Diferencia entre revisiones de «ORDEM MILITAR DE JESUS CRISTO»

De Dicionário de História Cultural de la Iglesía en América Latina
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Revisión del 20:55 26 may 2018

Segundo o Diccionario enciclopédico de «Historia de la Iglesia», “O protagonista do Padroado português foi a Ordem de Cristo, cujo cargo de Gran Maestro estava relacionado com a casa real”.[1]A «Militia Christi» teve papel fundamental na luta contra os sarracenos, de modo especial, sua ajuda financeira foi determinante para a tomada de Ceuta e a exploração da costa africana.

Fundação da Ordem de Cristo.[2]

No início do século XIV, o papa Clemente V, coagido por Filipe, o Belo, rei de França, decretou a extinção da Ordem dos Templários.[3]O processo, anterior à decisão papal, não foi executado da mesma forma em todos os países. No caso de Portugal, por exemplo, os membros da Ordem nem mesmo foram presos imediatamente à comunicação de Clemente V; no processo, foram reconhecidos como inocentes, mas os prelados não ousaram proferir a sentença por respeito ao papa, a quem reservaram o direito de proferi-la.

Declarada a extinção, naturalmente a ordem deixou de existir também em Portugal e iniciaram as discussões sobre como aplicar os bens até então a ela pertencentes. O rei de Portugal Dinis I (1261-1325) tentou reter à coroa tais bens, mas encontrou a resistência do pontífice.

Como não haviam chegado a um consenso e havia ainda a necessidade de proteção contra os infiéis, os quais ainda atacavam ao sul, foi pensada a criação de uma nova ordem militar. Assim, instaurou-se a nova instituição religiosa, a «Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo», aprovada pelo papa João XXII (1316-1334) no dia 14 de Março de 1319.

“Como remédio eficaz propuseram que em Castro Marim, castelo forte do reino do Algarve e na fronteira inimiga, se fundasse uma nova ordem de cavalaria de lidadores de Jesus Cristo, à qual D. Dinis estava disposto a entregar o castelo e a conferir todos os direitos e jurisdições que exercia nele. Acedeu o Pontífice, e a ordem foi instituída no castelo de Castro Marim, que ficava sendo cabeça dela, com a igreja paroquial de Santa Maria do Castelo, no bispado de Silves, e todos os seus direitos e pertenças, para os ofícios do culto divino. Nessa casa deveria celebrar os seus capítulos a nova cavalaria, e as profissões deviam ser feitas segundo a regra de Calatrava. Determinou o Pontífice que a ordem se denominasse da Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo, e designou para seu mestre a Gil Martins, que já antes o era da casa de Avis. De futuro o mestre seria eleito pelos freires entre os cavaleiros professos; e ao abade de Alcobaça e aos seus sucessores ficava confiada a correição e a visitação, tanto sobre o mestre como sobre os freires. D. Dinis doou à ordem todos os bens que haviam pertencido aos templários, e mais a vila de Castro Marim. Pelos primitivos estatutos, feitos em 1321, a Ordem de Cristo devia ter pelo menos oitenta e quatro freires [...]”.[4]

Aos poucos a Ordem de Cristo passou a herdar os bens dos Templários. Em 1557, o antigo convento de Tomar passou a ser a sede oficial da nova Ordem. O patrimônio foi crescendo e com isto surgem os abusos, que foram o motivo que levaram o rei D. João I a tomar providências dando outro rumo à administração financeira da Ordem. Para isso, nomeou um interventor régio, seu filho D. Henrique.

O capital da Ordem começou a ser utilizado para atividades de combate aos mouros e viagens marítimas. Com o espírito de cruzado e com o título de Mestre da Milícia de Cristo, o Infante D. Henrique conquista Ceuta e continua a luta contra os mouros na África e dedicando-se às conquistas marítimas.

Nova função da Ordem de Cristo

É conhecido o fato que as ordens militares, não só em Portugal, mas onde existiam, além de manejar a espada, praticavam também obras de beneficência: “Um documento do reinado de Dom Dinis prova que, em parte, as doações feitas pela coroa às ordens militares tinham em vista que os freires dessem nas suas casas hospitalidade aos caminhantes e praticassem outras obras pias”.[5]

No entanto, seu fim específico e razão pela qual foram criados era combater contra os «infiéis» e proteger os cristãos. Ora, o último reduto de resistência árabe em território Português foi reconquistado em 1252; tratava-se do Algarve. Sem muito esforço, é fácil perceber que a nova ordem foi criada 67 anos após a reconquista do Algarve; ou seja, a ordem foi criada em uma época em que, em território português, praticamente não havia mais muito trabalho específico; se bem que, por exemplo, na tomada de Ceuta, em 1415, eles tiveram atuação importante.

Com o termo da conquista do Algarve acabou a função social das ordens militares, que na defesa das fronteiras, quando as invasões eram constantes, no ardor das batalhas e no ímpeto dos assaltos haviam prestado os maiores serviços. Finda a razão da sua existência, seria inútil todo o esforço em manter-lhes o prestígio, quando os ócios da paz esboroavam e dissolviam os laços da disciplina militar e da austeridade religiosa”.[6]

Em 1420, Don Henrique,[7]era nomeado administrador da Ordem de Cristo e, em 1422, já era seu grão-mestre.[8]Em 1522, o papa Adriano VI concedeu a Dom João III a dignidade de Grão-mestre da Ordem de Cristo, que posteriormente se transferiu aos seus sucessores.[9]Por questões políticas, 29 anos depois, a pedido do mesmo Don João III, Júlio III favoreceu ao máximo os monarcas portugueses, unindo os mestrados das ordens e os concedendo a membros da família real.

Foi o papa Júlio III que definitivamente anexou à coroa os mestrados das ordens, pela bula «Praeclara charissimi», de 30 de Dezembro de 1551, ficando eles pertencendo ao rei, ou rainha [...]”.[10]A partir deste momento, a coroa passou a possuir, de fato, o controle total da situação. Estava unida perpetuamente à coroa de Portugal a direção das ordens de Cristo, Santiago,[11] e Avis.[12]

No Século XV, surgiu ainda uma idéia que poderia ter salvado as Ordens Militares portuguesas: foi a tentativa de engajar os membros das ordens nas guerras e conquistas marítimas.

As ordens militares ter-se-iam salvado da derrocada, se vingasse a idéia, que apareceu no meado do século XV, de as aproveitar nas guerras e conquistas de alémmar; porém os homens que as governavam, ou, melhor, que as usufruíam, não compreenderam essa grande vantagem moral. Em 1456, o Papa Calisto III, atendendo ao risco de ser invadida pelos infiéis a cidade de Ceuta, guardada por tão poucos cristãos, caso que seria de grande vergonha para a cristandade e de grave perigo para toda a Península, concedeu que naquela cidade houvesse quatro conventos da quatro ordens militares existentes no reino de Portugal”.[13]

A concessão do papa não foi levada em consideração, uma vez que, em 1462, numa bula, Pio II ordenava que em Ceuta e Alcácer houvesse conventos das ordens militares portuguesas. Nesta época o infante Don Fernando tinha os mestrados das ordens de Cristo e de Santiago. Este, em nome das ordens se opôs à resolução pontifícia, alegando que os freires não eram obrigados à guerra defensiva.[14]

NOTAS

  1. J. MEYER, «Patronato Real en las Misiones» in Diccionario enciclopédico de historia de la Iglesia, vol. 2, 1105.
  2. Para o estudo da História da Igreja no Brasil, são fundamentais os documentos existentes no ATT, especialmente o fundo sobre a Chancelaria da Ordem de Cristo.
  3. Tudo começou com a reunião de um grupo de canônicos em 1119, chamados a princípio «pobres cavaleiros de Cristo» com a função de defender as pessoas que iam a Jerusalém em peregrinação. Dentre os membros deste grupo, destaca-se o fundador da Ordem Ugo de Payns. “Um dos animadores foi o canônico Ugo de Payns, que em 1128 foi à França em busca de ajuda material e apoio moral (...) foi elaborada uma regra e os membros da nova ordem, porque haviam se instalado próximo ao Santo Sepulcro, foram chamados de Irmãos da Milícia do Templo de Jerusalem.” (Cfr. M. PARISSE, «Le Crociate e la Terra Santa nel XII secolo» in A. VAUCHEZ (a cura di), Storia Del Cristianesimo – Apogeo Del papato de espansione della Cristianità, vol. 5, Borla-Città Nuova, Roma 1997, 298).
    A «Nova Milícia» contava com o apoio de São Bernardo, além de passarem a depender diretamente do Papa, de quem receberam privilégios e o próprio hábito. O sucesso foi imediato e desde o início receberam grandes doações. Com a queda de São João d’Acre em 1291, foram obrigados a abandonarem definitivamente a Terra Santa. A partir daí começa a grande expansão do movimento também no Ocidente: Inglaterra, Itália, Irlanda, Escócia, Espanha, Portugal, e sobretudo, no território francês.
    Em 1305, o rei Felipe, o Belo, começou uma dura perseguição aos templários. Os fatos vão culminar com a extinção dos Templários com a bula «Vox Clamantis», de Clemente V, decretada e proclamada por ocasião do Concílio de Viena, em 1312. Autores, como K. Bihlmeyer e H. Tuechle, bem como Mariano da Alatri são categóricos em afirmar que Felipe, o Belo, agiu daquela forma por inveja da organização e do poder da Ordem e porque desejava para si os seus bens, uma vez que havia uma alta dívida para com os templários.
  4. F. ALMEIDA, História da Igreja em Portugal, vol. 1, Civilização, Porto 1967, pp. 155-156.
  5. Ibidem, p. 149.
  6. Ibidem, 345.
  7. Trata-se de Henrique, o Navegador (1394-1460), também conhecido como o infante D. Henrique. Criou a escola de navegação de Sagres, que possibilitou as grandes descobertas marítimas europeias. Henrique é o terceiro filho de D. João I, é uma figura fundamental nas conquistas portuguesas, que tem início com a conquista de Ceuta em 1415. Outro passo importante na carreira do infante D. Henrique será quando este receberá o título de Administrador e Governador da Ordem de Cristo. “Todas as suas viagens marítimas de cruzadas contra os mouros ou de viagens descobridoras no Oceano Atlântico foram, em grande parte, custeadas pelos rendimentos da Ordem de Cristo e auxiliadas pelos freires desta Milícia”. (A. KUHNEN, A formação da Igreja no Brasil sob o signo da colonização e do Padroado português, de 1500 a 1550, p. 38).
  8. Os membros desta ordem eram basicamente de três classes: clérigos professos (freires), soldados leigos, e simples leigos professos. Entre os superiores temos o Mestre ou Governador (administra as temporalidades) e o Prior (jurisdição espiritual). Existe ainda o Grão-Mestre e o Grão-Prior.
  9. E. HOORNAERT, História da Igreja no Brasil, Tomo 2/1, Paulinas -Vozes, Petrópolis 1977, p. 163.
  10. F. ALMEIDA, Op., cit., p. 348.
  11. A Ordem de Santiago foi confirmada por Nicolau IV em 1288 e observava a regra de Santo Agostinho. A Ordem de Avis é a mais antiga (1181) que seguia a regra de São Bento.
  12. Cfr. A. MILHOU, «La Penisola Iberica», in M. VENARD (a cura di), Storia Del Cristianesimo – Dalla Riforma della Chiesa alla Riforma Protestante, vol. 7, Borla-Città Nuova, Roma 2000, 384.
  13. F. ALMEIDA, Op., cit., p. 348.
  14. Ibidem, p. 349.

BIBLIOGRAFÍA

ALMEIDA F., História da Igreja em Portugal, vol. 1, Civilização, Porto 1967

HOORNAERT, E. História da Igreja no Brasil, Tomo 2/1, Paulinas -Vozes, Petrópolis 1977

KUHNEN, A. A formação da Igreja no Brasil sob o signo da colonização e do Padroado português, de 1500 a 1550

VAUCHEZ A. (a cura di), Storia Del Cristianesimo – Apogeo Del papato de espansione della Cristianità, vol. 5, Borla-Città Nuova, Roma 1997

VENARD M. (a cura di), Storia Del Cristianesimo – Dalla Riforma della Chiesa alla Riforma Protestante, vol. 7, Borla-Città Nuova, Roma 2000

VV.AA. CONGRESSO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA, Missionação Portuguesa e encontro de culturas, 108.


CLEOCIR BONETTI