Primeiras do [[CONSTITUIÇÕES_DO_ARCEBISPADO_DA_BAHIA | Arcebispado da Bahia]]'', Typographia 2 de Dezembro, [[SÃO_PAULO;_(São_Paulo)_–_Arquidiocese | São Paulo]] 1853 |
'''ANTONIO AILSON AURELIO''' | '''ANTONIO AILSON AURELIO''' | ||
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Revisión actual del 22:03 22 feb 2018
Sumario
(Curitiba, 1758 – Guarapuava, 1832) Padre, apóstolo dos gentios, fundador
O Padre Francisco das Chagas Lima nasceu em Curitiba no ano de 1758, filho de um sargento-mor, foi ordenado sacerdote aos 22 anos.[1]Ficou na memória da Igreja e da historia principalmente por seu trato com os índios. Conhecemos o trabalho do Padre Chagas através de vários relatórios, memórias que ele mesmo fez de seu trabalho.[2]Em uma de suas memórias Padre Chagas faz uma pequena autobiografia:
“O único missionário que resta, já tem 69 annos, e trata de se recolher para tratar do seu alivio e descanço nos últimos dias que lhe restam de sua existência; e ainda que estivesse em idade mais robusta, já não pôde só abranger a tudo o que exige em Guarapuava dos deveres de seu ministério da missão. Elle conta com 41 annos de serviço no Bispado de São Paulo, foi 15 annos coadjutor e vigário collado na Villa de Coritiba, 4 annos na capella de N. S. da Apparecida, districto da Villa de Guaratinguetá, 5 annos cathequisou na aldeia de Quêluz, e residiu 17 annos em Guarapuava.”[3]
O fragmento autobiográfico supracitado escrito por ele na 3ª pessoa do singular em 1827 resume todas as suas atribuições ao longo de seu ministério sacerdotal. O que se percebe dos documentos é que era um homem incansável, dedicado de corpo e alma ao seu apostolado. O sucesso de sua missão como catequista dos índios de Queluz (os índios «puris») foi o que o habilitou ao serviço da Real Expedição aos Campos de Guarapuava.
Suas funções na Real Expedição de 1809
Segundo Arthur Martins Franco, o Padre Chagas foi convidado pelo Governador da Província de São Paulo para Fazer parte da Real Expedição em Abril de 1809. Juntamente com ele foi convidado o Padre Jesuíno do Monte Carmello para a catequese dos índios. Este último se desculpou e não aceitou o convite, sendo substituído pelo Frei Pedro Nolasco.[4]
O mesmo Arthur Martins Franco informa que em Maio de 1809 foram nomeados os auxiliares da Expedição e entre eles o “Padre Francisco das Chagas Lima”.[5]O Sacerdote começou exercer sua função de Capelão da Real Expedição no dia 24 de Setembro de 1809 quando boa parte da Expedição já tinha partido em Agosto. É o que se lê em carta enviada pelo Padre ao Governador da Província de São Paulo em nove de Outubro do mesmo ano:
“IIImo°. E Exmo. Snr°. Antonio José da Franca e Horta. Quinze dias hão, q- felizmente cheguei a este primeiro abarracamento, que se chama São Felippe, Légua e meia dentro do bosque inculto, que imos atravessar pª. Chegar ao Campo de Guarapuaba. Agente, q- aqui se acha, são cento, e quarenta homens, entrando nesse numero os Milicianos, e Ordenanças, que a dous mezes aqui entrarão; e os saldados da Linha, que ontem chegaram com o seu Commandante. O Tente. Coronel Diogo Pinto de Azevedo Portugal consta, q- no dia 10 do corrente, q- he amanha, parte da Villa de Corytyba para este destacamento. Os ditos Milicianos, e Ordenanças, comandados pelo Alferes Bernardo José Pinto Prª. Tem trabalhado mt°.;por quanto neste breve espaço de tempo derribarão mattas para vinte alqueires de sementeira de milho, e fizerão aquartellamt°s. (cubertos de palha) para a tropa e seu officiaes, almazem pª.o trem, casa para nella se celebrar o Santo Sacrifício da Missa, e de residência, pª. Mim, e o meu companheiro o R. Fr. Pedro A. Nolasco, com qm. Estou junto neste destacamt°., cuidando na instrução da nossa corporação, visto q- dos Índios Selvagens ainda não há a menor noticia; e por conseqüência nem redução.”[6]
Além de confirmada a sua atuação como Capelão da Real Expedição, se percebe através da carta, o bom relacionamento do Padre Chagas com o Governo de São Paulo. Além disso, percebe-se também a sua vocação de líder, pois faz um verdadeiro relatório detalhado dos trabalhos da Expedição mesmo antes de o seu Comandante, Diogo Pinto, chegar ao local. Porém, o fato de o Padre Chagas ter aptidão para coordenar outros trabalhos além do exclusivamente religioso, causará problemas entre ele e o Comandante da Expedição.
Na mesma carta de Outubro de 1809 ao Governador da Capitania de São Paulo ao encerrar a mesma, Padre Chagas expressa sua ansiedade em encontrar-se e converter os índios, nas suas palavras, «os infiéis»: “[...] já me disponho a sofrer por este anno os ares deste sertão, bem pouco benignoz a saúde dos homens; e sobre tudo à vehemência dos meus desejos; q- todos são de ver me já no Campo trabalhando na conversão dos infiéis”.[7]
Depois de 13 anos de trabalho, apesar das doenças e o aumento do trabalho, Padre Chagas continua com o mesmo vigor: “[...] não tenho vontade algua de renunciar ao meu Emprego, porque histo seria olhar para trás depois de haver mettido mão ao arado [...]”.[8]
O trabalho árduo do Padre Chagas foi reconhecido. Em 1853, o Padre e deputado-geral Ildefonso Xavier Ferreira reclamou que, a respeito de catequese indígena, eram sempre lembrados os jesuítas. Ildefonso evocou o Padre Chagas, reconhecendo no missionário a imagem de mártir:
“No começo deste presente século apareceu [...] um gênio raro, [...] o virtuoso curitibano padre Francisco das Chagas Lima, que estando capelão de Aparecida (Guaratinguetá) foi mandado a Queluz, hoje villa Rica e populosa ao pé de Areias para catequizar. Lutando contra a penúria, contra a fome e contra a miséria [...] conseguiu [...] aldear os índios, reduzi-los à fé católica e proporcionar aos fazendeiros aqueles ricos terrenos para a cultura do café.[...] [Em Guarapuava] seus trabalhos foram destruídos pelo comandante da expedição que contra a vontade do missionário queria misturar e com efeito misturou os soldados com os indígenas facilitando assim a desenvoltura dos soldados entre os selvagens, também a ela propensos. Esse passo foi o bastante para que o padre enlouquecesse e assim findou seus tristes dias [...].”[9]
O fato citado pelo padre e deputado Ildefonso como causa da doença mental do Padre Chagas e consequentemente de sua morte, foi apenas um dos desacordos entre Padre Chagas e Diogo Pinto comandante da Real Expedição. Porém, não se pode atribuir a causa da destruição do trabalho do Padre, sua doença e morte a apenas esse fato.
É verdade que as visões diferentes entre os dois líderes prejudicaram o trabalho, mas não o destruiu. Realmente o Padre Chagas teve muitas dificuldades em seu trabalho na catequese dos índios, mas não foi somente um fato a causa das dificuldades. A citação do discurso acima foi apenas para ilustrar a fama e o reconhecimento do trabalho do Padre Chagas como catequista dos indígenas em nível nacional.
Ainda sobre a importância do trabalho e figura do Padre Chagas, o grande indigenista José Joaquim Machado de Oliveira, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, afirmou o seguinte: “seria indubitavelmente proveitoso estudar o caráter, a índole desse zeloso catequista; os fatos que decorreram da sua vida de missionário, para que possa servir de norma aos que houverem de achar-se em posições idênticas”.[10]
Ainda antes de terminar seu tempo de trabalho em Guarapuava, Padre Chagas transmite ao Imperador uma série de informações a respeito da catequese dos índios no qual informa que desde 1812 trabalhou sozinho com acumulo de funções:
“[...] tais, como se acaba de expressar, eram os costumes dos povos, que a Real Expedição de 1809 se dirigiu a conquistar, a fim de serem reduzidos à civilização, e à cristandade. Se bem que para esse ultimo fim acompanharam a expedição, na sua primeira entrança dois missionários, quando as primeiras hordas de camés e votorons a ela se renderam ao 1° de Agosto de 1812 não se achava em Guarapuava, senão um sacerdote, que devia juntamente servir de capelão à tropa militar e de catequista aos índios. Eu portanto, eu mesmo fui o que tomei a cargo esta empresa; e que a tenho continuado há catorze annos, esperando que Deus a houvesse de abençoar, e liberalizar seus frutos; pois como diz o apostolo (Ep. Ad Cor.3) «Neque qui plantat est aliquid, neque qui rigat, sed qui incrementum dat, Deus.» [11]
É importante salientar que o Padre Chagas não foi um catequista desligado dos problemas de sua época. Além de catequista, foi também capelão das tropas militares e acima de tudo um grande líder com uma fé inabalável. Como tal, sabia muito bem que o êxito de seu trabalho implicava na boa administração, no bom exemplo e senso de justiça dos responsáveis pela Expedição, de todos os militares para com os índios e também dos colonos.
Por isso, no desenvolver de seu trabalho teve muitos conflitos. Mas eram os índios a sua lavoura, o seu rebanho de convertidos que o Padre chagas tinha sempre em mente e por estes doou grande parte sua vida.
É esse trabalho incansável cheio de problemas, de desilusões, sofrimentos, do esforço em compreender os índios, de defendê-los e reduzi-los à fé Católica que por 18 anos Padre Chagas se dedicou em Guarapuava onde ele morreu em 1832. Suas cinzas estão localizadas no centro da Praça 9 de Dezembro, em Guarapuava.
NOTAS
- ↑ Cf. S. CASSAB JEHA, O Padre, o Militar e os índios, 23.
- ↑ Escritos do Padre Francisco das Chagas Lima, já publicados: «Estado Actual da Conquista de Guarapuava no fim do anno de 1821» in A. MARTINS FRANCO, Diogo Pinto e a Conquista de Guarapuava, Edição do Museu Paranaense, Curitiba 1943, 233-268; «Memória sobre o descobrimento e colônia de Guarapuava» in MONUMENTA, 55-86. Não publicados: «Informação do Missionário e vigário Collado na Fregueszia de N. Snrª de Belém nos Campos de Guarapuava 15 de Janeiro1827», in AESP, Ofícios de Castro, Caixa: 192, Ordem: 987, Pacote 1, Doc. 66; Tem-se ainda vários ofícios do Pároco e cartas ao Governador da Província de São Paulo na Mesma caixa e ordem do supracitado Arquivo. Todos esses documentos estão em nosso possesso, os quais serão citados conforme a necessidade de usá-los ou não no desenvolver de nossa pesquisa.
- ↑ F. DAS CHAGAS LIMA, «Memoria Sobre o Descobrimento e Colônia de Guarapuava», in MONUMENTA, 77-78.
- ↑ A. MARTINS FRANCO, Diogo Pinto e a Conquista de Guarapuava, 65.
- ↑ Ibidem, 66.
- ↑ F. DAS CHAGAS LIMA, «Carta ao IIIm°. E Exmo. Snr°. Antonio José da Franca e Horta», in Ibidem, 76.
- ↑ F. DAS CHAGAS LIMA, «Carta ao Governador Antonio José da Franca e Horta em 1809», in A. MARTINS FRANCO, Diogo Pinto e a Conquista de Guarapuava, 77.
- ↑ F. DAS CHAGAS LIMA, «Carta ao Governo Provisório da Capitania de São Paulo em 22 de Fevereiro de 1822», in Ibidem, 235.
- ↑ I. XAVIER FERREIRA, «Prólogo», in Constituiçoes Primeiras do Arcebispado da Bahia, Typographia 2 de Dezembro, São Paulo 1853, 9-10.
- ↑ J. JOAQUIM MACHADO DE OLIVEIRA, «Noticia racionada sobre as aldeias de índios da província de São Paulo, desde o começo até a atualidade» in RIHGB, 3 (1846), 237-8.
- ↑ F. DAS CHAGAS LIMA, «Informação do Missionário e Vigário Collado na Freguesia de Nossa Senhora de Belém...», in AESP, Caixa 192, Ordem 987, Doc. 66, f. 2.
BIBLIOGRAFÍA
CASSAB JEHA S., O Padre, o Militar e os índio. Dissertação de Mestrado em História. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2005
MARTINS FRANCO A., Diogo Pinto e a Conquista de Guarapuava, Edição do Museu Paranaense, Curitiba 1943
XAVIER FERREIRA I., «Prólogo», in Constituiçoes Primeiras do Arcebispado da Bahia, Typographia 2 de Dezembro, São Paulo 1853
ANTONIO AILSON AURELIO