Diferencia entre revisiones de «ÁLVAREZ CABRAL; chegada ao Brasil»
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O interesse maior esteve sobre a exploração do pau-brasil. Calmon escreve que o Brasil foi concedido pelo rei ao mercador Fernando de Loronha (Noronha) para explorar o pau-brasil que começa a ser muito apreciado na Europa.<ref>P. CALMON, História do Brasil, 94.</ref> | O interesse maior esteve sobre a exploração do pau-brasil. Calmon escreve que o Brasil foi concedido pelo rei ao mercador Fernando de Loronha (Noronha) para explorar o pau-brasil que começa a ser muito apreciado na Europa.<ref>P. CALMON, História do Brasil, 94.</ref> | ||
− | Ainda no tempo de D. Manuel, houve a tentativa de colonizar o Brasil com algumas feitorias,<ref>Estas feitorias eram sobretudo ligadas a exploração do pau-brasil, resgate de alguns indígenas e escassos engenhos de açúcar. As Feitorias foram a primeira tentativa de conquistar a terra.</ref>destacamos a de Porto Seguro, Igaraçú, Itamaracá, e São Vicente, mas a documentação sobre estas é escassa. Sobre a presença de capelães nestas também é incerto. Quanto a Igaraçu, Itamaracá e Porto Seguro, existem notícias que aí havia igrejas e capelães. | + | Ainda no tempo de D. Manuel, houve a tentativa de colonizar o Brasil com algumas feitorias,<ref>Estas feitorias eram sobretudo ligadas a exploração do pau-brasil, resgate de alguns indígenas e escassos engenhos de açúcar. As Feitorias foram a primeira tentativa de conquistar a terra.</ref>destacamos a de Porto Seguro, Igaraçú, Itamaracá, e São Vicente, mas a documentação sobre estas é escassa. Sobre a presença de capelães nestas também é incerto. Quanto a Igaraçu, Itamaracá e Porto Seguro, existem notícias que aí havia igrejas e capelães.<ref>Cfr. A. RUBERT, A Igreja no Brasil – Origem e Desenvolvimento, 43-44.</ref> |
− | No que diz respeito à presença de capelães nas embarcações que chegam ao Brasil, temos algumas vagas notícias. A presença de capelães nas expedições era um costume, mas a falta de documentação nos impede de fazer afirmações. Com relação às expedições de Américo Vespúcio, Gonçalo Coelho, Fernão de Loronha e assim como outras de reconhecimento da costa e de interesse comercial, apenas alguma levou capelão, como atesta uma certidão de 20 de maio de 1503 na expedição de Gonçalo Coelho que diz «batizou muitos». | + | No que diz respeito à presença de capelães nas embarcações que chegam ao Brasil, temos algumas vagas notícias. A presença de capelães nas expedições era um costume, mas a falta de documentação nos impede de fazer afirmações. Com relação às expedições de Américo Vespúcio, Gonçalo Coelho, Fernão de Loronha e assim como outras de reconhecimento da costa e de interesse comercial, apenas alguma levou capelão, como atesta uma certidão de 20 de maio de 1503 na expedição de Gonçalo Coelho que diz «batizou muitos».<ref>Cfr. A. RUBERT, A Igreja no Brasil – Origem e Desenvolvimento, 42.</ref> |
Os dois padres que exerceram por alguns meses o ministério nas costas brasileiras foram o padre Francisco Garcia, espanhol, e o padre Francisco de Lemos, português, ambos seculares. Batizaram os mamelucos, ou seja, filhos de europeus com as índias que encontravam nas pequenas feitorias. | Os dois padres que exerceram por alguns meses o ministério nas costas brasileiras foram o padre Francisco Garcia, espanhol, e o padre Francisco de Lemos, português, ambos seculares. Batizaram os mamelucos, ou seja, filhos de europeus com as índias que encontravam nas pequenas feitorias. | ||
− | No período que vai de 1500 a 1530, muitos historiadores chamam de fase do «pau-brasil», em que o contato com o Brasil tinha o objetivo de extrair o pau-brasil tendo os nativos como força de trabalho para o corte e o transporte. “Passados trinta anos após seu descobrimento, A Terra de Santa Cruz só rara e esporadicamente foi alvo de atenção por parte da Coroa portuguesa”. | + | No período que vai de 1500 a 1530, muitos historiadores chamam de fase do «pau-brasil», em que o contato com o Brasil tinha o objetivo de extrair o pau-brasil tendo os nativos como força de trabalho para o corte e o transporte. “Passados trinta anos após seu descobrimento, A Terra de Santa Cruz só rara e esporadicamente foi alvo de atenção por parte da Coroa portuguesa”.<ref>O. J. DE OLIVEIRA FILHO, «O Marinheiro Lacônico: o diário da navegação, de Pero Lopes de Sousa», in MARIA LUISA CUSATI (a cura di), Il Portogallo e i mari: un incontro tra culture, 447.</ref> |
− | “No período que vai do descobrimento à fundação das Capitanias hereditárias, eram poucos os brancos que se aventuravam a fixar-se por mais tempo no Brasil. E para dizer a verdade, elementos não selecionados. Abundavam os desterrados, os fugitivos, os aventureiros, além de alguns náufragos e outros que se demoravam na terra por razões comerciais, nomeadamente do pau-brasil, e pela fundação dos primeiros engenhos-de-açúcar”. | + | “No período que vai do descobrimento à fundação das Capitanias hereditárias, eram poucos os brancos que se aventuravam a fixar-se por mais tempo no Brasil. E para dizer a verdade, elementos não selecionados. Abundavam os desterrados, os fugitivos, os aventureiros, além de alguns náufragos e outros que se demoravam na terra por razões comerciais, nomeadamente do pau-brasil, e pela fundação dos primeiros engenhos-de-açúcar”.<ref>A. RUBERT, A Igreja no Brasil – Origem e Desenvolvimento, 39.</ref> |
− | Vianna escreve que, em base a novos estudos e provas documentais, não se pode dizer hoje que o Brasil tenha sido abandonado no primeiro terço do século XVI, pois como afirmou Capistrano de Abreu a respeito das armadas que chegaram ao Brasil neste tempo “foi por elas que as comunicações se tornaram freqüentes e as relações quase regulares com a Europa; que se desenvolveu desde o princípio um comércio relativamente importante; que nunca foi de todo descurada a terra achada por Cabral.” | + | Vianna escreve que, em base a novos estudos e provas documentais, não se pode dizer hoje que o Brasil tenha sido abandonado no primeiro terço do século XVI, pois como afirmou Capistrano de Abreu a respeito das armadas que chegaram ao Brasil neste tempo “foi por elas que as comunicações se tornaram freqüentes e as relações quase regulares com a Europa; que se desenvolveu desde o princípio um comércio relativamente importante; que nunca foi de todo descurada a terra achada por Cabral.”<ref>H. VIANNA, História do Brasil, 50.</ref> |
Uma das preocupações da Coroa era o comércio clandestino de pau-brasil feito pelos franceses. O povoamento da terra se mostrava fundamental. Em 1530 Martim Afonso de Souza, recebe a incumbência de colonizar e povoar o território brasileiro. Foi neste primeiro contingente colonizador que veio aquele que será o primeiro sacerdote que se fixou no Brasil, o padre Gonçalo Monteiro. | Uma das preocupações da Coroa era o comércio clandestino de pau-brasil feito pelos franceses. O povoamento da terra se mostrava fundamental. Em 1530 Martim Afonso de Souza, recebe a incumbência de colonizar e povoar o território brasileiro. Foi neste primeiro contingente colonizador que veio aquele que será o primeiro sacerdote que se fixou no Brasil, o padre Gonçalo Monteiro. |
Revisión del 23:33 24 may 2018
Sumario
Introdução
Pedro Álvarez Cabral era um navegador português de família nobre; nasce provavelmente em torno aos anos de 1467 e 1468, na cidade de Belmonte. Casou-se com D. Isabel de Castro e teve dois filhos: António Cabral e Fernão Álvares Cabral. Após o retorno da expedição de Vasco da Gama em 1498, o rei Don Manuel I, o Venturoso, em 1500 confia a Cabral uma expedição comercial que teria como destino a Índia.[1]
Era domingo, 8 de março de 1500, quando houve a missa solene em Nossa Senhora de Belém no Rastelo, à margem direita do Tejo, com a presença do rei e de outras personalidades. Ao lado do altar, a presença da bandeira da Ordem de Cristo. No dia seguinte, 9 de março, partem as treze embarcações dentre as quais “naus, navios e caravelas” rumo ao que Alvaro Huerga chama de descobrimento do «Novus Orbis».[2]
O número de pessoas que foram variam entre 1200 e 1500, embarcados em 13 caravelas. Entre os personagens conhecidos pelas viagens marítimas, temos Nicolau Coelho (que havia a pouco retornado da expedição com Vasco da Gama), Bartolomeu Dias (descobridor do Cabo da Boa Esperança) e seu irmão Diogo. Um nome muito conhecido será o de Pero Vaz de Caminha que era um dos cronistas oficiais da viagem.
Será Caminha que escreverá uma das principais fontes de informação da viagem ao então desconhecido Brasil.
O empreendimento é cristão, portanto, fazem parte destes 17 clérigos, sendo 8 franciscanos e 9 padres seculares. Frei Henrique de Coimbra era o superior dos franciscanos que acompanhavam Pedro Álvares Cabral, e os padres seculares tinham à frente o vigário destinado a Calicute.[3]
Com relação a chegada intencional ou não ao Brasil,[4]ainda hoje é matéria de discussão. Para alguns historiadores, Cabral foi enviado para «descobrir oficialmente» o Brasil. Mas existe a tendência de aceitar que “a terra ainda não era descoberta”.[5]Encontramos unanimidade com relação a data do descobrimento: 22 de abril de 1500, como escrito na carta de Pero Vaz de Caminha enviou ao rei.
Carta de Pero Vaz de Caminha e Primeira Missa
Carta de Pero Vaz de Caminha;[6]dita por alguns como a “cédula de nascimento desse novo e grande país”,[7]“exemplar único”,[8]“precioso e insubstituível documento histórico”,[9]“certidão de batismo”. A carta de Caminha, de 27 páginas com data de 1° de maio de 1500, faz um relato minucioso do que aconteceu durante os dias que a esquadra permaneceu na costa brasileira.
Traz nesta Carta uma riqueza muito grande de detalhes que, segundo Vianna, não se encontra no texto “informação que possa ser considerada supérflua”. A Carta nos narra de modo detalhado como foi realizada a primeira missa no Brasil, no dia 26 de abril, rezada pelo Frei Henrique de Coimbra:
“Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu. E mandou a todos os Capitães que se arranjassem nos batéis e fôssem com êle. E assim foi feito. Mandou armar um pavilhão naquele ilhéu, e dentro levantar um altar mui bem arranjado. E ali com todos nós outros fêz dizer a missa, a qual disse o Padre Frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros Padres e Sacerdotes que todos assistiram, a qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e devoção. Ali estava com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saíra de Belém, a qual estêve sempre alta, da parte do Evangelho”.[10]
A primeira missa no continente, em terra firme, foi feita no dia 1° de maio de 1500, numa sexta-feira, festa dos apóstolos São Tiago Maior e São Felipe. Significativo o que nos diz a carta de Caminha sobre isto:
“Plantada a cruz, com as armas e a divisa de Vossa Alteza, que primeiro lhe haviam pregado, aramaram altar ao pé dela. Ali disse missa o Padre Frei Henrique, a qual foi cantada e oficiada por êsses já ditos. Ali estiveram conosco, [assistindo] a ela, perto de cinqüenta ou sessenta dêles, assentados todos de joelho assim como nós. E quando se veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé com as mãos levantadas, êles se levantaram conosco, e alçaram as mãos, estando assim até se chegar ao fim; e então tornaram-se a assentar como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, êles se puseram todos assim tomo nós estávamos com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados que certifico a Vossa Alteza que nos fêz muita devoção”.[11]
Foi assim que a Terra de Vera Cruz acolheu a fé católica. Depois será chamada «Terra de Santa Cruz» e «Brasil».[12]Este último por causa de uma árvore cor de brasa, chamada pau-brasil, apreciada nas tinturarias e tecelagens da Europa. Por causa do comércio desta madeira, passou definitivamente a se chamar Brasil.[13]
Pelas informações da Carta de Caminha, permanecem no Brasil 4 homens. “Creio, Senhor, que com estes dois degredados que aqui ficam, ficarão mais dois grumetes, que esta noite se saíram em terra, desta nau, no esquife, fugidos, os quais não vieram mais. E cremos que ficarão aqui porque de manhã, prazendo a Deus, fazemos nossa partida daqui”.[14]
No dia 2 de maio de 1500, Pedro Álvares Cabral deixa a terra de Vera Cruz e envia uma embarcação a Lisboa com a notícia do descobrimento. Retomou seu trajeto para a Índia passando pela costa sul da África até chegar a Calicute. Estabeleceu relações comerciais com Samorim (Senhor do Mar) retornando a Lisboa em 1501.
Depois de desentendimentos com o rei Manuel I se exilou voluntariamente. O ano de sua morte non é certo, mas os documentos apontam o ano de 1520. “Pedro Álvares foi sepultado em Santarém na Igreja da Graça, que então pertencia ao convento dos gracianos”.[15]
Tivemos outras expedições ao Brasil como a de 1501, que dos últimos estudos diz ter sido capitaneada por Gaspar de Lemos com a presença do florentino Américo Vespúcio. Outra expedição que podemos citar é a de 1503, que em algumas fontes apresenta Gonzalo Coelho como comandante. Em consequência desta viagem, Fernão de Noronha, em 1504, receberá de D. Manuel I a Ilha de São João, que será a primeira «Capitania Hereditária» do Brasil. Outras foram as expedições de reconhecimento, de exploração do pau-brasil e de passagem para a Índia.
Primeiro contato com os índios
O primeiro testemunho sobre os índios do Brasil,[16]temos na Carta de Pero Vaz de Caminha:[17]
“E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro. [...] E o Capitão mandou em terra a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou a ir-se para lá, acudiram pela praia homens, aos dois e aos três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, já lá estavam dezoito ou vinte. Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas.
Traziam arcos nas mãos, e suas setas. Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram. Mas não pôde de eles haver fala nem entendimento que aproveitasse, pôr o mar quebrar na costa. Somente arremessou-lhes um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um dêles lhe arremessou um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma capazinha pequena de penas vermelhas e pardas como de papagaio”.[18]
Para os escritores do Comissão para o Estudo da História da Igreja Latino-Americana (CEHILA), com a Carta de Caminha “instaura-se uma tradição paradisíaca e idílica acerca do Brasil, de seu clima, de seus habitantes”.[19]Sobre essa visão, Daniela Barca apresenta a inocência dos índios brasileiros a partir de quatro narrativas de viagens do século XVI:
«Carta do achamento» de Pero Vaz de Caminha (viagem de 1500 de Cabral); «Letras de Viagem» de Américo Vespúcio (viagem de 1501); «Relação da primeira viagem ao redor do mundo», de Antonio Pigafetta (escala da expedição de Magellano); «Náufragos e peregrinações americanas» de Gaspar Afonso (relações de Gaspar Afonso, náufrago nas costas brasileiras em 1596).[20]
Com relação a questão de fé ou religião dos índios encontrados, Caminha escreve ao rei D. Manuel: “Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e êles a nossa, seriam logo cristãos, visto que nâo têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. E portanto, se os degredados que aqui hão de ficar, aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido que êles, segundo a santa tenção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque certamente, esta gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-á facilmente nêles qualquer cunho que lhes quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons. E o Êle nos para aqui trazer, creio que no foi sem causa. E, portanto, Vossa Alteza, pois tanto deseja acrescentar a santa fé católica, deve cuidar da salvação dêles. E prazerá a Deus que com pouco trabalho seja assim!”.[21]
Depois da descoberta, esquecimento do Brasil?
Com resultados mais promissores, Portugal investiu mais recursos de ordem e espiritual e temporal na Índia, e o Brasil ficou praticamente esquecido. A partir do momento que embarcações estrangeiras começaram a rondar a costa brasileira,[22]D. Manuel procurou mostrar quem tinha soberania no Atlântico sul.[23]
O interesse maior esteve sobre a exploração do pau-brasil. Calmon escreve que o Brasil foi concedido pelo rei ao mercador Fernando de Loronha (Noronha) para explorar o pau-brasil que começa a ser muito apreciado na Europa.[24]
Ainda no tempo de D. Manuel, houve a tentativa de colonizar o Brasil com algumas feitorias,[25]destacamos a de Porto Seguro, Igaraçú, Itamaracá, e São Vicente, mas a documentação sobre estas é escassa. Sobre a presença de capelães nestas também é incerto. Quanto a Igaraçu, Itamaracá e Porto Seguro, existem notícias que aí havia igrejas e capelães.[26]
No que diz respeito à presença de capelães nas embarcações que chegam ao Brasil, temos algumas vagas notícias. A presença de capelães nas expedições era um costume, mas a falta de documentação nos impede de fazer afirmações. Com relação às expedições de Américo Vespúcio, Gonçalo Coelho, Fernão de Loronha e assim como outras de reconhecimento da costa e de interesse comercial, apenas alguma levou capelão, como atesta uma certidão de 20 de maio de 1503 na expedição de Gonçalo Coelho que diz «batizou muitos».[27]
Os dois padres que exerceram por alguns meses o ministério nas costas brasileiras foram o padre Francisco Garcia, espanhol, e o padre Francisco de Lemos, português, ambos seculares. Batizaram os mamelucos, ou seja, filhos de europeus com as índias que encontravam nas pequenas feitorias. No período que vai de 1500 a 1530, muitos historiadores chamam de fase do «pau-brasil», em que o contato com o Brasil tinha o objetivo de extrair o pau-brasil tendo os nativos como força de trabalho para o corte e o transporte. “Passados trinta anos após seu descobrimento, A Terra de Santa Cruz só rara e esporadicamente foi alvo de atenção por parte da Coroa portuguesa”.[28]
“No período que vai do descobrimento à fundação das Capitanias hereditárias, eram poucos os brancos que se aventuravam a fixar-se por mais tempo no Brasil. E para dizer a verdade, elementos não selecionados. Abundavam os desterrados, os fugitivos, os aventureiros, além de alguns náufragos e outros que se demoravam na terra por razões comerciais, nomeadamente do pau-brasil, e pela fundação dos primeiros engenhos-de-açúcar”.[29]
Vianna escreve que, em base a novos estudos e provas documentais, não se pode dizer hoje que o Brasil tenha sido abandonado no primeiro terço do século XVI, pois como afirmou Capistrano de Abreu a respeito das armadas que chegaram ao Brasil neste tempo “foi por elas que as comunicações se tornaram freqüentes e as relações quase regulares com a Europa; que se desenvolveu desde o princípio um comércio relativamente importante; que nunca foi de todo descurada a terra achada por Cabral.”[30]
Uma das preocupações da Coroa era o comércio clandestino de pau-brasil feito pelos franceses. O povoamento da terra se mostrava fundamental. Em 1530 Martim Afonso de Souza, recebe a incumbência de colonizar e povoar o território brasileiro. Foi neste primeiro contingente colonizador que veio aquele que será o primeiro sacerdote que se fixou no Brasil, o padre Gonçalo Monteiro.
Será Martim Afonso o responsável pela fundação da primeira vila no Brasil chamada São Vicente, em janeiro de 1532. Começou de forma intensiva a cultura da cana de açúcar já cultivada na ilha de Madeira, começa assim a chamada «fase do açúcar».
Martim Afonso recebeu amplos poderes, entre eles o de conceder as «Sesmarias» às pessoas que levasse e a outras que quisessem permanecer na terra. Segundo seu irmão no «Diário da Navegação» de Pero Lopes de Sousa relata:
“A todos nos pareceu tão bem esta terra, que o Capitão irmão determinou de a povoar, e deu a todos os homens terras para fazerem fazendas; e fez uma vila na Ilha de São Vicente e outra nove léguas dentro pelo sertão, à borda de um rio que se chama Piratininga; e repartiu a gente nestas duas vilas e fez nelas oficiais; e pôs tudo em boa obra de justiça, de que a gente tomou muita consolação, com verem povoar vilas e ter leis e sacrifícios, e celebrar matrimônios, e viverem em comunicação das artes; e ser cada um senhor do seu; e vestir as injúrias particulares; e ter todos os outros bens da vida segura e conversável”.
NOTAS
- ↑ A. RUBERT, A Igreja no Brasil – Origem e Desenvolvimento, 31.
- ↑ A. HUERGA, «Fray Luis de Granada, promotor e testigo de la evangelización portuguesa» in CONGRESSO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA, Missionação Portuguesa e encontro de culturas vol. 1, Barbosa & Xavier, Braga 1993, 303.
- ↑ «A esquadra de Cabral, navegando muito a oriente, avistou terra e nela aportou»
- ↑ A teoria da intencionalidade foi defendida pelos históricos Varnhagen e Capistrano de Abreu, enquantot que a teoria da descoberta casual encontrou no historiador Tomás Marcondes de Souza o mais ativo defensor. A. RUBERT, A Igreja no Brasil – Origem e Desenvolvimento, 33.
- ↑ Cfr. L. ALBUQUERQUE, Navegadores, viajantes e aventureiros portugueses, Sécs. XV e XVI, vol. 1, Printer, Lisboa 1987, 136.
- ↑ Por cerca três séculos esta carta estivera perdida. Foi quando em fevereiro de 1773 o guardamor do ATT José Seabra a redescobriu. A carta foi publicada pela primira vez em 1817 pelo padre Aires do Casal.
- ↑ L. ALBUQUERQUE, Navegadores, viajantes e aventureiros portugueses, Sécs. XV e XVI, 136.
- ↑ Ibidem, 136.
- ↑ H. VIANNA, História do Brasil, 45.
- ↑ P. CALMON História do Brasil, 71.
- ↑ P. CALMON, História do Brasil, 81.
- ↑ O nome Brasil já aparece em alguns documentos em 1507. Em mapas aparece pela primeira vez no planisfério Orbis Typus Universalis Tabula, publicado em Veneza por Jerônimo Marini em 1512
- ↑ Cfr. A. RUBERT, A Igreja no Brasil – Origem e Desenvolvimento, 36.
- ↑ P. CALMON, História do Brasil, 82.
- ↑ J. CORTESÃO, A expedição de Pedro Álvares Cabral e o descobrimento do Brasil, Portugália, Lisboa 1967, 76.
- ↑ O grupo dos índios, que mais teve contato com os portugueses nas duas primeiras décadas do descobrimento foram os da família lingüística tupi-guarani. O principal grupo tupi na região onde foi estabelecida a capitania da Bahia era o tupinambá com uma economia de subsistência e autoconsumo.
- ↑ Na expedição de Cabral tem o trabalho de redigir um relatório fiel e rigoroso das novas descobertas.
- ↑ P. CALMON, História do Brasil, 65-66.
- ↑ E. HOORNAERT, História da Igreja no Brasil, 27.
- ↑ Cfr. D. BARCA, «L’‘Estado da Inocência’ degli índios brasiliani in alcune relazioni di viaggio del XVI secolo», in MARIA LUISA CUSATI (a cura di), Il Portogallo e i mari: un incontro tra culture, Liguori, vol. 1, Napoli 1997, 286.
- ↑ P. CALMON, História do Brasil, 80.
- ↑ A Coroa portuguesa temia a invasão do território descoberto pois francese, ingleses, olandeses eram ameaças até porque não estvam dentro do Tratado de Tordesilhas, a costa era ameçada também por piratas e contrabandistas.
- ↑ Cfr. A. RUBERT, A Igreja no Brasil – Origem e Desenvolvimento, 39.
- ↑ P. CALMON, História do Brasil, 94.
- ↑ Estas feitorias eram sobretudo ligadas a exploração do pau-brasil, resgate de alguns indígenas e escassos engenhos de açúcar. As Feitorias foram a primeira tentativa de conquistar a terra.
- ↑ Cfr. A. RUBERT, A Igreja no Brasil – Origem e Desenvolvimento, 43-44.
- ↑ Cfr. A. RUBERT, A Igreja no Brasil – Origem e Desenvolvimento, 42.
- ↑ O. J. DE OLIVEIRA FILHO, «O Marinheiro Lacônico: o diário da navegação, de Pero Lopes de Sousa», in MARIA LUISA CUSATI (a cura di), Il Portogallo e i mari: un incontro tra culture, 447.
- ↑ A. RUBERT, A Igreja no Brasil – Origem e Desenvolvimento, 39.
- ↑ H. VIANNA, História do Brasil, 50.