IBIAPINA, José Antônio de María
Sumario
(Sobral, 1806 – Solânea, 1883) Sacerdote, advogado, evangelizador
PRÓLOGO
A vida de José Antônio de Maria Ibiapina, Pe. Ibiapina como era conhecido, advogado que troca a tribuna do fórum pelos púlpitos da Igreja,[1]apresenta para o seu tempo e para o mundo de hoje uma nova forma de viver o Evangelho. Segundo Pe. Ibiapina a evangelização não se faz somente pela administração dos sacramentos, mas também pelo exercício concreto e prático do amor ao próximo.[2]
Numa região em que a desigualdade era visível e radical, e onde ainda há massas rurais e urbanas que vivem de modo muito precário, o exemplo de Pe. Ibiapina constitui uma lição muito atual. Sua vida e sua obra estão praticamente esquecidas. Entretanto, no tempo em que viveu, poucos homens trabalharam tanto quanto ele, até o esgotamento total, pelo povo pobre, sofrido e oprimido.
A história do maior missionário do nordeste brasileiro foi realizada com desafios, porém de amor e de entrega total aos pobres dentre os pobres. Os 47 anos de vida leiga de Pe. Ibiapina foram com certeza uma preparação providencial para a realização da grande obra e do serviço missionário.[3]
Foi no sítio em Caxangá, subúrbio de Recife, que o Pe. Ibiapina passou três anos de retiro espiritual, meditação e exercícios de piedade.[4]Esta experiência de silêncio e solidão,[5]serviu para avaliar todo o seu passado e para programar o futuro, que se lhe abria num horizonte amplo de vocação cristã, no desejo de colaborar na construção do Reino de Deus entre os homens.
Mergulharemos aqui no túnel do tempo do século XIX,[6]precisamente de 1806-1883. Recordamos que neste tempo de seca e de fome[7], o Padre Mestre Ibiapina criou órfãos pobres para redimi-los da ignorância e da miséria em bem de uma sociedade cristã. Ele deve ser classificado como uma das maiores figuras apostolares do Brasil. Foi de certo o maior que até hoje lutou pelo sertanejo, tanto por um ideal de trabalho quanto pelo amadurecimento da fé. Duplicou o seu apostolado pela religião e pela educação.
Pe. Ibiapina conseguiu organizar com amplitude e beleza uma obra de assistência exemplar. De fato, procurou esclarecer, animar, diminuir dificuldades ao homem do campo que precisasse curar o seu doente, enterrar o seu morto, mudar o seu produto. Daí as capelas, as Igrejas, hospitais, açudes, cemitérios e, sobretudo, as Casas de Caridade.[8]
Todo e qualquer trabalho seja teórico ou prático devemos, antes de tudo, saber em que chão estamos pisando. Dentro deste contexto histórico fixaremos nosso olhar para a terra onde o sol nasce todos os dias e que, por mais sofrimento que se tenha, a esperança continua sendo a chama acesa na vida e no coração do seu povo. Aqui estamos falando de uma região que muitas vezes é esquecida pelos homens, mas que nunca é esquecida por Deus; de uma região que, embora seja seca, brota no coração de seu povo o sonho de dias melhores. Estamos falando da amada região nordestina brasileira.
Acreditamos que no mundo em que vivemos é necessário re-constituir a nossa própria história. E re-constituir a nossa história é saber de onde viemos, quem nós somos, onde estamos e onde queremos chegar. Queremos aqui apresentar o Caminho do Servo de Deus, o Apóstolo do Nordeste. Por isso, não podemos deixar ofuscado dos livros e do coração dos órfãos, das viúvas, do povo de Deus e da Igreja oficial a memória de um homem que viveu somente para servir os pobres. Recordamos aqui as 22 Casas de Caridade.[9]O seu exemplo de vida de Peregrino da Caridade é que nos dá razão suficiente para expor o seu trabalho como Missionário Apostólico.[10]
DADOS BIOGRÁFICOS
José Antônio de Maria Ibiapina nasceu a 5 de Agosto de 1806, em Sobral-CE. Era o terceiro filho ( de um total de oito )[11]do casal Francisco Miguel Pereira e Teresa Maria de Jesus.[12]
A vida do menino «Pereirinha», assim o chamavam, foi marcada pelas mudanças. Quando tinha 10 anos o pai foi chamado para ser tabelião em Icó-CE. De Icó foram para o Crato. Estudou na Vila Jardim. Depois se mudaram para Fortaleza. Vale explicitar que o menino já demonstrava grande inteligência.
Por outro lado, a vida do Jovem foi marcada por lutas e sofrimentos. Com 17 anos ingressou no seminário de Olinda, mas com poucos dias recebeu a notícia da morte de sua mãe. Seu Pai e irmãos se envolveram no movimento republicano Confederação do Equador. Em 1825 o pai foi fuzilado em Fortaleza, o irmão exilado e morto em Fernando de Noronha. Ele teve que assumir e manter financeiramente a família. Resolvidos os problemas mais urgentes, retornou a Pernambuco em companhia de duas irmãs menores.
Somente com 22 anos Ibiapina retornou ao Seminário de Olinda para continuar os estudos. Entretanto, ele permaneceu apenas seis meses e ingressou no Curso de Direito do Recife, concluindo o mesmo em 1832. No ano seguinte, Ibiapina exerceu o cargo de professor substituto de Direito Natural na Faculdade de Olinda, foi eleito Deputado Geral para a legislatura de 1834 a 1837.
Foi no dia 02 de maio de 1834 que o Pe. Ibiapina tomou posse na 3° legislatura da Assembléia Geral Legislativa do Império Brasil,[13]chefe de polícia e nomeado, em dezembro, Juiz de Direito da Comarca de Campo Maior,[14]hoje Quixeramobim-CE,[15]onde conheceu e influenciou Antônio Conselheiro.
Em 1837, Ibiapina voltou para o Recife e resolveu exercer a advocacia. E passou a exercer a profissão em Areia-PB, nos anos de 1838-1839. Depois voltou ao Recife e continuou advogando. Com 44 anos desiludido com os fingimentos, mentiras e traições, e com os abusos e as manobras dos poderosos, retirou-se da vida pública.
Após três anos de muita reza e reflexão, veio a sua grande decisão: trocou a toga de magistrado pela batina. O doutor decide-se pelo sacerdócio. Ele consegue com a ajuda de amigos a permissão do seu bispo, Dom João da Purificação Marques Perdigão, para ordenar-se padre, sem, no entanto se submeter aos exames do seminário.
Foi ordenado padre no dia 26 de julho de 1853. Tinha 47 anos. Logo após a sua ordenação foi nomeado Vigário Geral e provedor do Bispado e professor de eloqüência do Seminário de Olinda. Tais cargos e honrarias não seduziam Ibiapiana. Dizia assim: “O presente e os sucessos ordinários da vida não me impressionam”.[16]
Quando em 1855, eclodiu uma epidemia de cólera no interior, renunciou aos cargos que tinha e disse que o seu lugar era ali, no meio daquele povo abandonado. Foi para lá e nunca mais voltou para a cidade grande. Entrou na vida missionária. Evangelizando, educando e construindo algo concreto para as populações abandonadas do interior nordestino.
Em 08 de dezembro de 1855, por ocasião da celebração do primeiro aniversário do dogma da Imaculada Conceição, Padre Ibiapina alterou o seu nome, trocando o sobrenome Pereira pelo de Maria, passando a ser chamado de Padre José Antônio de Maria Ibiapina.
A sua postura de fé e tenacidade, o fervor missionário e a sua generosidade provocaram homens e mulheres para assumir o culto religioso, de novenas, mês de maio, romarias, procissões de penitência, recitação do terço à noite, da salve rainha ao meio dia e do ofício de Nossa Senhora de madrugada. Para pedir ajuda, organizar coletas e cuidar de enfermos, órfãs, famintos e flagelados.
Durante 20 anos de intensa vida missionária, o Apóstolo da Caridade levou a Palavra de Deus, orientou, aconselhou e uniu o povo, combateu os vícios, deixou em inúmeros lugares um tesouro espiritual e um marco de fé.
Durante as missões no Cariri, Padre Ibiapina inaugurou em 02 de fevereiro de 1865 a Casa de Caridade da vila de Missão Velha. Desse ato participou o jovem Cícero Romão Baptista, na época com vinte anos, que foi fortemente influenciado pela pregação do Padre Ibiapina e pelo seu exemplo de serviço ao povo pobre e humilde.
Através de sua ação missionária Pe. Ibiapina foi revelando a face de um Deus compassivo, terno, misericordioso, que se apieda pela miséria e situação de abandono de seu povo. Evangelizando levou o povo a confiar em suas próprias capacidades. Provocou um surto de «beatos e beatas» que se colocaram a serviço dos pobres que padeciam, vítimas do cólera, da seca, da fome e do abandono.
Durante a revolta de Quebra-Quilos (1874) as autoridades acusaram o Pe. Ibiapina como incentivador, e ele quase foi preso, e não o foi por causa do apoio popular.
Na terrível seca de 1877, foram registradas estas palavras de Padre Ibiapina: “Enquanto tivermos água, haverá para todos. Quando não houver mais, morreremos de sede com eles todos... O programa da Caridade é morrer com os pobres sequiosos e famintos, e não vê-los morrer de sede e de fome. Ė essa a lei fundamental da Caridade”.
Em 1876, quando acometido de doença, ficou paralítico, não podendo se locomover sozinho. Passa então a residir em Santa Fé, na Paraíba. Numa casa humilde, igual a dos pobres da época, ao lado da Casa de Caridade, ele viveu sete anos participando ativamente da vida da comunidade como confessor, conselheiro e administrador de sua obra.
A sua morte ocorreu na manha do dia 19 de fevereiro de 1883. Naquela manhã, antes de expirar, ele ficou possuído de uma extrema alegria, e apontou dizendo: “Maria! La está Maria! La está Maria!”
São inúmeros os fatos extraordinários e as graças alcançadas que se narram do passado e se contam hoje, atribuídos ao Santo Servo de Deus. Onde há santos, há milagres. Fazemos memória aqui o milagre que aconteceu com Luzia Pesinho,[17]parda, casada, moradora na vila de Barbalha paralítica das pernas que por indicação e aconselhamento do Pe. Ibiapina foi tomar banho por três vezes na fonte do Caldas ao por do sol.
IGREJA DO BRASIL NO TEMPO DO PE. IBIAPINA
No início do século XIX a Igreja no Brasil contava apenas com um arcebispado: Salvador-Bahia; seis bispados: Rio de Janeiro, Pernambuco, Maranhão, Pará, Mariana e São Paulo, e as prelazias de Goiás e Cuiabá.[18]Segundo as informações as dioceses eram sufragâneas da Bahia, à exceção do Maranhão e do Pará, que continuavam sob a jurisdição metropolitana de Lisboa.[19]
A vinda da família real em março de 1808 foi um marco também para a Igreja, pois vieram também alguns eclesiásticos. Após a independência o Império declarou-se oficialmente católico, a Santa Sé reconheceu o novo imperador em 15 de abril de 1826, com o breve «Quam intima» de Leão XII. Criou-se as dioceses de Cuiabá e Goiás , em 5 de julho do mesmo ano e, a pedido do imperador, o papa Pio VIII erigiu a nunciatura do Rio de Janeiro em 1829.
Entretanto, a Igreja foi tutelada durante o império através das instituições do Padroado e do beneplácito, os recursos de força ou recursos à coroa. Estas figuras foram juridicamente positivadas na Constituição Brasileira de 1824, que decretava o beneplácito régio como um direito do imperador e não uma concessão pontifícia.[20]
Esta situação pois um forte entrave no desenvolvimento eclesiástico brasileiro, a tal ponto que, ao ser proclamada a república em 1889, a hierarquia católica contava apenas com mais cinco sedes episcopais com relação às que existiam no início do século. O clero secular brasileiro contava então com cerca de 700 sacerdotes, era formado em nove seminários que dependiam mais do estado do que da própria Igreja, devido ao Padroado.[21]
O catolicismo oficial do Império brasileiro foi muito aberto à outras religiões. A abertura econômica de 1808 trouxe alguns imigrantes ao país; já em 1819 surgiu o primeiro edifício de culto não católico no Rio de Janeiro para a comunidade anglicana.
O Período Regencial 1831-1840, foi um dos mais difíceis para a Igreja que esteve à beira de um cisma, devido a liderança do padre Diogo Antônio Feijó, ferrenho nacionalista e impávido reformador da disciplina eclesial. Muitos eclesiásticos participavam na política governamental, como decorrência natural da união entre estado e Igreja.
Os sacerdotes, sendo considerados funcionários imperiais, acabavam identificando-se plenamente com a sociedade patriarcal, estando a serviço desta ou aquela família, onde era-lhes reservado o confortável papel de tios-padres, como os denominou Gilberto Freire. Esta situação explica também a tendência mais conservadora, por outro lado, da maior parte do clero.
Eram comuns as contendas entre o poder secular e o religioso, normalmente as disputas permaneciam em aberto e não chegavam a uma ruptura definitiva. No entanto, a religião colocada ao serviço do estado produziu uma série de paradoxos, como o caráter laicizado do clero português antigo, a pobreza na vida espiritual e intelectual da Igreja, e a debilidade das ordens religiosas durante o período monárquico.
Na segunda metade do século XIX, as leis contra mosteiros e conventos eram algo comum.[22]Além da ideologia anticlerical, foi determinante também o fator econômico, na medida em que as ordens religiosas eram proprietárias de bens e riquezas não tributáveis.
Em 1840, o clero juntamente com a maioridade da população, D. Pedro II subiu ao trono e recebeu a unção Régia do arcebispo primaz em 18 de julho de 1842. O novo monarca era verdadeiramente católico e apresentou candidatos idôneos para o episcopado e manteve boas relações com a Santa Sé.[23]Este período foi de relativa tranquilidade para a Igreja, que contou com bispos mais atuantes, não envolvidos em política.
Os estudiosos da história religiosa do Brasil são de acordo que a partir da segunda metade do século XIX a reforma tendeu a romanizar o catolicismo brasileiro. Esse período, de fato, é classificado como o da romanização. Significa dizer que a Igreja nacional torna-se mais romana, ou seja, perdeu suas características luso-brasileiras para tornar-se mais Europeia, quer dizer, sua força fundamental estava em Roma.[24]
Antes, a força fundamental da Igreja estava na aliança com o governo português, e depois brasileiro, e tinha como característica fundamental a participação do leigo; portanto, uma Igreja laica. Com a romanização, tornou-se uma Igreja clerical e hierarquizada, e o leigo não tinha mais espaço para atuar.
Neste período ainda a Igreja, apesar de se dizer fora e atuar acima da sociedade, sente as transformações, o que demonstra que o seu discurso é ideológico e desempenha uma função na formação social brasileira. Assim, quando inicia o processo de transformação, a Igreja tinha que mudar sua estratégia, só que na nova organização social não existia espaço, ou não era necessário a atuação da Igreja como base de coesão ideológica. O Estado cria outros instrumentos que possibilitam essa coesão, pois nascia a ascensão do liberalismo no Brasil, que tinha como característica fundamental o anticlericalismo.
Em síntese, a Igreja se vê obrigada a cambiar seu projeto diante da formação social brasileira. Se antes era uma Igreja luso-brasileira, e mais tarde nacional, onde a participação do leigo era fundamental, agora terá de se organizar para combater o liberalismo.[25]
De fato na segunda metade do século XIX ocorreu o processo de hierarquização, ou seja, apoiar-se na sede romana. Isto significa que a formação de bispos e padres estava restrita às novas regras ditadas por Roma, distante do povo e do modelo luso-brasileiro. Ė a Igreja que se fecha sobre si para reorganizar-se e reiniciar a luta no campo político. Ė a época dos bispos reformadores.
Ė nesse clima de transformação, que se verifica o nível da sociedade brasileira e da Igreja, que se formarão os nossos personagens. Ibiapina, cearense, nascido em 1806,[26]de origem sobralense, formado em advocacia pela Faculdade de Direito de Pernambuco em 1832.[27]Foi professor, magistrado, advogado e deputado geral na legislatura de 1834/37.[28]Como se sabe, abandonando a vida política, entrou no seminário de Olinda e recebeu as ordens sacras... em 03 de julho de 1853.[29]
Antônio Vieira Mendes Maciel (Antônio Conselheiro) nasceu em 1828, em Quixeramobim, no sertão Cearense. Sua família foi expulsa da região devido à luta com os Araújos, ricos proprietários. Sendo Juiz da Comarca de Quixeramobim, José Antônio de Maria Ibiapina ficou ao lado dos Maciéis por saber que as acusações dos Araújos eram infundadas, pois o que realmente estava por trás era a luta política e pela posse da terra, muito comum no Ceará.[30]
O importante é que ambos viveram o mesmo período histórico e conheceram de perto a miséria que aflige o povo nordestino, e que tem como uma das causas fundamentais o uso e a posse de um dos únicos meios de produção: a terra. Além disso, perceberam a forma injusta de como estava organizada a sociedade, vivenciando e sofrendo as consequências dessa organização.
Conviveram com a decadência da economia do nordeste, além de sofrerem as consequências de uma Igreja que se transforma, diante de uma sociedade em mudança. E esse viver um mesmo período histórico que faz com que haja ligações profundas entre Ibiapina e Conselheiro, e a não adesão ao projeto de romanização os aproxima ainda mais. Projeto elitista que vê o povo como objeto do processo histórico. Estes contribuíram para que o povo se percebesse como construtor de sua história.
Não quero dizer que construíram um projeto alternativo, mas expressar o que estava subjacente à sua ação quando demonstraram a capacidade de organização e atuação do povo, atitudes que vão da construção de uma cacimba à organização de uma comunidade que consegue sobreviver em pleno sertão nordestino, pondo por terra as teses da preguiça e da incapacidade do nordestino, demonstrando, ao contrário, que a utilização indevida dos recursos públicos, a forma de inserção no mercado internacional, além da posse e o uso da terra, são os fatores que explicam a dependência e a pobreza do Nordeste.
HISTÓRIA E VIDA PÚBLICA DO PE. IBIAPINA
Padre Ibiapina é um exemplo de vida para a Igreja hoje que quer ser uma Igreja samaritana e missionária, uma Igreja solidária com todos os deixados à margem da sociedade, excluídos, negados sobretudo na condição de ser gente.
Padre Ibiapina atuou durante 30 anos de sua vida como leigo católico e outros 30 anos como sacerdote. Há, pois, um Ibiapina leigo, pouco conhecido, e um Ibiapina sacerdote.[31]
O doutor Ibiapina foi um eloqüente advogado e defensor dos pobres. Foi professor, juiz de direito,[32]chefe de polícia e deputado federal. Abandonou a brilhante carreira no mundo do Direito e da Política, renunciou a fama, a fortuna e os aplausos para ser o Apóstolo do Nordeste, o Peregrino da Caridade. Foi sem dúvida o maior missionário do povo nordestino. O maior pelas suas viagens missionárias.
Numa época em que não havia estradas, nem meios de transportes, a não ser a pé ou a cavalo, percorreu amplas regiões do Nordeste, Sertão, Seridó, Pajeú, Cariri, Curimataú e do Agreste e do Brejo, desde o Pernambuco até o Piauí. O maior pela originalidade do seu método missionário. O maior pela sintonia entre a sua pregação e a alma nordestina.
Soube aproveitar do espírito comunitário e a prática do mutirão. Fez estas obras sem nenhuma ajuda exterior, tão somente com recursos de uma população muito dispersa e muito pobre. Pode-se dizer que uma coisa inacreditável. Soube despertar energias que ninguém antes dele tinha sido capaz de mobilizar. O maior pela quantidade das obras que deixou. Fez hospitais, cemitérios, igrejas e capelas. Nas regiões secas, fez açudes para aliviar a sede de populações inteiras.
Deixou 22 Casas de Caridade para abrigo de meninas pobres e órfãs. Foram verdadeiros centros de formação: Gravatá do Ibiapina-PE, Mossoró-RN, Santana do Acaraú-CE, Alagoa Nova-PB, Areia-PB, Sobral-CE, Açu-RN, Santa Luzia do Sabugi-PB, Acari-RN, Missão Velha-CE, Pocinhos-PB, Parari-PB, Santa Fé-PB, Crato-CE, Barbalha-CE, Milagres-CE, Souza-PB, Cajazeiras-PB, Bezerros-PE, Trunfo-PE, Cabeceiras-PB e Campina Grande-PB.[33]Nessas Casas as moças eram educadas para a fé, para o exercício dos trabalhos domésticos e para o casamento.
Durante a sua vida o povo o chamava de Padre Mestre e Santo. O processo de beatificação está em curso na Congregação para a Causa dos Santos, no Vaticano. O objetivo do processo canônico é demonstrar que ele praticou as virtudes do Evangelho em grau heroico. Em 18 de fevereiro de 1992, Pe. Ibiapina foi reconhecido por esta congregação como «Servo de Deus».
NOTAS
- ↑ F.S. DE ARAÚJO , Pe. Ibiapina: Peregrino da Caridade, São Paulo 1996, 259.
- ↑ J. COMBLIN , Pe. Ibiapina, São Paulo 2011, 11.
- ↑ Ibidem, 7.
- ↑ F.S. DE ARAÚJO, Pe. Ibiapina: Peregrino da Caridade, 260.
- ↑ A Voz da Religião no Cariri, Período Dominical são os auspícios do Pe. José Antônio de Maria Ibiapina e redação de José Joaquim Telles Marrocos, Anno II Crato- CE, 17 de Agosto de 1870, n. 72.
- ↑ C. MARIZ , Ibiapina, um Apóstolo do Nordeste, João Pessoa 1980, 03.
- ↑ F.S. DE ARAÚJO, Pe. Ibiapina: Peregrino da Caridade, 521.
- ↑ E.L.T. DE CARVALHO, A Missão Ibiapina – A crônica do século XIX escrita por colaboradores e amigos do Padre Mestre atualizada com notas e comentários, Passo Fundo 2008, 11.
- ↑ C. MARIZ , Ibiapina, um Apóstolo do Nordeste, 71.
- ↑ F.S. DE ARAÚJO, Pe. Ibiapina: Peregrino da Caridade, 293.
- ↑ Certidão de Casamento dos Pais do Pe. Ibiapina (fls 129-130).
- ↑ F.S. DE ARAÚJO , Pe. Ibiapina: Peregrino da Caridade, 11.
- ↑ Índice Onomástico dos Anais da Câmera dos deputados Gerais 1826-1889, Vol. 1 e 2, Ed. Senado Federal, Brasília 1978.
- ↑ Nomeação do Dr. José Antônio Pereira Ibiapina ( posteriormente Padre Ibiapina ) como Juiz de Direito de Campo Maior ( antiga Quixeramobim , no estado do Ceará) (fls. 133 a 135).
- ↑ E.L.T. DE CARVALHO, A Missão Ibiapina, 28.
- ↑ C. MARIZ, Ibiapina, um Apóstolo do Nordeste, 03.
- ↑ A Voz da Religião no Cariri, Período Dominical são os auspícios do Pe. José Antônio de Maria Ibiapina e redação de José Joaquim Telles Marrocos, anno I, Crato- CE, domingo 13 de dezembro de 1868, n. 02.
- ↑ Ibidem, 1014.
- ↑ M. BARBOSA, A Igreja no Brasil, Rio de Janeiro 1945, 22.
- ↑ A Constituição afirmava também a exclusividade de culto público à religião católica, ainda que se defendia a consagração do princípio de liberdade de culto. O imperador era considerado o protetor da religião, mediante o juramento constitucional. O Padroado era entendido como o conjunto de privilégios e deveres que correspondiam aos fundadores e sucessores de uma Igreja, capela ou benefício. Entre os privilégios desta instituição, destacava-se o direito de apresentação de bispos, sendo sua nomeação final direito exclusivo da Santa Sé. O padroado era concebido como um dos direitos do estado, derivados da soberania nacional, e os bispos e párocos eram considerados funcionários públicos. O beneplácito ou exequatur era a exigência de ratificação estatal para que pudessem vigorar no país os atos da autoridade eclesiástica. Cf. Eugênio Carlos CALLIOLI, O estado e o fator religioso no Brasil República.
- ↑ J.I. SARANYANA, Teología en América Latina, Vol II/2: De las guerras de independencia hasta finales del siglo XIX ( 1810-1899 ), 1015.
- ↑ Ibidem, 1016.
- ↑ Ibidem, 1017.
- ↑ G. DESROCHERS – E. HOONAERT, Pe. Ibiapina e a Igreja dos Pobres, São Paulo 1984, 48.
- ↑ Ibidem, 49.
- ↑ F.S. DE ARAÚJO, Pe. Ibiapina: Peregrino da Caridade, 33.
- ↑ C. MARIZ, Ibiapina, um Apóstolo do Nordeste, 13.
- ↑ Índice Onomástico dos Anais da Câmera dos deputados Gerais 1826-1889, Vol. 1 e 2, Ed. Senado Federal, Brasília, 1978.
- ↑ F. S. DE ARAÚJO, Pe. Ibiapina: Peregrino da Caridade, 271.
- ↑ G. DESROCHERS – E. HOONAERT, Pe. Ibiapina e a Igreja dos Pobres, 49.
- ↑ F.S. DE ARAÚJO, Pe. Ibiapina: Peregrino da Caridade, 270.
- ↑ Ibidem, 190.
- ↑ C. MARIZ, Ibiapina, um Apóstolo do Nordeste, 68.
BIBLIOGRAFÍA
BARBOSA M., A Igreja no Brasil, Rio de Janeiro.1945
CALLIOLI Eugênio Carlos, O estado e o fator religioso no Brasil República. Edizioni Università della Santa Croce. Roma 2001
COMBLIN J., Pe. Ibiapina, São Paulo 2011
DE ARAÚJO F.S., Pe. Ibiapina: Peregrino da Caridade, São Paulo 1996
DE CARVALHO E.L.T., A Missão Ibiapina – A crônica do século XIX escrita por colaboradores e amigos do Padre Mestre atualizada com notas e comentários, Passo Fundo 2008
DESROCHERS G. –HOONAERT E., Pe. Ibiapina e a Igreja dos Pobres, São Paulo 1984
Índice Onomástico dos Anais da Câmera dos deputados Gerais 1826-1889, Vol. 1 e 2, Ed. Senado Federal, Brasília 1978
MARIZ C. , Ibiapina, um Apóstolo do Nordeste, João Pessoa 1980
SARANYANA J.I., Teología en América Latina, Vol II/2: De las guerras de independencia hasta finales del siglo XIX ( 1810-1899 ). Ed. Iberoamericana, Univ. De Navarra. Madrid 2008
ADALTO VIEIRA DOS SANTOS FILHO