Diferencia entre revisiones de «CEARÁ; Sua história eclesiástica»

De Dicionário de História Cultural de la Iglesía en América Latina
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Os aldeamentos indígenas foram desaparecendo no final do século XVIII, a missão significava conversão e pacificação dos índios, para dominação do território e ordem social. Os índios que não se adaptaram foram expulsos ou eliminados. Com a criação da vila do Crato, e o crescimento da comunidade, criava-se uma tensão entre corpo social colonial e a estrutura de comunidade indígena, uma ameaça recíproca.  
 
Os aldeamentos indígenas foram desaparecendo no final do século XVIII, a missão significava conversão e pacificação dos índios, para dominação do território e ordem social. Os índios que não se adaptaram foram expulsos ou eliminados. Com a criação da vila do Crato, e o crescimento da comunidade, criava-se uma tensão entre corpo social colonial e a estrutura de comunidade indígena, uma ameaça recíproca.  
  
Com o enfraquecimento das comunidades indígenas, pouco tempo depois foram expulsos para a região de Arronches (Parangaba).<ref>J. FIGUEIREDO FILHO & I. PINHEIRO, ''Cidade do Crato,'' Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 1965, p. 30</ref>Em 1783, a Vila real do Crato era classificada pelo Governador Montaury, entre as sete vilas de brancos existentes na Capitania do Cearà Grande, além do Crato, as vilas de Fortaleza, Aquiraz, Santa Cruz do Aracati, Icó e Sobral. A capitania no final do século XVIII era composta por cinco vilas de índios, vinte e uma povoações de brancos e três povoações de índios.<ref>C. RAMIRO JUCA NETO. Primórdios da rede urbana cearense, in: Mercator, Revista de Geografia da UFC, ano 8, n. 16, 2009, p. 91.</ref>Neste cenário foram construídos os primeiros templos.
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Com o enfraquecimento das comunidades indígenas, pouco tempo depois foram expulsos para a região de Arronches (Parangaba).<ref>J. FIGUEIREDO FILHO & I. PINHEIRO, ''Cidade do Crato,'' Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 1965, p. 30</ref>Em 1783, a Vila real do Crato era classificada pelo Governador Montaury, entre as sete vilas de brancos existentes na Capitania do Cearà Grande, além do Crato, as vilas de Fortaleza, Aquiraz, Santa Cruz do Aracati, Icó e Sobral. A capitania no final do século XVIII era composta por cinco vilas de índios, vinte e uma povoações de brancos e três povoações de índios.<ref>C. RAMIRO JUCA NETO. ''Primórdios da rede urbana cearense,'' in: Mercator, Revista de Geografia da UFC, ano 8, n. 16, 2009, p. 91.</ref>Neste cenário foram construídos os primeiros templos.
  
“''No Cearà, nos tempos coloniais, nos arraiais e aldeias, erguiam, logo, a capelinha em que celebravam missas, batizavam, casavam, encomendavam e enterravam os que morriam. Defronte, no patamar fincavam uma grande cruz, o cruzeiro, quase sempre de amago de aroeira, tão vermelho que parece pintado. Com o decorrer do tempo, torna-se escura e bela cor escarlate da utilíssima arvore''.”<ref>J. FIGUEIREDO FILHO – I. PINHEIRO, Cidade do Crato, MEC, Rio de Janeiro, 1955</ref>
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“''No Cearà, nos tempos coloniais, nos arraiais e aldeias, erguiam, logo, a capelinha em que celebravam missas, batizavam, casavam, encomendavam e enterravam os que morriam. Defronte, no patamar fincavam uma grande cruz, o cruzeiro, quase sempre de amago de aroeira, tão vermelho que parece pintado. Com o decorrer do tempo, torna-se escura e bela cor escarlate da utilíssima arvore''.”<ref>J. FIGUEIREDO FILHO – I. PINHEIRO, ''Cidade do Crato'', MEC, Rio de Janeiro, 1955</ref>
  
 
Mesmo com o cuidado que os missionários tiveram de construir as capelas de acordo com as normas vigentes no período, desde as indicações do sínodo da Bahia, todavia na maioria dos casos não tiveram muita duração devido ao material utilizado de acordo com as construções típicas da região, por isso muitas foram reconstruídas.  
 
Mesmo com o cuidado que os missionários tiveram de construir as capelas de acordo com as normas vigentes no período, desde as indicações do sínodo da Bahia, todavia na maioria dos casos não tiveram muita duração devido ao material utilizado de acordo com as construções típicas da região, por isso muitas foram reconstruídas.  

Revisión del 19:06 26 may 2018

INTRODUÇÃO

A organização da Igreja na Capitania do Ceará teve desenvolvimento no século XVII sob as missões do bispado de Olinda. Em 1614 foi criada a prelazia de Pernambuco, através da Bula «Fasti novi orbis» do Papa Paulo V, dez anos depois se tornou sufragânea da Diocese Primaz da Bahia com o Papa Urbano VIII. Em 16 de Novembro de 1676 o Papa Inocêncio XI elevou a prelazia de Pernambuco com sede em Olinda à categoria de diocese através da Bula «ad Sacram Beati Petri sedem».

Até 1854 o Cearà pertenceu à diocese do Pernambuco. Em 1713 foi criada a primeira freguesia no Ceará em Aquiraz em 1713 na região litorânea da Capitania. Os séculos XVIII e XIX tiveram uma grande relevância na formação religiosa no Cearà. Neste período se destaca a missão dos capuchinhos no Sul do estado.

No século seguinte as missões no Cariri tiveram grande impulso com diversos eventos, aos quais citamos alguns: a criação das ermidas e capelas seguidas das primeiras paróquias no Cearà; as missões do Padre Ibiapina com a instrução do laicato e a promoção social em meados do seculo XIX; as missões do Padre Cicero Romão Baptista com a promoção social e a fé popular no Joazeiro; as visitas pastorais dos primeiros bispos da Diocese do Cearà, Dom Luis, Dom Joaquim e Dom Manuel; a chegada da Sociedade de São Vicente de Paulo; a construção do Seminario Diocesano no Crato-Sucursal do Seminário de Fortaleza e a formação promovida pelos Lazaristas.

Dito isto, reconheçamos que a criação da segunda diocese no Ceará em Crato foi o resultado de um processo de preparação e estruturação que se confunde com o inicio da história eclesiástica no Ceará, e que no inicio do século XX foi fomentada pela sociedade local e de modo particular por eclesiasticos, entre os quais, tiveram um papel fundamental o Núncio Apostólico D. José Avessa, o bispo de Fortaleza Dom Manuel e o Monsenhor Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva Vigário da Freguesia de Nossa Senhora da Penha do Crato.

A CONTRIBUICÃO DAS MISSÕES

As missões no Brasil começaram com a presença dos franciscanos, mas historicamente as três primeiras décadas compoem um período ainda obscuro com poucas documentações. 40 anos após a primeira Missa no Brasil, o rei de Portugal, João III, enviou os primeiros Jesuítas,[1]que chegaram em 1549 guiados pelo Padre Miguel de Nobrega. Em 1554, os jesuítas fundaram a cidade de São Paulo e atè 1584 criaram três colégios, em Pernambuco, na Bahia e no Rio de Janeiro, e mais cinco residências.

Os carmelitanos chegaram ao Brasil em 1580 e se estabeleceram em Olinda, se difundiram também para outras regiões.[2]Além dos carmelitanos, vieram também os beneditinos em 1581. Os franciscanos, que celebraram a primeira missa, fundaram o seu primeiro convento muitos anos depois em 1584, em Olinda. Nesta mesma cidade, também chegaram os carmelitanos descalços em 1615 e instalaram também um convento. Em 1640, foi a vez dos mercedários chegarem ao Brasil e se estabeleceram no Parà, depois se estendendo também para o Maranhão em 1664. As congregações femininas começam a surgir em 1669 com a chegada das franciscanas clarissas a Bahia.

Em 6 de Janeiro de 1622 o Papa Gregório XV criou a «Congregação da Propaganda Fide», em 14 de Junho a Congregação teve sua primeira reunião para enviar a comunicação do novo Dicasterio para as nunciaturas apostólicas. O Papa estabeleceu os poderes da nova congregação de oficialmente em 22 de Junho de 1662 através da bula «Inscrutabile divinae Providentiae arcono.»[3]

Esta congregação surgiu no contexto da tensão entre as ordens religiosas e o regime de padroado com raízes já no tempo da descoberta do novo continente. Com este novo Dicasterio surgiu uma nova categoria de missionário, aqueles enviados diretamente pela Santa Sé através da Propaganda Fide.

A problemática que gira em torno das primeiras missões se refere ao modelo missionario das ordens religiosas que chegaram ao Brasil. Os missionarios vindos da região europeia, sob os auspicios do Padroado Português, de certo modo importaram para a Colônia o elemento cultural dos seus costumes anexado a convicção da necessidade de conversão dos nativos, estes nativos estranhos à cultura europeia foram estereotipados pelo paradigma eurocêntrico de modo geral como «índios».

Outro elemento cultural aconteceu com a chegada dos africanos para se tornarem escravos na Colônia em condições sub-humanas para sustentarem a economia local e da Metrópole Portuguesa. Na Capitania do Ceará, os nativos, os africanos e os europeus constituíam os povoamentos do século XVIII dentro de um modelo de organização com base em categorias sociais como a cor da pele humana. Todavia, estes elementos foram utilizados na Colônia desde o século XVI para justificar a escravidão e a submissão dos povos da África e os nativos [índios] da ilha, depois denominada Brasil.

Após a conquista da América, o modelo teocrático, Igreja e Estado foi implantado, porém o sistema entrou em desequilíbrio a partir do século XVIII com o despotismo ilustrado em favor dos interesses políticos que se sobrepunha aos interesses eclesiásticos. A partir do momento que as missões não correspondiam mais a este novo sistema, passaram a serem vistas pela monarquia absolutista portuguesa como ofensivas ao pacto colonial.

Nesta direção, as medidas adotadas pelo monarca português, assim como a monarquia da América espanhola, intensificou o processo de secularização das paróquias e depois a expulsão dos Jesuítas.[4]

A conjuntura eclesiástica na colônia era complexa, no âmbito interno, além do Monarca que se declarava católico e defensor da Igreja, compondo um modelo de governo com caráter teocrático, existiam também os missionários regulares jesuítas, franciscanos, capuchinhos, carmelitanos e beneditinos, além de outros missionários, que seguiam métodos de missão direcionados pelos respectivos carismas.

Quanto ao clero secular, também se formaram diversas categorias, por exemplo, os que recebiam o direito da vigária colada e o direto de côngrua emanado direto do rei e depois do Imperador do Brasil, e outras categorias sem vínculo direto de dependência direta do Imperador. Além destes sacerdotes, paulatinamente foi introduzido o clero estrangeiro através do missionários e depois os sacerdotes seculares. Não raro eram os conflitos na conjuntura eclesiástica.

No âmbito externo, o conflito ideológico entre os monarcas católicos, que abusando da concessão do padroado adotaram medidas «galicanistas» para tornar a Igreja submissa ao Estado, e os jesuítas, que adotaram o quarto voto de obediência incondicional ao Papa. Nesta mesma perspectiva se desenvolveu o conflito entre o alto clero e a maçonaria, que agravaram a crise do Império do Brasil com a questão religiosa na década de 70 do século XIX.

Os jesuítas desenvolveram um trabalho missionário no Nordeste atingindo também o Ceará. Tiveram um importante contato com os indígenas, através do sistema de aldeiamentos de índios cristãos e catecúmenos.[5]A defesa dos indígenas e a exigente disciplina na vida religiosa geraram um grande impacto diante da estrutura social vigente e o clero secular presente nas primeiras paróquias criadas no Brasil.

Em 1680 eram 180 jesuítas no Brasil. Se destacaram pela infraestrutura e arquitetura que serviu de modelo para diversas igrejas do Brasil na época e nos séculos sucessivos. Os Jesuítas partindo da região do Jaguaribe entraram em direção ao Sul do Ceará chegando a Missão Velha no século XVIII, onde aldearam os índios Cariris. As missões Jesuítas foram agravadas pela expulsão da ordem em Portugal e de suas colônias através da lei pombalina. Assim no final do ano 1759 encerravam-se as atividades dos jesuítas nas colônias portuguesas.

A presença dos Jesuítas no Ceará correspondia ao projeto missionário iniciado em Olinda e Bahia. Entre os missionários jesuítas da capitania de Pernambuco, o Padre Luiz Figueira foi o primeiro jesuíta que esteve no Ceará com Francisco Pinto, foi também o primeiro historiador do Ceará e fundador da missão do Maranhão e Grão Pará.

Os jesuítas deixaram no Nordeste muitas construções, contribuindo para a arquitetura religiosa adequada as condições da colônia. A missão jesuítica deixou marcas na arquitetura sacra, nas igrejas estruturadas de modo funcional e não alongadas, com o espaço sagrado apropriado as condições das comunidades e seguindo ao mesmo tempo as normas litúrgicas. No interior das Igrejas e capelas priorizava-se o zelo principalmente no altar-mor centro das atenções e devoções da época, como por exemplo, em Missão Velha.

As vilas do Ceará começaram a surgir apos a Ordem Régia de 13 de Fevereiro de 1699, que dava a ordem ao governador de Pernambuco, Caetano de Melo e Castro, para criar uma vila no Ceará tendo em vista estruturar a ordem nestas terras. A partir de 1701 começaram as fundações na capitania do Ceará na região litorânea. Após Aquiraz e Fortaleza, ainda na primeira metade do século XVIII, o projeto se estendeu para Icó e Aracati.[6]

As primeiras Vilas do Ceará inicialmente correspondiam as vilas de brancos e as vilas de índios. No inicio do século XIX as vilas de brancos já eram em grande número na capitania. No contexto da vila dos índios, o aldeamento dos Cariris foram afrontados pelos religiosos com uma atenção particular, dado o grau de desenvolvimento destes grupos:

Constituiriam o grupo de mais alto nível tecnológico dentre os demais do Nordeste brasileiro. Cultivavam mandioca, milho, feijão e algodão, dormiam em rede de 12 a 14 pés por 6 a 7 pés, capaz de conter quatro homens ou ar livre em volta de fogueiras fabricavam cerâmicas, construíam abrigos de pau-a-pique cobertos de palha.[7]

Após a chegada de Dom Manuel a Olinda, começaram as instalações da primeira paróquia no Ceará, neste período as estradas capitanias eram precárias. Após o bispado de Dom Manuel, Dom Frei José Fialho foi nomeado bispo de Olinda, seu governo corresponde aos anos de 1725 até 1738, período de desenvolvimento da ação missionaria da Junta das Missões no aldeiamento Cariry cearense com a presença dos capuchinhos do convento da Penha de Recife.

O setimo bispo de Olinda foi Dom Luis de Santa Teresa (1738-1757), período também muito importante para o Cariry, com a instalação da paróquia de Nossa Senhora da Luz, a Missão do Miranda e a construção do templo a Nossa Senhora da Penha no aldeiamento indígena dos cariris.

Os capuchinhos do Recife iniciaram o projeto missionário na região Sul do Ceará em meados do século XVIII. Em 3 de Dezembro de 1743 o sacerdote capuchinho Frei Carlo Maria da Ferrara tomou posse do território do aldeamento do Miranda, doado pelo casal o Capitão-mor Domingos Alves de Matos e Maria Ferreira da Silva, ato jurídico realizado pelo Tabelião Roque Correia Marreiros.[8]

O sacerdote capuchinho Frei Carlo Maria, nascido em Ferrara em 1706, pertencia a família Monici da região da Emília Romagna na Itália, chegou ao Brasil em 1736 acompanhado de outro sacerdote, Frei Luigi da Ferrara, e se instalaram na Capitania de Pernambuco. Frei Luigi retornou para a Itália pouco tempo depois, e Frei Carlo foi enviado em Missão para o Ceará.

Frei Carlo retornando do Ceará foi nomeado superior geral dos capuchinhos em Pernambuco entre 1751 e 1753, e depois atuou na Bahia entre 1753 e 1774. Frei Carlo morreu em 10 de Fevereiro de 1774 no Rio de Janeiro.[9]Os missionários italianos eram considerados mais abertos a inculturação em relação aos missionários portugueses, pois a missão não estava ligada diretamente aos interesses políticos e econômicos portugueses do padroado.

A missão de Frei Carlo em Crato foi fundamental para a história eclesiástica no Cariri. Segundo afirma Antônio Bezerra, a obra de Frei Carlos foi estabelecida inicialmente a dois quilômetros a sudeste da cidade, transferindo-se depois para a margem direita do rio Granjeiro, local hoje ocupado pelo «Jardim Frei Carlos de Ferrara» defronte a Sé-Catedral.

Ali em Janeiro de 1745, o aludido missionário ergueu uma igreja em honra de Nossa Senhora da Penha e Frei Fidelis de Sigmaringa, cuja estrutura devia ser “de barro, coberta de folhas de palmeiras, e com enxalmeis, caibros e ripas amarradas de cipò.” A sua frente se estendia o aldeamento, marco inicial da futura comunidade.[10]

Segundo o pesquisador Irineu Pinheiro, em livros da freguesia de Icó, há indícios de batizados em uma igreja do Miranda referentes ao ano 1741,[11]portanto alusivo ao período antes do transferimento do aldeiamento do Miranda para as proximidades do Rio Granjeiro. Assim como aconteceu com os aldeiamentos indígenas na metade do século XVIII, em Messejana (1758) e Viçosa (1759), dentre outros, a criação da vila Real do Crato em 1764 correspondia a elevação do aldeiamento indígena a categoria de vila.

CRIAÇÃO DA VILLA DE CRATO

Esta missão (do Miranda) foi creada Villa com o nome de Crato em 21 de Junho de 1764. (...) Esta Villa se acha fundada no Cariris Novos e perto da Serra Grande, e neste lugar é chamada Araripe. Confina pelo Norte com a freguesia de N. S. do Carmo do Inhamum em 10 léguas, pelo sul com a do Exu, capitania de Pernambuco, em 8, pelo nascente com a de S. José do cariri Novo em 4, e pelo poente com a sobredita do inhamum em 17. Tem de longitude 21 Léguas e 18 de latitude.[12]

Os agrupamentos dos Kariris abitavam predominantemente a região Nordeste, entre a Bahia e o Sergipe, e se propagaram para outras regiões, como por exemplo nas proximidades da Chapada do Araripe entre o Ceará e Pernambuco, e também nas proximidades do Rio São Francisco. Contudo eram diversos grupos que depois através de estudos linguísticos foram classificados em quatro grupos principais: os «Kipeá» ou «Kirirí», «Dzubukuá», «Sabujá» e «Kamurú» ou Pedra Branca.

As gramáticas e os catecismos dos Kariris, que hoje compõem uma preciosa documentação, pertenciam aos grupos classificados como «Kipeá» (catecismo e gramatica dos jesuítas) e «Dzubukuá» (catecismo dos Capuchinhos).[13]

Evidentemente, a missão na América latina foi conduzia seriamente pelas ordens religiosas, que tiveram o grande desafio de comunicar-se com os indígenas do novo continente. Nesta direção devemos reconhecer que em toda a Colônia, tiveram missionários que se destacaram na missão indígena, e uma das características era a elaboração dos catecismos indígenas.

Devemos considerar que a missão indígena continuou a ser um desafio pastoral para a Igreja nos períodos sucessivos, Monarquia e República. No final do século XIX, por exemplo, Dom José Lorenzo da Costa Aguiar, natural de Sobral no Ceará foi nomeado como o primeiro bispo da diocese do Amazonas, na sua missão pastoral publicou um catecismo na língua Tupi.[14]

Os aldeamentos indígenas foram desaparecendo no final do século XVIII, a missão significava conversão e pacificação dos índios, para dominação do território e ordem social. Os índios que não se adaptaram foram expulsos ou eliminados. Com a criação da vila do Crato, e o crescimento da comunidade, criava-se uma tensão entre corpo social colonial e a estrutura de comunidade indígena, uma ameaça recíproca.

Com o enfraquecimento das comunidades indígenas, pouco tempo depois foram expulsos para a região de Arronches (Parangaba).[15]Em 1783, a Vila real do Crato era classificada pelo Governador Montaury, entre as sete vilas de brancos existentes na Capitania do Cearà Grande, além do Crato, as vilas de Fortaleza, Aquiraz, Santa Cruz do Aracati, Icó e Sobral. A capitania no final do século XVIII era composta por cinco vilas de índios, vinte e uma povoações de brancos e três povoações de índios.[16]Neste cenário foram construídos os primeiros templos.

No Cearà, nos tempos coloniais, nos arraiais e aldeias, erguiam, logo, a capelinha em que celebravam missas, batizavam, casavam, encomendavam e enterravam os que morriam. Defronte, no patamar fincavam uma grande cruz, o cruzeiro, quase sempre de amago de aroeira, tão vermelho que parece pintado. Com o decorrer do tempo, torna-se escura e bela cor escarlate da utilíssima arvore.”[17]

Mesmo com o cuidado que os missionários tiveram de construir as capelas de acordo com as normas vigentes no período, desde as indicações do sínodo da Bahia, todavia na maioria dos casos não tiveram muita duração devido ao material utilizado de acordo com as construções típicas da região, por isso muitas foram reconstruídas.

Com o desenvolvimento das técnicas de construção, o uso do tijolo, das telhas de cerâmica, os templos ficaram mais caros, com um período maior para o desenvolvimento da construção, e com uma estrutura de maior durabilidade. Algumas construções sem a presença dos missionários seguiram padrões diversos, ajustadas ou adaptadas lentamente com a instalação das dioceses.


NOTAS

  1. Companhia de Jesus, fundada por Santo Inácio de Loyola, aprovada pelo Papa Paulo III em 1540. Foi suprimida pelo Papa Clemente XIV em 1773. No Brasil os jesuítas foram expulsos em 1759 pelo Marques de Pombal. Cfr. C. VERDETE, Historia da Igreja Católica, vol. 2, p.136
  2. Carmelitanos no Brasil: «Salvador da Bahia (1586), Santos (1588), Rio de Janeiro (1590), São Paulo (1594), Paraíba (1606), São Cristóvão (1607), Angra dos Reis (1608), São Luiz (1616), Belém do Pará (1624), Mogi das Cruzes (1629), Gurupá (1639), Alcântara (1647), Recife (1654), Goiana (1666), Rio Real (1680), Vitoria (1680), Cabo de Santo Agostinho (1687), Cachoeira (1688)». In C. M. LUIGI MEZZADRI, Storia della Chiesa tra medioevo ed Época Moderna, vol. 2, 320
  3. N. DEL RE, La Curia Romana: lineamenti storico-giuridici, 4 ed, Città del Vaticano, LEV, 1998, p. 148
  4. Cf. J. MEYER, La Iglesia y el nacimiento de las naciones iberoamericanas, in: PONTIFICIA COMMISSIO PRO AMERICA LATINA: Os Ultimos Cem Anos da Evangelizaçao na America Latina, p.78
  5. H. ABRANCHES VIOTTI, Anchieta: O Apostolo do Brasil. São Paulo, Edições Loyola, 1980, p. 78
  6. C. R. JUCÁ NETO. Primórdios da Rede Urbana Cearense. - Revista de Geografia da UFC, ano 08, número 16, 2009, pp. 82-83
  7. W. ARRAES DE FARIAS FILHO. Crato: evolução urbana e arquitetura 1740-1760. Fortaleza. Expressão Gráfica e Editora, 2007, p.30; D. DE OLIVEIRA REIS JUNIOR, Trabalho e uso da Terra no Cariri Cearense, 1850-1860, p. 4
  8. IBGE, Enciclopédia dos municípios brasileiros, Vol. XVI Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1959, p. 179
  9. A. MAGGIOLI, Registro missionario ragionato: la presenza dei cappuccini dell´Emilia-Romagna nell´America Latina, in: Messaggero cappuccino, n. 5, Maggio 2011, pp. 4-5
  10. IBGE, Enciclopédia dos municípios brasileiros, Vol. XVI Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1959, p. 179.
  11. J. FIGUEIREDO FILHO & I. PINHEIRO, Cidade do Crato, Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 1965, p. 25.
  12. Revista do Instituto do Ceara ed. 9, ano 1937, p.244
  13. Cfr. D. B. ALBUQUERQUE, Clíticos e afixos na família Karirí, Disponível em: http://www.estudosdalinguagem.org/seer/index.php/estudosdalinguagem/article. Acesso em: 30 de Novembro 2013
  14. Cfr: N. DE SOUZA, Uma fisionomia do episcopado brasileiro presente no Concilio Plenario Latino-americano In: PONTIFICIA COMMISSIO PRO AMERICA LATINA: Os Ultimos Cem Anos da Evangelizaçao na America Latina, p. 641
  15. J. FIGUEIREDO FILHO & I. PINHEIRO, Cidade do Crato, Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 1965, p. 30
  16. C. RAMIRO JUCA NETO. Primórdios da rede urbana cearense, in: Mercator, Revista de Geografia da UFC, ano 8, n. 16, 2009, p. 91.
  17. J. FIGUEIREDO FILHO – I. PINHEIRO, Cidade do Crato, MEC, Rio de Janeiro, 1955


BIBLIOGRAFÍA

ABRANCHES VIOTTI H., Anchieta: O Apostolo do Brasil. São Paulo, Edições Loyola, 1980


ARRAES DE FARIAS W. FILHO. Crato: evolução urbana e arquitetura 1740-1760. Fortaleza. Expressão Gráfica e Editora, 2007

DE OLIVEIRA REIS JUNIOR D., Trabalho e uso da Terra no Cariri Cearense, 1850-1860

FIGUEIREDO FILHO J. – PINHEIRO I., Cidade do Crato, MEC, Rio de Janeiro, 1955; 2ed. Departamento de Imprensa Nacional, 1965

MEZZADRI C. M. LUIGI, Storia della Chiesa tra medioevo ed Época Moderna, vol. 2 N. DEL RE, La Curia Romana: lineamenti storico-giuridici, 4 ed, Città del Vaticano, LEV, 1998

PONTIFICIA COMMISSIO PRO AMERICA LATINA: Os Últimos Cem Anos da Evangelização na América Latina

VERDETE C., Historia da Igreja Católica, vol. 2


SANTOS FIGUEREIDO