Diferencia entre revisiones de «DAS CHAGAS LIMA Francisco»

De Dicionário de História Cultural de la Iglesía en América Latina
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Na mesma carta de Outubro de 1809 ao Governador da Capitania de São Paulo ao encerrar a mesma, Padre Chagas expressa sua ansiedade em encontrar-se e converter os índios, nas suas palavras, «os infiéis»: ''“[...] já me disponho a sofrer por este anno os ares deste sertão, bem pouco benignoz a saúde dos homens; e sobre tudo à vehemência dos meus desejos; q- todos são de ver me já no Campo trabalhando na conversão dos infiéis”.''<ref>F. DAS CHAGAS LIMA, «Carta ao Governador Antonio José da Franca e Horta em 1809», in A. MARTINS FRANCO, Diogo Pinto e a Conquista de Guarapuava, 77.</ref>  
 
Na mesma carta de Outubro de 1809 ao Governador da Capitania de São Paulo ao encerrar a mesma, Padre Chagas expressa sua ansiedade em encontrar-se e converter os índios, nas suas palavras, «os infiéis»: ''“[...] já me disponho a sofrer por este anno os ares deste sertão, bem pouco benignoz a saúde dos homens; e sobre tudo à vehemência dos meus desejos; q- todos são de ver me já no Campo trabalhando na conversão dos infiéis”.''<ref>F. DAS CHAGAS LIMA, «Carta ao Governador Antonio José da Franca e Horta em 1809», in A. MARTINS FRANCO, Diogo Pinto e a Conquista de Guarapuava, 77.</ref>  
  
Depois de 13 anos de trabalho, apesar das doenças e o aumento do trabalho, Padre Chagas continua com o mesmo vigor: “[...] não tenho vontade algua de renunciar ao meu Emprego, porque histo seria olhar para trás depois de haver mettido mão ao arado [...]”.  
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Depois de 13 anos de trabalho, apesar das doenças e o aumento do trabalho, Padre Chagas continua com o mesmo vigor: “[...] ''não tenho vontade algua de renunciar ao meu Emprego, porque histo seria olhar para trás depois de haver mettido mão ao arado [...]”.''<ref>F. DAS CHAGAS LIMA, «Carta ao Governo Provisório da Capitania de São Paulo em 22 de Fevereiro de 1822», in Ibidem, 235.</ref>
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O trabalho árduo do Padre Chagas foi reconhecido. Em 1853, o Padre e deputado-geral Ildefonso Xavier Ferreira reclamou que, a respeito de catequese indígena, eram sempre lembrados os jesuítas. Ildefonso evocou o Padre Chagas, reconhecendo no missionário a imagem de mártir:
 
O trabalho árduo do Padre Chagas foi reconhecido. Em 1853, o Padre e deputado-geral Ildefonso Xavier Ferreira reclamou que, a respeito de catequese indígena, eram sempre lembrados os jesuítas. Ildefonso evocou o Padre Chagas, reconhecendo no missionário a imagem de mártir:
“No começo deste presente século apareceu [...] um gênio raro, [...] o virtuoso curitibano padre Francisco das Chagas Lima, que estando capelão de Aparecida (Guaratinguetá) foi mandado a Queluz, hoje villa Rica e populosa ao pé de Areias para catequizar. Lutando contra a penúria, contra a fome e contra a miséria [...] conseguiu [...] aldear os índios, reduzi-los à fé católica e proporcionar aos fazendeiros aqueles ricos terrenos para a cultura do café.[...] [Em Guarapuava] seus trabalhos foram destruídos pelo comandante da expedição que contra a vontade do missionário queria misturar e com efeito misturou os soldados com os indígenas facilitando assim a desenvoltura dos soldados entre os selvagens, também a ela propensos. Esse passo foi o bastante para que o padre enlouquecesse e assim findou seus tristes dias [...].”  
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''“No começo deste presente século apareceu [...] um gênio raro, [...] o virtuoso curitibano padre Francisco das Chagas Lima, que estando capelão de Aparecida (Guaratinguetá) foi mandado a Queluz, hoje villa Rica e populosa ao pé de Areias para catequizar. Lutando contra a penúria, contra a fome e contra a miséria [...] conseguiu [...] aldear os índios, reduzi-los à fé católica e proporcionar aos fazendeiros aqueles ricos terrenos para a cultura do café.[...] [Em Guarapuava] seus trabalhos foram destruídos pelo comandante da expedição que contra a vontade do missionário queria misturar e com efeito misturou os soldados com os indígenas facilitando assim a desenvoltura dos soldados entre os selvagens, também a ela propensos. Esse passo foi o bastante para que o padre enlouquecesse e assim findou seus tristes dias [...].”''<ref>I. XAVIER FERREIRA, «Prólogo», in Constituiçoes Primeiras do Arcebispado da Bahia, Typographia 2 de Dezembro, São Paulo 1853, 9-10.</ref>
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O fato citado pelo padre e deputado Ildefonso como causa da doença mental do Padre Chagas e consequentemente de sua morte, foi apenas um dos desacordos entre Padre Chagas e Diogo Pinto comandante da Real Expedição. Porém, não se pode atribuir a causa da destruição do trabalho do Padre, sua doença e morte a apenas esse fato.  
 
O fato citado pelo padre e deputado Ildefonso como causa da doença mental do Padre Chagas e consequentemente de sua morte, foi apenas um dos desacordos entre Padre Chagas e Diogo Pinto comandante da Real Expedição. Porém, não se pode atribuir a causa da destruição do trabalho do Padre, sua doença e morte a apenas esse fato.  
  
 
É verdade que as visões diferentes entre os dois líderes prejudicaram o trabalho, mas não o destruiu. Realmente o Padre Chagas teve muitas dificuldades em seu trabalho na catequese dos índios, mas não foi somente um fato a causa das dificuldades. A citação do discurso acima foi apenas para ilustrar a fama e o reconhecimento do trabalho do Padre Chagas como catequista dos indígenas em nível nacional.
 
É verdade que as visões diferentes entre os dois líderes prejudicaram o trabalho, mas não o destruiu. Realmente o Padre Chagas teve muitas dificuldades em seu trabalho na catequese dos índios, mas não foi somente um fato a causa das dificuldades. A citação do discurso acima foi apenas para ilustrar a fama e o reconhecimento do trabalho do Padre Chagas como catequista dos indígenas em nível nacional.
  
Ainda sobre a importância do trabalho e figura do Padre Chagas, o grande indigenista José Joaquim Machado de Oliveira, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, afirmou o seguinte: “seria indubitavelmente proveitoso estudar o caráter, a índole desse zeloso catequista; os fatos que decorreram da sua vida de missionário, para que possa servir de norma aos que houverem de achar-se em posições idênticas”.  
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Ainda sobre a importância do trabalho e figura do Padre Chagas, o grande indigenista José Joaquim Machado de Oliveira, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, afirmou o seguinte: ''“seria indubitavelmente proveitoso estudar o caráter, a índole desse zeloso catequista; os fatos que decorreram da sua vida de missionário, para que possa servir de norma aos que houverem de achar-se em posições idênticas”.''<ref>J. JOAQUIM MACHADO DE OLIVEIRA, «Noticia racionada sobre as aldeias de índios da província de São Paulo, desde o começo até a atualidade»  in RIHGB, 3 (1846), 237-8.</ref>
  
 
Ainda antes de terminar seu tempo de trabalho em Guarapuava, Padre Chagas transmite ao Imperador uma série de informações a respeito da catequese dos índios no qual informa que desde 1812 trabalhou sozinho com acumulo de funções:
 
Ainda antes de terminar seu tempo de trabalho em Guarapuava, Padre Chagas transmite ao Imperador uma série de informações a respeito da catequese dos índios no qual informa que desde 1812 trabalhou sozinho com acumulo de funções:
“[...] tais, como se acaba de expressar, eram os costumes dos povos, que a Real Expedição de 1809 se dirigiu a conquistar, a fim de serem reduzidos à civilização, e à cristandade. Se bem que para esse ultimo fim acompanharam a expedição, na sua primeira entrança dois missionários, quando as primeiras hordas de camés e votorons a ela se renderam ao 1° de Agosto de 1812 não se achava em Guarapuava, senão um sacerdote, que devia juntamente servir de capelão à tropa militar e de catequista aos índios. Eu portanto, eu mesmo fui o que tomei a cargo esta empresa; e que a tenho continuado há catorze annos, esperando que Deus a houvesse de abençoar, e liberalizar seus frutos; pois como diz o apostolo (Ep. Ad Cor.3) «Neque qui plantat est aliquid, neque qui rigat, sed qui incrementum dat, Deus.»
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''“[...] tais, como se acaba de expressar, eram os costumes dos povos, que a Real Expedição de 1809 se dirigiu a conquistar, a fim de serem reduzidos à civilização, e à cristandade. Se bem que para esse ultimo fim acompanharam a expedição, na sua primeira entrança dois missionários, quando as primeiras hordas de camés e votorons a ela se renderam ao 1° de Agosto de 1812 não se achava em Guarapuava, senão um sacerdote, que devia juntamente servir de capelão à tropa militar e de catequista aos índios. Eu portanto, eu mesmo fui o que tomei a cargo esta empresa; e que a tenho continuado há catorze annos, esperando que Deus a houvesse de abençoar, e liberalizar seus frutos; pois como diz o apostolo (Ep. Ad Cor.3) «Neque qui plantat est aliquid, neque qui rigat, sed qui incrementum dat, Deus.» ''<ref>F. DAS CHAGAS LIMA, «Informação do Missionário e Vigário Collado na Freguesia de Nossa Senhora de Belém...», in AESP, Caixa 192, Ordem 987, Doc. 66, f. 2.</ref>
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É importante salientar que o Padre Chagas não foi um catequista desligado dos problemas de sua época. Além de catequista, foi também capelão das tropas militares e acima de tudo um grande líder com uma fé inabalável. Como tal, sabia muito bem que o êxito de seu trabalho implicava na boa administração, no bom exemplo e senso de justiça dos responsáveis pela Expedição, de todos os militares para com os índios e também dos colonos.  
 
É importante salientar que o Padre Chagas não foi um catequista desligado dos problemas de sua época. Além de catequista, foi também capelão das tropas militares e acima de tudo um grande líder com uma fé inabalável. Como tal, sabia muito bem que o êxito de seu trabalho implicava na boa administração, no bom exemplo e senso de justiça dos responsáveis pela Expedição, de todos os militares para com os índios e também dos colonos.  
  

Revisión del 21:54 22 feb 2018

(Curitiba, 1758 – Guarapuava, 1832) Padre, apóstolo dos gentios, fundador

O Padre Francisco das Chagas Lima nasceu em Curitiba no ano de 1758, filho de um sargento-mor, foi ordenado sacerdote aos 22 anos.[1]Ficou na memória da Igreja e da historia principalmente por seu trato com os índios. Conhecemos o trabalho do Padre Chagas através de vários relatórios, memórias que ele mesmo fez de seu trabalho.[2]Em uma de suas memórias Padre Chagas faz uma pequena autobiografia:

“O único missionário que resta, já tem 69 annos, e trata de se recolher para tratar do seu alivio e descanço nos últimos dias que lhe restam de sua existência; e ainda que estivesse em idade mais robusta, já não pôde só abranger a tudo o que exige em Guarapuava dos deveres de seu ministério da missão. Elle conta com 41 annos de serviço no Bispado de São Paulo, foi 15 annos coadjutor e vigário collado na Villa de Coritiba, 4 annos na capella de N. S. da Apparecida, districto da Villa de Guaratinguetá, 5 annos cathequisou na aldeia de Quêluz, e residiu 17 annos em Guarapuava.”[3]

O fragmento autobiográfico supracitado escrito por ele na 3ª pessoa do singular em 1827 resume todas as suas atribuições ao longo de seu ministério sacerdotal. O que se percebe dos documentos é que era um homem incansável, dedicado de corpo e alma ao seu apostolado. O sucesso de sua missão como catequista dos índios de Queluz (os índios «puris») foi o que o habilitou ao serviço da Real Expedição aos Campos de Guarapuava.

Suas funções na Real Expedição de 1809

Segundo Arthur Martins Franco, o Padre Chagas foi convidado pelo Governador da Província de São Paulo para Fazer parte da Real Expedição em Abril de 1809. Juntamente com ele foi convidado o Padre Jesuíno do Monte Carmello para a catequese dos índios. Este último se desculpou e não aceitou o convite, sendo substituído pelo Frei Pedro Nolasco.[4]

O mesmo Arthur Martins Franco informa que em Maio de 1809 foram nomeados os auxiliares da Expedição e entre eles o “Padre Francisco das Chagas Lima”.[5]O Sacerdote começou exercer sua função de Capelão da Real Expedição no dia 24 de Setembro de 1809 quando boa parte da Expedição já tinha partido em Agosto. É o que se lê em carta enviada pelo Padre ao Governador da Província de São Paulo em nove de Outubro do mesmo ano:

“IIImo°. E Exmo. Snr°. Antonio José da Franca e Horta. Quinze dias hão, q- felizmente cheguei a este primeiro abarracamento, que se chama São Felippe, Légua e meia dentro do bosque inculto, que imos atravessar pª. Chegar ao Campo de Guarapuaba. Agente, q- aqui se acha, são cento, e quarenta homens, entrando nesse numero os Milicianos, e Ordenanças, que a dous mezes aqui entrarão; e os saldados da Linha, que ontem chegaram com o seu Commandante. O Tente. Coronel Diogo Pinto de Azevedo Portugal consta, q- no dia 10 do corrente, q- he amanha, parte da Villa de Corytyba para este destacamento. Os ditos Milicianos, e Ordenanças, comandados pelo Alferes Bernardo José Pinto Prª. Tem trabalhado mt°.;por quanto neste breve espaço de tempo derribarão mattas para vinte alqueires de sementeira de milho, e fizerão aquartellamt°s. (cubertos de palha) para a tropa e seu officiaes, almazem pª.o trem, casa para nella se celebrar o Santo Sacrifício da Missa, e de residência, pª. Mim, e o meu companheiro o R. Fr. Pedro A. Nolasco, com qm. Estou junto neste destacamt°., cuidando na instrução da nossa corporação, visto q- dos Índios Selvagens ainda não há a menor noticia; e por conseqüência nem redução.”[6]

Além de confirmada a sua atuação como Capelão da Real Expedição, se percebe através da carta, o bom relacionamento do Padre Chagas com o Governo de São Paulo. Além disso, percebe-se também a sua vocação de líder, pois faz um verdadeiro relatório detalhado dos trabalhos da Expedição mesmo antes de o seu Comandante, Diogo Pinto, chegar ao local. Porém, o fato de o Padre Chagas ter aptidão para coordenar outros trabalhos além do exclusivamente religioso, causará problemas entre ele e o Comandante da Expedição.

Na mesma carta de Outubro de 1809 ao Governador da Capitania de São Paulo ao encerrar a mesma, Padre Chagas expressa sua ansiedade em encontrar-se e converter os índios, nas suas palavras, «os infiéis»: “[...] já me disponho a sofrer por este anno os ares deste sertão, bem pouco benignoz a saúde dos homens; e sobre tudo à vehemência dos meus desejos; q- todos são de ver me já no Campo trabalhando na conversão dos infiéis”.[7]

Depois de 13 anos de trabalho, apesar das doenças e o aumento do trabalho, Padre Chagas continua com o mesmo vigor: “[...] não tenho vontade algua de renunciar ao meu Emprego, porque histo seria olhar para trás depois de haver mettido mão ao arado [...]”.[8]

O trabalho árduo do Padre Chagas foi reconhecido. Em 1853, o Padre e deputado-geral Ildefonso Xavier Ferreira reclamou que, a respeito de catequese indígena, eram sempre lembrados os jesuítas. Ildefonso evocou o Padre Chagas, reconhecendo no missionário a imagem de mártir:

“No começo deste presente século apareceu [...] um gênio raro, [...] o virtuoso curitibano padre Francisco das Chagas Lima, que estando capelão de Aparecida (Guaratinguetá) foi mandado a Queluz, hoje villa Rica e populosa ao pé de Areias para catequizar. Lutando contra a penúria, contra a fome e contra a miséria [...] conseguiu [...] aldear os índios, reduzi-los à fé católica e proporcionar aos fazendeiros aqueles ricos terrenos para a cultura do café.[...] [Em Guarapuava] seus trabalhos foram destruídos pelo comandante da expedição que contra a vontade do missionário queria misturar e com efeito misturou os soldados com os indígenas facilitando assim a desenvoltura dos soldados entre os selvagens, também a ela propensos. Esse passo foi o bastante para que o padre enlouquecesse e assim findou seus tristes dias [...].”[9]

O fato citado pelo padre e deputado Ildefonso como causa da doença mental do Padre Chagas e consequentemente de sua morte, foi apenas um dos desacordos entre Padre Chagas e Diogo Pinto comandante da Real Expedição. Porém, não se pode atribuir a causa da destruição do trabalho do Padre, sua doença e morte a apenas esse fato.

É verdade que as visões diferentes entre os dois líderes prejudicaram o trabalho, mas não o destruiu. Realmente o Padre Chagas teve muitas dificuldades em seu trabalho na catequese dos índios, mas não foi somente um fato a causa das dificuldades. A citação do discurso acima foi apenas para ilustrar a fama e o reconhecimento do trabalho do Padre Chagas como catequista dos indígenas em nível nacional.

Ainda sobre a importância do trabalho e figura do Padre Chagas, o grande indigenista José Joaquim Machado de Oliveira, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, afirmou o seguinte: “seria indubitavelmente proveitoso estudar o caráter, a índole desse zeloso catequista; os fatos que decorreram da sua vida de missionário, para que possa servir de norma aos que houverem de achar-se em posições idênticas”.[10]

Ainda antes de terminar seu tempo de trabalho em Guarapuava, Padre Chagas transmite ao Imperador uma série de informações a respeito da catequese dos índios no qual informa que desde 1812 trabalhou sozinho com acumulo de funções:

“[...] tais, como se acaba de expressar, eram os costumes dos povos, que a Real Expedição de 1809 se dirigiu a conquistar, a fim de serem reduzidos à civilização, e à cristandade. Se bem que para esse ultimo fim acompanharam a expedição, na sua primeira entrança dois missionários, quando as primeiras hordas de camés e votorons a ela se renderam ao 1° de Agosto de 1812 não se achava em Guarapuava, senão um sacerdote, que devia juntamente servir de capelão à tropa militar e de catequista aos índios. Eu portanto, eu mesmo fui o que tomei a cargo esta empresa; e que a tenho continuado há catorze annos, esperando que Deus a houvesse de abençoar, e liberalizar seus frutos; pois como diz o apostolo (Ep. Ad Cor.3) «Neque qui plantat est aliquid, neque qui rigat, sed qui incrementum dat, Deus.» [11]

É importante salientar que o Padre Chagas não foi um catequista desligado dos problemas de sua época. Além de catequista, foi também capelão das tropas militares e acima de tudo um grande líder com uma fé inabalável. Como tal, sabia muito bem que o êxito de seu trabalho implicava na boa administração, no bom exemplo e senso de justiça dos responsáveis pela Expedição, de todos os militares para com os índios e também dos colonos.

Por isso, no desenvolver de seu trabalho teve muitos conflitos. Mas eram os índios a sua lavoura, o seu rebanho de convertidos que o Padre chagas tinha sempre em mente e por estes doou grande parte sua vida.

É esse trabalho incansável cheio de problemas, de desilusões, sofrimentos, do esforço em compreender os índios, de defendê-los e reduzi-los à fé Católica que por 18 anos Padre Chagas se dedicou em Guarapuava onde ele morreu em 1832. Suas cinzas estão localizadas no centro da Praça 9 de Dezembro, em Guarapuava.

NOTAS

BIBLIOGRAFÍA

CASSAB JEHA S., O Padre, o Militar e os índio. Dissertação de Mestrado em História. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2005

MARTINS FRANCO A., Diogo Pinto e a Conquista de Guarapuava, Edição do Museu Paranaense, Curitiba 1943

XAVIER FERREIRA I., «Prólogo», in Constituiçoes Primeiras do Arcebispado da Bahia, Typographia 2 de Dezembro, São Paulo 1853


ANTONIO AILSON AURELIO

  1. Cf. S. CASSAB JEHA, O Padre, o Militar e os índios, 23.
  2. Escritos do Padre Francisco das Chagas Lima, já publicados: «Estado Actual da Conquista de Guarapuava no fim do anno de 1821» in A. MARTINS FRANCO, Diogo Pinto e a Conquista de Guarapuava, Edição do Museu Paranaense, Curitiba 1943, 233-268; «Memória sobre o descobrimento e colônia de Guarapuava» in MONUMENTA, 55-86. Não publicados: «Informação do Missionário e vigário Collado na Fregueszia de N. Snrª de Belém nos Campos de Guarapuava 15 de Janeiro1827», in AESP, Ofícios de Castro, Caixa: 192, Ordem: 987, Pacote 1, Doc. 66; Tem-se ainda vários ofícios do Pároco e cartas ao Governador da Província de São Paulo na Mesma caixa e ordem do supracitado Arquivo. Todos esses documentos estão em nosso possesso, os quais serão citados conforme a necessidade de usá-los ou não no desenvolver de nossa pesquisa.
  3. F. DAS CHAGAS LIMA, «Memoria Sobre o Descobrimento e Colônia de Guarapuava», in MONUMENTA, 77-78.
  4. A. MARTINS FRANCO, Diogo Pinto e a Conquista de Guarapuava, 65.
  5. Ibidem, 66.
  6. F. DAS CHAGAS LIMA, «Carta ao IIIm°. E Exmo. Snr°. Antonio José da Franca e Horta», in Ibidem, 76.
  7. F. DAS CHAGAS LIMA, «Carta ao Governador Antonio José da Franca e Horta em 1809», in A. MARTINS FRANCO, Diogo Pinto e a Conquista de Guarapuava, 77.
  8. F. DAS CHAGAS LIMA, «Carta ao Governo Provisório da Capitania de São Paulo em 22 de Fevereiro de 1822», in Ibidem, 235.
  9. I. XAVIER FERREIRA, «Prólogo», in Constituiçoes Primeiras do Arcebispado da Bahia, Typographia 2 de Dezembro, São Paulo 1853, 9-10.
  10. J. JOAQUIM MACHADO DE OLIVEIRA, «Noticia racionada sobre as aldeias de índios da província de São Paulo, desde o começo até a atualidade» in RIHGB, 3 (1846), 237-8.
  11. F. DAS CHAGAS LIMA, «Informação do Missionário e Vigário Collado na Freguesia de Nossa Senhora de Belém...», in AESP, Caixa 192, Ordem 987, Doc. 66, f. 2.