MARCHETTI JOSÉ. (II) contribuições para o pobre, o órfão, a viuva

De Dicionário de História Cultural de la Iglesía en América Latina
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4. Contribuiçóes do Pe. Marchetti

4.1. A paixão pelo emigrante e o segredo de sua vocação

Em meio ãs muitas iniciativas trazidas pelas ordens e congregaçòes religiosas, à movimentação dos bispos nas novas e antigas dioceses, qual a contribuição especifica do Pe. Marchetti e de sua vocação missionaria? Podemos dizer que uma primeira característica sua é a de pensar no seu conjunto a situação do imigrante:

a) a saída do seu "paese" natal;
b) a viagem de trem e o tempo de espera nos portos de embarque;
c) a assistència nos navios, durante a travessia do océano;
d) os locais de "quarentena" ou acolhida no porto de chegada;
e) as casas de imigrantes, onde vinham os fazendeiros recrutar sua mão-de-obra;
f) os colonos nas fazendas afastadas do interior;
g) a massa anònima nas grandes cidades.


A segunda é de preocupar-se com todos esses aspectos. percebendo que cada um é importante, a partir do momento em que o emigrante é, ainda em seu próprio país, desenraizado do seu torrão natal, das suas relações familiares e de vizinhança, de sua paróquia e do seu "campanile". simbolo de sua comunidade cristã,

A terceira e mais importante é que entre pensar e fazer, não havia praticamente distáncia para o Pe. Marchetti. Possuìa uma inteligència pratica, ou melhor movida pelo coração e pela compaixão, que punham imediatamente em ação o melhor de si mesmo e de suas forças, para encontrar uma ajuda, uma solução para os problemas humanos, com que se defrontava.

Uma quarta caracteristica era sua capacidade de devotar total atenção a um caso particular, mas de pensar e procurar, ao mesmo tempo, uma solução mais abrangente e duradoura, de caráter institucional, para os sofrimentos e problemas com que se deparava. Uma quinta era a de combinar a atenção aos recursos materiais necessarios para a instituição, locais, dinheiro, relaçòes, e ao espírito que deveria animar o empreendimento, com o empenho em suscitar vocações, cuidando destas pessoas e de sua formacão, num contexto comunitario e de entrega, por inteiro, à obra a ser realizada.

Mas o segredo profundo de sua vida estava na sua compaixão pelos desamparados: o pobre, o orfão e a viuva, a trilogia classica dos profetas acerca da religião pura e agradavel a Deus.[1]Suador e abandono o interpelavam pessoalmente e dai a lista interminavel de coisas que queria fazer, à medida em que entrava em contato com mais e mais sofrimentos humanos. Sua primeira reação não é a revolta mas a compaixão, não é a fuga mas o compromisso e uma extraordinaria inteligència para entrever saidas acompanhada de urna entrega total para torna-las palpaveis e concretas. efetivas e duradouras. Essa intuição esta vazada na fórmula dos votos perpétuos dos membros da congregação carlista, que ele redige: "Assim, pelo voto da Caridade, anteporei em tudo o proximo a mim mesmo, aos meus prazeres, à minha saude, à minha vida".[2]

E mais, concretamente, ele entrevê, que forma de "martíria", isto é, de testemunho e de entrega lhe é pedida: “De resto, eis-me pronto para morrer. Desejei tantas vezes o martírio; se, em vez do martirio de sangue, tenho a graça de encontrar o martírio nas fadigas apostólicas, considerar-me-ei feliz”.[3]

Valha, entretanto, como exemplo da sua presteza em ver um problema e vislumbrar uma saida o que sucedeu à sua chegada ao porto do Rio de Janeiro e ao seu primeiro contato com a hospedaria de imigrantes da Ilha das Flores. Ao se deparar com as condiçòes da hospedaria, corre imediatamente ao cònsul da Italia, apresentando-lhe um plano de acolhida e atendimento aos imigrantes:

"All’Ilha das Flores, davanti a Rio de Janeiro, dove sostò due giorni, vide con i suoi occhi le scene, che aveva sentito descrivere dalla voce fremente di Mons. Scalabrini: la triste accoglienza riservata agli emigrati nelle «hospedarias», specie di baracconi nei quali i nuovi arrivati dovevano sostare per un periodo più o meno lungo, finché non venivano i «fazendeiros» a «contrattarli» per piantagioni di caffé: cibo insufficiente, per letto il legno del pavimento, il tormento degli insetti, i disagi della promiscuità nei cameroni comuni.

Reazione tipica del Marchetti: non perdere tempo, correre subito ai rimedi, fare qualcosa, non si può continuare cosi ... Ha già assimilato la mentalità caratteristica del Fondatore: «Noi lavoriamo: Dio farà». Corre immediatamente dal consule Generale d'Italia e gli espone un piano: fondare all'Ilha das Flores, a Santos e a San Paulo, i tre punti strategici dell immirazione, tre «case d'emigrati», secondo l'idea di Padre Maldotti:[4]'Io ci vorrei un missionario che allontanasse, boicottasse i pessimi fazendeiros, che si fossero resi indegni d'aver coloni per la loro condotta tirannica e immorale ... Potrebbe averci, anche là dentro, un ufficio di informazioni, coadiuvato da confratelli, che scorrazzano da apostoli lr fazende’[5]

Foi sua experiència, recém-nomeado para sua paroquia, de acompanhar, de trem, até o porto de Gènova, em fins de setembro de 1894, quase metade dos seus paroquianos, 75 dos 210 que com-puníam a população da aldeia de Compignano, que o fez tornar consciència do drama humano da emigração, que brotava da fome e da falta de perspectivas de sobrevivència.

Em Gènova, ao entrar o trem na estação, deu de frente com a chusma de aproveitadores, que assaltavam os recém-chegados: “Sapeva a quale sorte erano destinati gli emigranti inesperti e senza guida: succhiati fino all 'ultima goccia di sangue da agenti e subagenti di emigrazione, dai fattorini del porto, dai gestori delle locande, dagli agenti di cambio...”[6]

No momento das despedidas, a um aceno e convite do capitão do navio, se tivesse passaporte e licença do bispo, ja teria embarcado, naquela mesma hora, junto com seus paroquianos, como capelão de bordo. Quinze dias depois, a 14 (sic) de outubro de 1894, tendo passado pelo bispo Scalabrini de Piacenza, recebido a licença do seu bispo de Lucca e a bênçào da Papa, estava embarcando para o Brasil, no vapor Maranhão (sic), como capelão de 1.500 emigrantes. Fez ali na travessia, a experiência do que podia aportar um sacerdote àquela turbamulta de gente desenraizada mas com os olhos, esperançosos numa América mais de sonhos do que de realidade: “Durante la traversata si dedicò senza risparmio al nuovo genere di apostolato: preparò alla prima comunione una cinquantina de emigranti, fra ragazzi e adulti, predicò, confessò, fece da paciere nelle liti, che scoppiavano spesso in quell'ammassamento disumano, regolarizzò matrimoni, trasformò il viaggio in una missione popolare”.[7]

4.2. A orfandade dos pequenos

Seus sonbos de transformar-se em capelão dos navios de, emigrantes e mesmo de organizar, nos portos, postos de acolhida com um minimo de humanidade e decència, foram atropelados por uma necessidade mais imediata. Na segunda viagem, desce no proto do Rio de Janeiro, com um recém-nascido nos braòos, à cuja mãe moribunda prometera que o assumiria e dele cuidaria. A dificuldade em encontrar quem recebesse o bebè, fa-lo pensar num orfanato para as crianças, que perdiam os pais na travessia ou em terra estrangeira longe dos seus. Começam ali o sonho e a porfia pela construção do Orfanato para meninos e, logo em seguida, para meninas, aos quais vai dedicar boa parte dos seus esforços nos meses seguintes à esta sua segunda e definitiva viagem ao Brasil, onde desembarcou a 26 (sic) de dezembro de 1894.

Em carta a Scalabrini de 31 de janeiro de 1895, apenas um mès após sua chegada, ja da conta das paredes do orfanato, que estão subindo: “A idéia [...] do Orfanato agradou a todos: ao Bispo, ao Consul, etc .. O Bispo me deu um lugar para a construção, por sinal adequado e muito valorizado. É uma colina na extremidade da cidade de São Paulo e é apropriado para a casa, para um bonito jardim, para tudo. Deo Gratias! Exatamente como eu tinha sonhado. Além disso, outorgou-me o patrimonio de uma capela com a casa ali, no mesmo lugar, para a residéncia de um missionario, que oriente todo o trabalho e que servirá muito bem de abrigo aos demais missionários. É urna beleza! Deus queria o Orfanato; eu o vejo, sinto e conheço. Deo Gratias! Formei um comité de senhoras, nomeando como presidente a esposa do Cónsul, a Condessa Brichanteau. Faço ali algumas conferéncias e elas choram diante de certos quadros que descrevo! E o dinheiro não me folta. Eu bato às portas, peço, trabalho, prego, confesso, exorto, mas estou sozinho; a messe é imensa. Se a visse! As paredes crescem; em dois meses, espero, estará pronto o reboco. A Providéncia, portanto, quis coroar as minhas esperanças, os meus votos e, talvez, também os seus. Emigrantes! Orfãos! Tudo providenciado”.[8]

4.3 A cidade: um mundo a conquistar e a curar

Um traço marcante de Marchetti é seu otimismo esperançoso: da cidade, onde Dom Macedo só enxergava descristianização e males, ele espera arrancar vocações; dos meninos de rua, cujo unico destino parecia ser a cadeia, ele espera arrancar apóstolos e novos missionarios: “Aqui na cidade, jà conheço 250 jovens italianos de rua. O governo queria construir uma espécie de cadeia para eles, e Jesus, em vez, me inspirou a recolhé-los à sombra do Santuario... Que belas Comunhões, que mudanças de vida! Que prazer ao Coração de Jesus! Sinto-me tão alegre e contente que fico fora de mim”.[9]

Na carta seguinte, ja da conta de dois jovens, que começam noviciado e estudos para se tomarem missionarios e de duas jovenzinhas, que dão os primeiros passos na vida religiosa: “Quanto à nossa residència aqui, a Providència do Senhor foi sem limites, porque não temos uma igrejinha com dois quartinhos, mas dois grandes Orfanatos, com duas belas igrejinhas independentes, onde nos podemos retemperar o espirito, educar para a missão os pequenos órfãos, que Deus chama ao sacerdocio e também os filhos do Emigrantes, os quais, mesmo não sendo órfãos, sentem-se vocacionados.

[...] O noviciado, como digo, jà o comecei e tenho dois jovens: um romano e um de Spezia. O primeiro, conheci-o em Roma, gosto dele, fi-lo vir e até agora não me enganei; o segundo é filho do meu mestre de obras, o qual, depois de ter passado a infància entre meninos abandonados da cidade, encontrou, no oceano, o Senhor, que lhe tocou o coração [...] Duas jovenzinhas, que se tornarão mais tarde Colombinas, como lhe disse, estão sendo formadas no espirito com as Irmãs Salesianas numa pequena casa, que me foi dada por D. Veridiana.[10]Assim se manifesta a obra da Providéncia. Deo Gratias ...”.[11]

Concluimos este excurso sobre a o mundo urbano. com a percepção certeira que o Pe. Marchetti tem do ambiente, em que se desenrola o seu apostolado numa cidade cosmopolita como São Paulo. O seu ideal de cuidar dos imigrantes italianos alarga-se imediatamente. Começa com um comitè de senhoras para auxilia-lo na coleta de fundos para o Orfanato em construção, cuja presidente é a senhora do Cònsul da Italiaso.[12]Alguns meses depois, muda de estratégia e seu comitè se alarga, incluindo senhoras de outras nacionalidades:

“Além disso, formei um comité de senhoras italianas, brasileiras, alemãs, portuguesas e espanholas. Dei-lhes algumas listas e lhes confiei o acabamento do Orfanato das Meninas. São vinte senhoras”.[13]De inìcio, também os órfãos, aos quais se destina a obra, são italianos. Mas bem depressa batem à sua porta pedidos por órfãos de outras nacionalidades, como este em favor de um órfão espanhol: “Antes mesmo de visitar o Asilo Cristoval (sic) Colombo, venho vater-lhe (sic, no lugar de 'bater-lhe', na classica dificuldade da língua castelhana de distinguir entre o 'b' e o 'v') à porta, pedindo hospitalidade e agasalho para o menor Andrés Garrido Sanches, filho de uma pobre viuva, que luta com dificuldades...”[14]

Começam, em seguida, a entrar de todas as nacionalidades. No esboço de regimento e programa do seu orfanato, que Pe. Marchetti batiza um pouco pomposamente mas com veracidade de "Orphelinato de Artes e Officios «Christovam Colombo», Seção dos Meninos na Villa Prudente de Moraes e das Meninas no Ypiranga", ja consta do regulamento que “Não serão recusados orphãos de outras procedéncias (leia-se, não italianos), assim como os que, não sendo órphãos, mas largados à vagabundagem, forem remetidos pelas autoridades competentes...”.[15]Com essa cláusula, Pe. Marchetti captava a benevolência das diferentes colônias de estrangeiros e autoridades locais, que podiam encontrar um destino para a infància abandonada da cidade. Isso vai se refletir, de imediato, nos apoios gue acodern, então, de todas as partes:

“De fato, para manter os órfãos, recebo uma verba do Governo Brasileiro, uma do Governo Italiano, uma do Governo Alemão, uma do Governo Espanhol, uma do Governo Portuguès, porque, para não suscitar particularidades, fiz as coisas, em geral, pelos Órphãos dos Imigrantes”.[16]

Se aparecem muitas contribuições, chegam também cobranças, como a da Baronesa de Dourados, que escreve de sua Fazenda Babylonia, pedindo que receba em São Paulo uma colona viúva, com seus filhos, e que arrume passagens para seu repatriamento para a Gènova, mas sem colocar recursos da própria fazenda. A propria colona, acompanhada dos filhos é a portadora da carta![17]Marchetti faz o que pode. Sem poder precisar, pela documentação, se se trata da mesma viúva ou de outra, ele se oferece para contribuir com a metade da passagem e solicita à "Banca Veneta Popolare" de Ribeirão Preto que a ajude com a outra metade, recebendo resposta positiva, com a confissão de que um banqueiro "não esta tão familiarizado com a caridade como o padre"![18]

O pedido revela um lado pouco investigado nos estudos sobre a imigração, o dos retornos forçados por desgraças familiares, como a da viuvez ou a das enfermedades; por saudades dos que ficaram e da terra natal, a célebre "malinconia" do emigrante; por inadaptação ao clima tropical e à dureza do trabalho agricola na fazenda de café; por desencanto com os parcos ganhos que se obtinham ou pelo peso de dividas contraídas com o fazendeiro; por desastres econòmicos, como em anos de geada, queda dos preços do café ou de recessão, seguida de quebradeira entre os fazendeiros, o que lançava ao desemprego milhares de colonos.

Zuleika Alvim analisa esses retornos, cujas cifras são muito altas, como estratégia de resistència dos colonos às quebras de contratos e promessas, assim como às duras e, muitas vezes, injustas condições de trabalho. Segundo Alvim, dos 1.383.756 italianos que entraram para o Brasil entre 1870 e 1920, 965.000 foram para o café em São Paulo, ou seja 70 do total. Calcula-se que 510.000 voltaram para a Italia no mesmo periodo, dos quais, perto de 400.000 abandonaram as fazendas de café em São Paulo, fazendo com que houvesse anos em que os retomos superassem as entradas de novos imigrantes.[19]Ao Pe. Marchetti tocou-lhe também lidar com esse outro lado da imigração e socorrer famìlias no desamparo, que desejavam ou necessitavam retomar ao torrão natal.

A cidade, enfim, exige qualificação e formação para o seu mundo do trabalho e é para ela que Marchetti prepara os seus órfãos e órfãs. Pensa o seu Orfanato, como um espaço de formação e qualificação para o trabalho, tanto para os meninos como para as meninas. Batiza-o como Orfanato de “Artes e Offcios” e esta sempre imaginando novas oficinas, que possam ampliar e diversificar os ramos de aprendizado, produzindo ao mesmo tempo alguma renda para a casa. “Estou tratando da implantação da tipografia. Solicito que me ajude a entrar em contato com algum periódico”.[20]Noutra passagem, escreve: “As ofícinas començam a funcionar. Os débitos deixam de existir […][21]

Mas ele cuida também da formação para a sensibilidade e a arte: “Dentro de poucos dias receberei de Verona os instrumentos para a Banda C. Colombo, composta por os instrumentos por nossos órfãozinhos”.[22]Sua padaria começa a funcionar como uma verdadeira "fabrica", pro vendo o Orfanato e vendendo para fora:

"Quanto ao pão. jti tenho oitenta quilos por dia, porque contratei dois padeiros, aluguei um forno, faço amassar de trezentos a quatrocentos quilos por dia, dos quais 100 quilos vão para a Santa Casa de Misericordia, 100 para o Seminário-Colégio, 50 para o Asilo e o restante para nos. O que se ganha, da para pagar os empregaõs e o pão que comemos”.[23]

Mas os planos do Pe. Marchetti não param por ai: “Pensare; também num modo de tirar gratuitamente o couro para azer sapatos, etc.”.[24]Imagina também as meninas preparadas para as artes domésticas, mas também como professoras, enfermeiras, costureiras, bordadeiras.

4.4. As fazendas: um mundo a visitar

Ele vai ocupar-se, de um lado, dos imigrantes no mundo urbano, na cidade de São Paulo e, de outro, dos imigrantes no mundo rural: os colonos das fazendas de café do interior paulista, mas não das colònias italianas do sul, atendidas pelos jesuitas italianos e depois pelos capuchinhos franceses, os palotinos e finalmente os escalabrinianos, a partir do Pe. Domènico Vicentini.

A palavra "colono" aplicada tanto para o imigrante que vai para as "colònias" das fazendas de café quanto para o que se instala numa "colonia" de pequenos proprietarios, pode confundir, pois, embora idènticas, dizem respeito a realidades bem distintas. Ha uma radical diferença entre o "colono" que recebe um lote de terra, no ambito de uma "colônia", isto é, de um espaço articulado com outros pequenos proprietarios, formando uma unidade que partindo de uma estrada, que corta o espigão, serve aos lotes dos dois lados da mesrna. Do alto da estrada, os lotes derivam à esquerda e à direita, até alcançarem, na baixada, um corrego que permita prover de agua as propriedades, cortadas perpendicularmente ao seu curso.

Os "colonos' dessas "colônias' são proprietarios de seus lotes coloniais, geralmente nos estados do sul do país. De outro lado, o "colono" que mora na "colônia" da fazenda de café, vive e trabalha em terra alheia e com um contrato de prestação de serviço, remunerado parte em espécie e parte em salario. Sua vida religiosa coletiva é também controlada e ritmada pelo dono da fazenda.[25]

Marchetti vai viajar pelas fazendas de café, buscando prestar assistência religiosa e humana aos colonos imigrantes, ali instalados. Sobre eles escreve com certa angustia depois de haver resolvido o problema dos órfãos na cidade de São Paulo: “Mas os pobres moribundos, os pobres italianos doentes, abandonados lá nas fazendas!”.[26]

Sua situação é inversa à das fundaçòes escalabrinianas no Rio Grande do Sul, entre os imigrantes italianos das colônias da serra gaucha. Para ali os missionarios foram chamados pelos proprios colonos, donos de seus pequenos lotes de terra e de seu próprio nariz e destino. Pe. Marchetti vai enfrentar duas realidades bem distintas desta anterior: a do imigrante na cidade e a do imigrante como "colono" sem terra nas fazendas de café. Enquanto as colônias do sul permitiam uma iniciativa do proprio imigrante e os nucleos destes pequenos proprietarios juntavam uma população bastante homogènea, vinda de um mesmo lugar ou pelo menos provincia, permitindo quase uma recriação da patria que haviam deixado, a fazenda de café era um cadinho de raças e linguas, fazendo com que bem depressa o portuguès, e não mais um dialeto italiano, fosse a lingua veicular de todos. Mais de cem anos depois, em muitas colônias gauchas, as famflias continuam falando o vèneto de bisavós e tataravós, enquanto a segunda, quando não a primeira geração da fazenda de café, ja tendia a perder sua identidade lingüística e suas raízes culturais.

Para a tradição religiosa, a experiência era a mesma: nas “colônias” de pequenos proprietarios do sul, possibilidade de iniciativa como a dos imigrantes de municipio de Alfredo Chaves que pediram com insistência a Scalabrini para que enviasse um missionario para sua colônia. Assim, em 1896, o Pe. Domenico Vicentini tomava posse na paroquia de Encantado.

Na fazenda de café, a capela pertencia ao fazendeiro e não aos colonos e só com sua autorização podiam os imigrantes receber um atendimento religioso sempre precario e transitorio, à passagem de um missionario ou mesmo do paroco da cidade mais proxima. Ao contrario da homogeneidade cultural e religiosa da "colônia" dos imigrantes com terra, a "colônia" da fazenda de café era o retrato da propria diversidade. Enquanto as "colônias' do sul recebiam sugestivamente os nomes das terras de origem: Nova Bassano (Bassano del Grappa na provincia de Vicenza), Nova Brescia, Nova Milano e assim por diante, as fazendas guardam os nomes portugueses e acolhem no mesmo lugar imigrantes italianos, espanhóis, alemães, austriacos e, mais tarde, japoneses.

Em visita à Fazenda Santa Veridiana, em 1892, relata um viajante, os sentimentos dos colonos: “[...] so de uma coisa se lamentava aquela brava gente, especialmente as mulheres e os velhos: a fazenda era provida de um farmaceutico que ocupava também o lugar de medico, tinha uma fanfarra com dirigente e tudo, era vizinha à estação [de trem] e tinha uma espécie de bar, onde se podia beber boa pinga, cerveja razoável e vinho horroroso, mas para a saude da alma, quase nada. Existia uma espécie de barracão com um altar que servia provisoriamente de oratorio, mas o padre estava longe e so vinha uma vez por semana e às vezes nem isso. «Muito pouco!». Exclamavam as mulheres e os velhos. E se alguém fica doente e morre, quem nos confessará e recomendará nossa alma ao Senhor? Além disso, se alguém morre, deve ser sepultado comocão (sic, talvez como pagão), como tantos renegados”.[27]

“Muito pouco” em termos de assistència religiosa, reclamavam os imigrantes da Fazenda Santa Veridiana. Na realidade, esta situação era excepcional. O normal, em outras fazendas, é que passasse o padre, a cada dois ou tres meses, e até mesmo, uma unica vez por ano.

Um outro observador de passagem por urna fazenda de café anotava: "É curiosa a forma de os colonos justificarem a falta para com certos deveres. Quando se reprovava às mães que se esqueciam de instruir normalmente os seus filhos nos preceitos religiosos [... ], elas respondiam que se encontravam numa terra de loucos e que os filhos não poderiam aprender nada sobre os ensinamentos religiosos. porque, por mais mais que tentassem lhes explicar qualquer coisa neste sentido [...], a auséncia de padres e de igrejas impedia as crianças de terem qualquer noção religiosa”.[28]

Cumpre notar que os colonos, pequenos proprietarios em terras do sul do país, não tinham também, de inìcio, nem padre, nem igreja, mas vivendo outra situação e não na "terra de loucos", como era a fazenda de café para o imigrante, encontravam saidas, por sua propria conta, edificando rapidamente uma capelinha, em torno da qual se desenvolviam espaços de lazer e educação: campo de "boccia", escola, barracas para festas e quermesses. Ao acicate de uma situação imprevista, como a morte de um companheiro e diante da necessidade de encomenda-lo, antes de sepulta-lo, ali mesmo na mata, onde abriam seu lote, apressavam-se a procurar um entre eles que soubesse ler e fosse mais chegado às coisas de Deus, para suplicarlhe: "Fai tu il prete". Constituìam, assim, os seus padres "leigos", que assumiam o cuidado da vida religiosa, moviarn-se para construir a capela e fazer dela o centro da vida da nascente comunidade.[29]

Galioto sintetiza os traços da vida religiosa inserida na realidade das colônias de pequenos proprietarios com sua capela e a função social, distinta das capelinhas construidas pelos fazendeiros das estãncias gauchas:

  1. Foram os proprietarios das fazendas e os latifundidrios que construfram as igrejas.
  2. Eram mantidas às custas da fazenda e mantidas em ordem, graças aos cuidados das esposas dos fazendeiros.
  3. Os lavradores, sempre assalariados, eram convidados apenas para a missa, os batizados e casamentos, mas nada faziam pela sua organização, construção e manutenção: eram elementos apenas passivos.
  4. Não se tornaram lugares da socialização (da comunidade), e a igrejinha foi usada exclusivamente para o culto, enquanto a vida social existente acontecia em volta da sede da fazenda.
Nas nossas capelas (das colônias de imigrantes), o processo foi inverso.


  1. Os proprios colonos sentiram a necessidade de ter uma capela e se organizaram como um grupo dirigente à frente de tudo e todo; de um modo ou de outro, colaboravam para sua construção.
  2. Os colonos deram a uma pessoa o encargo de ocupar-se da capela e todos colaboravam para a manutenção e para as reformas.
  3. As capelas não tiveram uma função unicamente liturgica ou de culto e tornaram-se centros de vida social e cultural, a tal ponto que o termo 'capela' deixou de significar apenas igreja (tempio), para significar:
a) Igreja
b) Cemitério,
c) Escola,
d) Salão de festas,
e) Campo esportivo.

Ainda hoje conserva um significado mais ampio. Capela, para muitos, é a igreja com os anexos jà citados acima, compreende as familias associadas, a região geografica, em que residem essas familias”[30]

Pe. Marchetti torna nitidamente posição em favor de se concentrar a atuação dos escalabrinianos no desafio maior constituido pelas fazendas de café do interior de São Paulo, criando equipes volantes de missionarios em vez de coloca-los como parocos fixos nas colônias de imigrantes do Rio Grande do Sul. Escreve, neste sentido, para Scalabrini:

“A minha Missão está quase cumprida: O que tenho a dizer é que se os nossos Padres não forem dois para o Parando quatro para o Rio de Janeiro, quatro para São Paulo, dois para Santa Catarina, etc. não concluiremos nada. Parece-me que se deva começar por suprir una provincia. Depois, se o Senhor manda apostolos, armar as nossas tendas numa mitra e assim poderemos fazer o bem. Mas se um vai como pároco de cá, outro de lá, como digo, não se conclui nada. Perceberão as vantagens essa ou aquela colônia que terá a sorte de possuir um padre missionario, mas as outras definharão como de costume.

Pelo contrario, quando em cada provincia tivermos uma casa-mãe. onde poderão ficar 10 ou 12 padres, esses bastarão para acudir os interesses materiais e espirituais dos colonos italianos. Poderão ir, dois a dois, às colônias e fazendas, demorar ali 10 ou 15 dias, despertar a fé, purificar as consciéncias, piantar Cruzes, em suma, realizar as Missões como fazem, na nossa terra, os zelosos Missionários de São Paulo da Cruz, etc. Isso, porém, não exclui que alguns, dois a dois, possam ser enviados como párocos, especialmente nas grandes colônias, de modo particular naquelas proximas às ciudades, onde a Maçonaria causa males imensos.

Direi mais: que nos ultimos tempos houve um despertar, também no clero brasileiro, no Seminario, de misto que eran, foram separados, como na Italia, postos gratuitos em abundància. As vocações começaram a ser numerosas. Ora, é natural que as paroquias sejam reservadas ao clero nativo. Neste ano, em São Paulo, criaram uma quantidade incrivel de novos párocos. Todavia, o bispo me disse que seriam necessários, quem dera, 100 Missiondrios dos nossos para pregar Missões aos italianos, Quaresmais na cidade e para cobrir certas vastissimas colônias, onde o contingente é todo italiano”.[31]

Nesta carta, Pe. Marchetti contempla ainda as duas modalidades de trabalho para os escalabrinianos: a do missionario itinerante e a do paroco fixo nas grandes colônias. Mais adiante, porém, retorna à sua insistência acerca da prioridade missionaria, com um juizo severo sobre as paroquias:

“A necessidade mais imperiosa da nossa Missão é aqui em São Paulo. Um padre aqui e outro acolá não fazem nada. Como não teriam feito nada os Jesuitas, os Salesianos, os Capuchinhos, etc. As paroquias são o túmulo do espirito da nossa Congregação”.[32]

No mesmo tom, escreve Pe. Marchetti, em janeiro de 1896, da cidade de Brodosqui, situada na Mogiana, vizinha a Ribeirão Preto, onde se encontravam as mais florescentes plantações de café:

“Esti-ve fazendo missão pelo interior do Estado de São Paulo, ao mesmo tempo fazia propaganda da obra. O Senhor abençoou as minhas fadigas, a Ele toda gratidão. Que pena, porém! Eu estou aqui, nesses imensos cafezais, onde estão espalhados tantos milhares de colonos, e nossas Irmãs e os órfãozinhos não tém o Padre, não tém a Santa Missa. As Esposas de Jesus não podem se unir a Ele, porque falta o ministro. Se eu nõão tivesse essa amargura, estaria felicissimo. Espero no entanto que, o quanto antes, V. Exª Ilma. e Revma., meditando o caso, enviará um Padre. Não o envie para ca ou para la, perdido numa colonia. Reuna-nos todos juntos, formaremos um corpo moral, de onde emergirá força moral e fisica. Emendo que centenas de colonias teriam necessidade de vigário, mas exatamente porque são muitas, não faremos nada, nunca. Por isso, quantos Padres se formem, quantos venham para São Paulo”.[33]

A insistència no trabalho missionario, em contraposição ao trabalho paroquial, torna-se, para ele, quase uma obsessão:

“Existimos para fazer o bem verdadeiro ãs almas e isso acontece somente com as missões e não com a disputa entre agentes. Quando formos uma corporação, bastará uma palavra, uma carta para fazer respeitar nossos colonos e os interesses deles. Se nos continuarmos indo de cá e de lá como vigarios, faremos como fazem os párocos na Italia, isto é, conseguiremos poucas conversões e o nome dos Missiondrios será esvaziado”.[34]Sente que seu tom se torna impertinente e por isso conclui: “Não falo mais nada. V. Exª Ilma. e Renna. compreende e isto basta”[35].

Mas como não é homem de desistir de suas idéias, em carta posterior a Scalabrini, não deixa de exprimir sua decepção de que suas prioridades não sejam as prioridades da congregação e de todos os seus membros:

“O Pe. Vicentini [...] vai para a fazenda e, em São Paulo, temos 2.245 fazendas importantes, que poderiam ser socorridas todas em um ano, se fóssemos ao menos seis. Fiat voluntas tua! Alé que o bom Jesus quiser me afligir, estarei sobre a Cruz: recordando que so pelo Calvário se sobe ao Céu. Porém, não deixarei jamais de reafirmar que nos faremos sempre furos na água, até que não sejamos Missionários de verdade. E o que me desagrada é que a nossa Congregação não formará nunca um corpo moral, que se imponha e que frutifique”.[36]

4.5. O mundo feminino: acudir e ser acudido

Podemos distinguir no mundo feminino, com que entra em contato Pe. Marchetti, o seu círculo familiar, onde se destacam sua mãe Carolina e sua irma Assunta: o mundo das que ele pensa em acudir, onde estão orfãs, mães, viúvas: o mundo das benfeitoras, senhoras às quais confia o esforço de levantar os fundos para a construção e manutenção dos orfanatos dos meninos e das meninas e finalmente o circulo das colaboradoras mais estreitas, as suas «Colombinas», que de inicio existem só nos seus sonhos e que se transformam em jovenzinhas postulantes antes mesmo que existisse a congregação, em "damas da caridade", em "Servas dos Órfaos e Abandonados", O que mudou o rumo da vida de Marchetti, o jovem capelão de navio de emigrantes. foi o olhar suplicante e exigente de uma jovem mãe moribunda, que colocou nas mãos do padre o seu bebè, arrancando-lhe a promessa de dele cuidar. Seria fácil, ao fim e ao cabo, pòr a criança numa famflia benévola e dar por cumprida e encerrada a promessa feita à mãe. Ao invés, Pe. Marchetti tomou consciència de um drama, que ultrapassava o caso individual daquela familia, drama que era um dos lados mais tristes do desgarrar-se da emigração: os que se perdiam pelo camino, deixando na orfandade crianças pequenas e, no desespero, jovens viúvas ou jovens viúvos, despreparados em terra estrangeira para superar sua tragédia pessoal e familiar. Encontrou no Conde José Vicente de Azevedo quem lhe desse imediatamente um terreno para construir o orfanato almejado. Mas é num comitè de senhoras que deposita a esperança de ir conseguindo no dia a dia tudo o que era necessario para construir, mas, depois, manter o orfanato. Se ali no convés do navio, o rumo de sua vida começou a mudar, o fim de sua jornada terrena foi igualmente marcado por outro gesto determinado pela doença e morte de outra mulher emigrante, não mais no mar, mas em terra. Pe. Marchetti estava em missão pela região de Jahu, então infestada pela febre amarela e pelo tifo. Ali, passando ao lado de uma casa, ouve o vagido de urna criança: “[...] un pianto desolato, senza conforto. Bussa alla porta: nessuna risposta. Chiama aiuto; qualcuno lo informa che il giorno prima ha visto portar fuori la salma dell'uomo: in casa, doveva essere rimasta la sposa con un bambino. Abbattono la porta e si arrestano sulla soglia di fronte a una scena, che ricorda le narrazioni delle antiche pestilenze: su un pagliericcio giace senza vita una povera italiana, ancora abbracciata al suo bambino vivo e piangente. Ai lati ardono due candele, accese da lei stessa prima di lasciarsi cadere per sempre. Il missionario stacca dalle braccia irrigidite nell'ultimo gesto d'amore la piccola creatura, prega per qualche minuto sulla salma della mamma e poi, come tante altre volte, incurante del contagio, torna di corsa all’Ipiranga, con l'orfanello in braccio”.[37]

Foi, provavelmente este ultimo gesto de extrema caridade que o fez retornar a São Paulo, ardendo em febre e receber o diagnostico fatal de que havia contraido o tifo que o levaria, poucos dias depois, à morte.

Diante da perspectiva de acolher tanto meninos como meninas no seu orfanato, Marchetti passa a sonhar com voluntarias femininas. Diante das hesitações de Scalabrini em abrir um ramo missionario feminino, ele vai buscar as primeiras voluntarias em sua propria casa, atraindo a mãe viúva e a irma solteira, com duas outras jovens. Não sabe como chama-las. Primeiro fala das "Colombinas", quando o Cònsul italiano em São Paulo sugere que assumam a enfermagem do Hospital Italiano (depois Umberto I).

Está ha apenas um mès no Brasil e ja escreve a Scalabrini: “Eis um novo ninho para as minhas Colombinas de Jesus!”.[38]E continua sonhando de olhos abertos: “Tenho algumas prontas para o noviciado. Quando abrir o orfanato, as Colombinas mais robustas irão servir Jesus doente. Na mesma casa haverá o noviciado e muitas órfãs se tornarão Irmãs!”.[39]

Enquanto pede, em vão, que lhe seja enviado um Missionario pelo menos, para dividirem juntos tantas frentes de trabalho, que foram abertas ao mesmo tempo, vai devagarinho se fixando nas suas "Colombinas". Seu olhar volta-se para a Italia, mas bem depressa é aqui mesmo no Brasil que ira entrevendo suas futuras colaboradoras.

Dois meses e meio depois de sua chegada a São Paulo, ja pode anunciar exultante: “la tenho duas jovenzinhas de espirito, que parecem daquelas mandadas por Deus ao Ven. Cottolengo: uma senhora me deu uma casa, onde estas se preparam sempre mais na virtude, junto às irmãs Salesianas. Deo Gratias! E depois, não tehno as minhas Colombinas?”.[40]

Marchetti sabe bem o que quer dessas futuras colaboradoras, mas não sabe qual a forma que tomara o seu compromisso: “Quanto às Colombinas, por enquanto, serão damas de caridade; quando tiverem dado prova, poderão realmente formar uma Congregação; são muito necessárias e sinto que Jesus as quer para eliminar uma chaga na Imigração, que os Padres não poderiam eliminar[41].

O que ele espera dessas colaboradoras, está descrito na mesma carta: “A casa para as futuras Colombinas de Jesus já cresceu mais um pouco. La dentro poderão ser recebidas, neste momento, 80 meninas, as quais, sob as asas destas Colombinas serão 80 anjos, em vez de 80 desgraçadas. Deo Gratias! Estou negociando para colocar as nossas Colombinas também no hospital Umberto I, que abrirão dentro de pouco tempo. Ao seu interior serão levados os emigrantes doentes. Por que as nossas Colombinas não deverão cuidar deles? Assim a nossa Missão será cumprida. Pega os emigrantes, embarca-os, acompanha-os na travessia do mar, acolhe em seu seio os órfãos, tem um sorriso e um conforto para os doentes, leva-os ao trabalho, volta a visitá-los, enxuga-lhes as ldgrimas e os reconduz ao solo nativo. Deo gratias!”.[42]

Nesse meio tempo, ele mexe os pauzinhos também na Italia, como informa ao bispo Scalabrini, deixado de um certo modo para tras, pela rapidez das iniciativas do jovem sacerdote, que ele havia enviado apenas como um sacerdote externo do seu Instituto: “Partirá na expedição de julho minha mãe, com as minhas irmãs e duas noviças, que estão em Firenze preparando o ámimo ao espírito de sacrificio e do amor de Deus. Duas estão aqui e, assim, teremos sete ou oito delas. Deo Gratias! Pensaremos nas suas vestes. Que alegria seá para mim poder conduzir, eu mesmo, 8 Missionarios e 8 Missionárias!”.[43]Mas como tudo isso esta ainda no campo dos sonhos e dos desejos, ele conclui: “Meu Deus, fazei vir depressa esse momento, para contentar o vosso servo!”.[44].

Em outubro estará na Italia, para trazer o grupinho de voluntarias, disposto a acornpanha-lo na sua aventura brasileira, constituido por “Carolina Marchetti, superiora, Assunta Marchetti, Maria Franceschini e Angela Larini. As duas ultimas foram educadas pelo mesmo Marchetti no espirito apostolico, quando ele era economo de Compignano e haviam terminado de se preparar nos mosteiros de Florença”.[45].

“Na manhã do dia 25 de outubro de 1895, na Capela do bispado de Piacenza, Italia, Dom João Batista Scalabrini celebrou a missa com o pequeno grupo. Depois benzeu os crucifixos e os entregou às quatro religiosas: 'Eis o companheiro indivisivel nas vossas peregrinações apostolicas, eis o vosso infalível conforto, quer na vida, quer na morte'. Era a celebração do envio missionario”.[46]

A 20 de novembro de 1895, o pequeno grupo missionario chegou a Santos e já subiu para São Paulo. A 8 de dezembro era inaugurado o Orfanato Cristõvão Colombo, cuja direção interna foi confiada a Carolina Marchetti. Prestando contas, ele escreve sobre esse dia:“No dia 8 de dezembro de 1895, foi feita a inauguração deste primeiro Orfanato, sendo confiado a partir deste dia á Superiora das Servas dos Órfãos e Abandonados no Exterior, Revda. Senhora Carolina Marchetti, mãe do Fundador e fundadora cooperadora”[47].

Nos Estatutos do Órfanato, (revela-se) a precaução de Marchetti de assegurar um minimo de espaço de autonomia dentro de uma mesma congregação dirigida por homens; para suas colaboradoras, esta inserito no # 8: “A seção das meninas estará entregue às Irmãs e Damas de Caridade da mesma congregação, sob a direção de uma superiora. O Director só se incumbirá dos officios religiosos e da administração exterior e temporal”.[48]

A disposição é reforçada no # 11: “A colocação das meninas adultas estará exclusivamente a cargo de um conselho de Damas de Caridade presidido pela Superiora, que harmonizará as exigéncias da idade com a vontade e a disposição das meninas”.[49]O paragrafo, ao mesmo tempo que busca evitar qualquer ingerència externa, no caso, dos padres da congregação, em decisão tão crucial como o futuro das órfàs ja moças, introduz a norma de que a vontade e a disposição das meninas seja tomada em conta e respeitada neste assunto grave do rumo de suas vidas.

Nesse seu relacionamento com as mulheres, de modo especial com suas colaboradoras, Pe. Marchetti deixa transparecer grande liberdade e confiança, não hesitando em acolhè-las, propondolhes a possibilidade de prestar um real serviço, sem discriminar nem a juventude de umas, nem a viúvez de outras, cujo acesso a determinada congregação fora recusado. Para ele, parece haver sempre espaço e lugar, para quantas vocações missionarias e de prestação de serviço, aparecessem: “A proposito das Irmãs, a Providéncia me mandou aqui, da Italia, duas jovens otimas ao objetivo (uma professora, a outra costureíra e bordadeíra). Deo gratias!”[50].

A essa altura, estamos ainda em abril de 1895 e as paredes do Orfanato ainda estão saindo dos alicerces! Em 12 de dezembro, ja com o Orfanato recém-inaugurado, volta a escrever a Scalabrini: “O Senhor me mandou, ainda, outras duas Servas, mulheres integras, que se preparavam para entrar com as Missionárias de São José, mas não puderam ser aceitas, uma porque tem idade avançada e outra, porque é viúva. Ambas foram educadas ao espirito apostolico pelo Padre Parisi, jesuita, e nosso diretor espiritual”.[51]

Ao final da carta, da a medida de quanto a “familia” esta aumentada: “Minha mãe, com as outras cinco Servas, quatro viúvas internas e os primeiros vinte orfãozinhos envíam a V. Ex. a uma saucdaçao ardente”.[52]

Mas é também nessas crianças, que vão ser acolhidas, que o Pe. Marchetti deposita mil esperanças, vendo nelas agentes de um futuro trabalho educativo, social e religioso junto aos colonos: “Entre as meninas surgirão costureiras, mestras que irão depois pelas colónias ensinar, educar. etc. E sairão também religiosas, que assistirão os nossos doentes, etc. etc. Entre os meninos surgirão artistas, professores, missiondrios, leigos, etc... etc. que irão assistir os colonos, instrui-los. etc. etc.”.[53]

Essa confiança nas pessoas, na sua capacidade de crescer, aprender e de dedicar-se aos outros, é que deve ter atraído tanta entrega generosa em torno ao Pe. Marchetti, que plantou as sementes não so do Orfanato, mas também da futura congregação das Irmãs Missionarias de São Carlos, cuja autonomia em relação à Congregação dos Padres Carlistas e sua separação das Apostolas do Sagrado Coração, so acontecera em 1907.[54]

O grupinho das primeiras servas conseguiu do bispo Dom Arcoverde, futuro cardeal do Rio de Janeiro, acolhida simpatica e promessa de empenho a seu favor, como se depreende da carta dirigida a Scalabrini: “Dal canto mio farò tutto quello che potrò per la sua Congregazione di S. Carlos e per le ancelle dei derelitti”.[55]

Mas parece ter sido di ferente sua atitude apos a morte do Pe. Marchetti. Recebendo o seu sucessor à frente do Orfanato, o Pe. Faustino Consoni, este relata o dialogo com o bispo: “O que mais me chamou a atenção foi a frase que ele pronunciou a respeito das Irmãs que estão aqui no Orfanato, dizendo: «0 que fazem aquelas mulheres, lá no orfanato?» Foi uma palavra muito humilhante para mim”.[56]Pe. Marchetti sabia muito bem o que faziam aquelas mulheres, entre as quais estavam sua mãe e sua irma, entre os seus órfãos, entregues em cuidar da vida e da formação daquelas crianças.

Conclusão

O tema da "vita brevis", da vida curta, mas cheia de frutos, aplica-se perfeitamente à trajetoria terrena do Pe. Marchetti, fugaz como um meteoro,[57]mas que deixou um rastro permanente de luz. Cabe-lhe tambérn, à perfeição, a maxima evangélica de que "a árvore boa da bons frutos",[58]e de que "pelos seus frutos os conhecereis”.[59]

Teve também algumas intuiçòes certeiras quanto aos desafios do seu tempo, muitos dos quais continuam sendo desafios dos nossos dias. Viveu em meio ao grande fenomeno migratório que, entre 1850 e 1914, fez partir da Europa para a América, mas também para o sul da Africa e para a Australia, cerca de 70 milhòes de emigrantes. Captou que a grande maioria partia, na realidade, tangida pela necessidade, pela fome e pela miragem de uma vida melhor. Partiam desgarrados, “como ovelhas sem pastor”.[60]

Hoje, o tema destes migrantes forçados por guerras civis, catastrofes naturais, limpezas étnicas, mas sobretudo desastres econòmicos com desemprego maciço, gerando os assim chamados "refugiados econòmicos", tornou-se uma das principais agendas da politica internacional e preocupação maior das agèncias humanitarias.

Percebeu que essa aventura e muitas vezes drama humano, afetava indistintamente homens e mulheres, crianças e adultos, reconhecendo que para importantes areas do atendimento a estas pessoas e também do apostolado, só a mulher poderia dar urna resposta, convertendo-se em "boa noticia" na vida destas pessoas e anúncio "da bondade e humanidade de Deus, nosso Salvador".[61]

Sem teorizar nenhum desses temas, nem o da mobilidade humana, condição cada vez mais corrente das pessoas, neste limiar do terceiro milènio, nem o da atual revolução feminista, antecipava algumas das questões fundamentais do século seguinte.

Do mesmo modo, sem falar, uma unica vez em Leão XIII, em todas suas cartas, e nem sequer al udir à «Rerum Novarum» ( 1891) e ao desdobramento social do evangelho, fez de sua vida um luminoso exemplo de como a questão social podia ser enfrentada e, em parte, solucionada, a partir da fé e do compromisso cristão.

Não polemiza, em momento algum, como o faz de resto a «Rerum Novarum», com anarquistas e socialistas, mas debruça-se sobre todo e qualquer sofrimento humano, sem perguntar-se pela cor politica ou ideológica do sofredor.

Atitude singular em tempos de confronto, de intransigència política e de duros embates que contrapuseram a Igreja às duas grandes vertentes ideológicas da modemidade: o liberalismo da revolução francesa e do "risorgimento" italiano e o anarquismo, o socialismo e o comunismo das jornadas revolucionarias de 1848, da Comuna de Paris em 1871 e da revolução russa em 1917.

Marchetti vinha de uma Igreja intransigente, que não havia assimilado a perda dos estados pontiffcios e a ascensão dos liberais de Cavour e Mazzini, que se arrepiava com os revolucionarios garibaldinos que, em pleno Concilio Vaticano I, através da brecha da Porta Pia, haviam liquidado o secular dominio temporal dos papas sobre Roma.

Mas vinha tambérn dos ambientes minoritarios dos bispos Scalabrini e Bonomelli, que propunham o dialogo com o Estado italiano e a superação da assim chamada "Questão Romana", para que, tanto a Igreja como as organizações da sociedade civil, os partidos e o estado, abandonassem um confronto estéril e se concentrassem nos reais e angustiantes problemas do povo: as péssimas condições de trabalho e de vida do operariado e do campesinato, a questão emigratoria, as profundas desigualdades entre o norte e o sul da Italia, o analfabetismo popular, o êxodo para as cidades.

Marchetti guardava, é certo, resquícios dos antagonismos de seu tempo, no que tange à Maçonaria, expressando varias vezes sua preocupação, mas revelando sua surpresa e contentamento de que até os maçons andavam contribuindo para a construção do Orfanato Cristovão Colombo.

Toda sua ação vinha impregnada de um profundo realismo pratico, pautado mais pelas necessidades concretas dos que sofriam do que por divisões e esquemas ideológicos. O que contava, para ele, era a norma evangélica:

Pois eu estava comfome, e Vocês me deram de comer;
eu estava com sede, e me deram de beber;
eu era estrangeiro, e me receberam em sua casa; eu estava sem roupa, e me vestiram;
eu estava doente, e cuidaram de mim;
eu estava na prisão, e Vocês foram me visitar”.
[62]

Viveu também, até ao extremo de dar a propria vida, as exigências da caridade, fazendo da parabola do Bom Samaritano, não uma lição de moral para os outros, mas um roteiro de vida para si: “Va efaça a mesma coisa”.[63]

Antecipou-se, num outro ponto, a um dos dilemas maiores da Igreja na época liberal. Para o liberalismo, a religião devia ser expulsa de todos os dorninios da vida publica: da politica à economia, do social ao cultural, tornando-se apenas uma questão privada a ser decidida no foro intimo de cada individuo e restrita, quando muito, à esfera familiar, ou seja à esfera das crianças e de mulheres, restritas que estavam ao mundo doméstico e sem trabalho fora de casa.

Mesmo combatendo o liberalismo, setores majoritarios da Igreja recolheram-se aos templos e à esfera doméstica, levando ali um combate de retaguarda contra o laicismo. Ali, a alma de todo apostolado tornava-se apenas a oração e o Sagrado Coração de Jesus, a forma central de apresentação do Cristo a ser encontrado no recondito do sacrario e a ser entronizado nos lares. O Coração de Jesus tendia a tornar-se uma devoção, vivida principalmente na pratica das nove primeiras sextas-feiras do mès. A figura de Cristo era repassada, não mais a partir dos evangelhos mas sim dos escritos e aparições a Margarida Maria Alacoque. Anos depois, quando se tomou consciência do perigo para a fé e para a vida de uma Igreja fechada dentro dos proprios muros, refugiada nos templos e em devoções, com dificuldades para enfrentar as perguntas do mundo do trabalho, da razão, da ciència, da politica, da economia e da cultura moderna, Pio XI deu pleno apoio ã Ação Catolica e Pio XII vai falar da tarefa dos leigos de se aplicarem à "consecratio mundi", à consagração do mundo. A figura de Cristo, que se propunha, transitado Coração de Jesus para a do Cristo Rei, que devia reinar não só nos coraçòes das pessoas, assegurando a salvação individuaI de cada um, não só no recondito dos lares, alentando a santificação das famflias, mas também na sociedade, nas fabricas, nas universidades, na imprensa, na atividade política, social e cultural.

Havia, é certo, em muitos, a ilusão de se construir uma nova cristandade, sem o respeito à autonomia de todas estas esferas, reconhecida mais tarde no Vaticano II, mas a Ação Catolica representou, sem dúvida, o fim de um projeto de igreja fechada sobre si mesma. Pe. Marchetti antecipou-se a muitos desses dilernas, assumindo, sem muitas perguntas, essa projeção do evangelho nos demais campos da vida e, de modo particular, na esfera do social, fugindo ao que Paulo VI dizia ter sido o maior pecado da Igreja nos tempos modernos: a separação entre a fé e a vida. Vida está compreendida aqui, em seus desdobramentos por todas as esferas do humano. Nele, estava presente a oração e a piedade e, o que seria o apanagio da Ação Católica, a ação evangelizadora la onde se encontravam as pessoas, nos seus trabalhos e lides quotidianas. Pe. Marchetti percorreu, assim, as fazendas do interior paulista buscando os imigrantes, assim como os bairros de São Paulo, em busca dos órfãos e dos jovens abandonados nas ruas.

Um seu conternporàneo, o Pe. Julio Maria (1850-1916),[64]em conferèncias que ficaram célebres em São Paulo, pregava o reconhecimento da Republica por parte da Igreja, conclamando-a para que fizesse uso da liberdade reconquistada e se aplicasse à tarefa evangelizadora. Italiano e sem vinculos com a anterior situação monarquista, Pe. Marchetti não sentia nenhum constrangimento em procurar as autoridades civis do novo regime republicano e de solicitar sua colaboração, quando se tratava de socorrer aos orfãos. O município estendeu a linha dos bondes na direção do Orfanato. O Governo concedeu-lhe verbas para o seu funcionamento, em tempos de estrita proibição constitucional, vedando qualquer relacionamento entre poderes públicos e Igreja e sobretudo a concessão de subvençòes. Antecipava, de certo modo, a situação alcançada, quarenta anos mais tarde, na Constituinte de 1934. Ali, reconhece-se que a separação entre Igreja e Estado não devia impedir a sua colaboração em areas de interesse do bem comum e de serviços à população,

Júlio Maria pregava ainda, como a questão maior, "a aliança entre a Igreja e o Povo" Quando verberava que a Igreja estava longe do povo, queria dizer que, encerrada nas sacristias, estava ausente dos lugares, onde a sociedade se construìa e distante das diversas classes sociais, com os seus problemas e conflitos. Interpelava seus ouvintes, dizendo que Jesus era o Deus dos meninos, o Deus dos operarios, o Deus dos pobres e dos miseraveis, mas também o Deus dos ricos, dos sabios e dos letrados e que a cada um deles devia ser levada a palavra exigente do evangelho. Pe. Marchetti viveu intensamente em meio ao povo dos imigrantes e, a partir dai, de suas necessidades e sofrimentos, dirigiu-se aos outros grupos sociais, incluindo ricos como o Conde José Vicente de Azevedo, que lhe doou o terreno para o Orfanato do Ipiranga, os Irmãos Falchi, que doaram o terreno para o Orfanato de Vila Prudente, Dona Veri Diana Prado e senhoras da alta sociedade, cònsules e políticos, mas também aos próprios imigrantes.

Nos seus "apelos", folhinhas volantes que distribuia em suas andanças, pedia que se somassem ao esforço de construir e manter estes espaços de atendimento e formação dos órfãos dos próprios imigrantes, oferecendo o equivalente a tres dias de seu salario anual. Morreu vitima deste seu encontro com o povo, na sua realidade quotidiana, vulneravel e indefeso na sua condição de estrangeiros, de trabalhadores pobres, expostos às epidemias, que o descaso e o descuido das autoridades tomavam ainda mais devastadoras e mortiferas.

Eduardo Prado, o escritor e critico mordaz dos rumos da nascente República, no seu livro a "Ilusão Americana", escreveu um artigo à morte do Pe. Marchetti, revelando um lado pouco conhecido de sua figura humana: “Quem escreve estas linhas viu pela primeira vez esse padre no vaporzinho que conduz os passageiros de Santos a Guarujá, e aquela figura doce e simpatica gravou-se-lhe na memoria. No dia seguinte, ouviu tocar, no salão do hotel, uma melodia de Schumann, executada com raro sentimento. Levado pela curiosidade, penetrou no salão, e o artista levantou-se do piano, corando como surpreendido e vexado. Era o joven Pe. Marchetti”.[65]

Santo Tomas coloca na Suma Teológica, como atributos fundamentais de Deus, o "unum", que revela a simplicidade de Deus e a infinidade de sua perfeição; o "verum", que ilumina e deleita a mente, o "bonum" que atrai a vontade e de onde derivam a bondade e a compaixão. Mas, como que coroando os atributos divinos, alinha o “pulchrum”, o belo.[66]A beleza é como o esplendor. que envolve os outros très atributos e. na ordem terrena. é como o sorriso de Deus em suas criaturas. Pe. Marchetti, que fez de sua vida um caminho de veracidade, de bondade e compaixão, não descurou da beleza da musica e nem deixou de leva-la aos seus órfãos, fazendo vir da Italia os instrumentos musicais para a Banda do Cristovão Colombo.

Marchetti cuidava do alimento para o corpo, despertava as crianças para o encontro com Deus, nutrindo-as espiritualmente, preparava-as para a vida e o trabalho, pela educação e pelo treinamento profissional, mas partilhava com elas sua paixão pela musica, introduzindo-as também nos espaços da imaginação, na construção e no desfrute do belo e do prazer estético, como dimensòes de vida plena.

NOTAS

  1. "[. .. ] aprendam a fazer o bem: busquem o direito, socorram o oprimido, façam justiça ao orfão, defendam a causa da niúva" (Is. l. 17).
  2. BONDI, o. cit., p. 60.
  3. Carta do Pe. J. Marchetti a Dom J. B. Scalabrini, Sào Paulo, 12-12-95, p. 38.
  4. Pe. Pietro Maldotti, um padre scalabriniano, havia organizado no porto de Genova, junto ao Oratorio de "San Giovanni di Prè", uma pequena casa de acolhida, de apoio e de hospedagem para os que partiam. Cfr. FRANCESCONI, o. cit., p. 19.
  5. Ibidem, pp. 22-23.
  6. FRANCESCONI, o.c.it, pp. 16-17.
  7. Ibidem, p. 22.
  8. Carta de G. Marchetti a J. B. Scalabrini, São Paulo, 31-01-1895, pp. 14-15.
  9. Carta de G. Marchetti a J. B. Scalabrini, São Paulo, 10-03-1894, p. 18.
  10. Trata-se de Dona Veridiana Prado, casada com o fazendeiro Martinho Prado, em cuja casa, no salão mais prestigiado para encontros e saraus, reuniam-se literatos e a elite da cidade. Por outro lado, destacou-se como grande benemérita de obras sociais e caritativas. Muito lhe devem a Santa Casa da Misericordia de São Paulo, o Liceu Sagrado Coração de Jesus dos Salesianos e o Orfanato do Pe. Marchetti, entre outras instituições. Sobre ela e Pe. Marchetti, escreve Francesconi: “Quante volte ha bussato invano al portone della baronessa Veridiana Prado: ma la prima a stancarsi è la nobildonna, che concede finalmente udienza all'importuno mendicante, decisa a por termine alla seccatura. Alla fine del colloquio, iniziato con sostenutezza se non con disprezo, gli dona tutto il legname ocorrente alla costruzione dell'orfanotrofio, e poi quasi si giustifica con gli altri, esclamando: 'Quel sacerdote porta scolpite nel volto le bellezze delle virtù divine'”, apud FRANCESCONI, MARIO, Come una meteora - Padre Giuseppe Marchetti (1869-1896), Centro Missionario Scalabriniano, Piacenza, 1969, p. 40-41.
  11. Carta de G. Marchetti a J. B. Scalabrini, São Paulo, 29-03-1894, p. 22.
  12. Carta de G. Marchetti a J. B. Scalabrini, São Paulo, 31-01-1895, p. 14.
  13. Carta de G. Marchetti a J. B. Scalabrini, São Paulo, 29-03-1895, p. 24.
  14. Carta do Vice-Cònsul da Espanha ao Pe. Marchetti. São Paulo 30-01-1896. Meses depois chega outro pedido do mesmo Vice-Consulado: "Peço encarecidamente a V. Reverència, sirva-se acolher n'esse Orphanato ao pequeno Adolfo Diaz de idade de sete anos, filho de José Diaz e Flora Velasco, casal hespanhol de boa conducta". Carta do Senador G. Teixeira de Carvalho - Vice-cònsul de Hespanha (sic) ao Diretor do Orphanato Cristovão Colombo - Pe. José Marchetti. São Paulo, 10-04-1896.
  15. AC - Programma do Orphelinato de Artes e Officios "Christovarn Colombo" - Clausula 13".
  16. Carta de G. Marchetti a J. B. Scalabrini, São Paulo, 10-03- 1895, p. 19. (Tradução do autor do original).
  17. “Tenho a honra de lembra r à S. S. (Sua Senhoria ?) que no fim de julho p.p. quando angariou na minha fazenda as subscripções para sua obra, prometteu à uma viúva de colono desta fazenda, de rapatriar (sic) ella e os filos, depois de terminada a colheita. Portadora desta carta, a viúva Monte-Eduardo segue para São Paulo com seus filhos e vai pedir a V. R. a passagem até Gènova. Agradecendo desde jà S. S. o que fizer por esta colona, subscrevo-me” [...]. Carta de José Luiz d'Alª Borges, em nome da Baroneza de Dourados, Fazenda Babylonia, 08-09- 1896.
  18. “Quella povera vedova, che deve ritornarsene in Italia e di cui gentilmente e caritatevolmente faceste l'offerta della metà delle spese che le occorrono per ridursi in patria, à la portatrice della presente. Noi le abbiamo rilasciato un ordine su i Signori Crestal & Marini per Rs. 50$000 che avrete la compiacenza di farle ritirare, non essendo lei stessa capace alla bisogna. A voi, o egregio Padre, che la carità è più familiare che a noi, non mancheranno i mezzi per rendere maggiori i benefizi, vi preghiamo fargli ottenere il biglietto di passaggio per il vapore 'Minas' e l'occorrente perché potesse recarsi a Torino”. Carta do Procurador da Banca Veneta Popolare, J. Ardine C. ão Pe. Marchetti, Ribeirão Preto, 04- 11 - 1896.
  19. Cfr. ALVIM, ZULEIKA M. F., Brava gente! Os italianos em São Paulo (1870- 1920). Brasiliense, 1986, de modo particular o capitulo "A resistència do dia a dia ", pp. 115-177.
  20. Carta do Pe. J. Marchetti a Dom J. B. Scalabrini, São Paulo 25-03-1896, p. 52.
  21. Ibidem, p. 52
  22. Ibidem, p. 52.
  23. Carta do Pe. J. Marchetti a Dom J. B. Scalabrini, São Paulo 12-10-1896, p. 54.
  24. Ibidem, p. 54.
  25. “Nos missionários somos bem recebidos e ajudados por aqueles proprietários bons e piedosos, e estes tratam bem os seus colonos. Os fazendeiros que deixam a desejar, ou que não pagam, ou que maltratam seus colonos, mantêm as portas fechadas, e não permitem portanto aos pobres missionários de aliviar pelo menos o espirito desses trabalhadores maltratados”. Carta de Faustino Consoni a J. B. Scalabrini, 10-02-1902 - Arquivo Geral da Congregação Escalabriniana. Roma. citado por AZZI, o. cit., vol. I, p. 190, nota 99.
  26. Carta de J. Marchetti a J. B. Scalabrini, São Paulo, 31-01-95, p. 15.
  27. GROSSI, V., Gli italiani a San Paolo, in Nuova Antologia. Roma LXV (XVII¬I): set. 1896, p. 247-8, apud, Brava Gente! Os italianos em Sãio Paulo, 1870-1920, Brasiliense, 1986. ZULEIKA, o. cit., p. 164.
  28. Ibidem, cit., p. 165.
  29. ZAGONEL, CARLOS ALBINO, Igreja e Imigração Italiana - Capuchinhos de Saboia. Um contributo para a Igreja do Rio Grande do Sul (1895-1915), Sulina, Porto Alegre, 1975, pp. 55-56.
  30. GALlOTO A., As nossas capetas, in Enfoque, n° 20, Bento Gonçalves, citado por DE BONI, LUIZ A, e ROVILO COSTA, Euroamericani - La popolazione di origine italiana in Brasile. Fondazione Giovanni Agnelli,Torino, 1987, vol. III, pp. 64-65, nota 6 (tradução do autor).
  31. Carta de G. Marchetti a J. B. Scalabrini, São Paulo, 14-06-1895, p. 34
  32. Carta de G. Marchetti a J. B. Scalabrini, São Paulo, 12-01-1896, p. 43.
  33. Carta de G. Marchetti a J. B. Scalabrini, Brodosqui, 31-01-1896, p. 52.
  34. Carta de G. Marchetti a J. B. Scalabrini. Suo Paulo. 31-01-1896, p. 46.
  35. Ibidem, p. 46.
  36. Carta de G. Marchetti a J. B. Scalabrini, São Paulo, 25-03-1896, p. 52.
  37. FRANCESCONI, o. cit., pp. 46-47.
  38. Carta do Pe. Marchetti a Dom J. B. Scalabrini, São Paulo, 31-01-95, p. 15.
  39. Ibidem, p. 15.
  40. Carta do Pe. J. Marchetti a Dom J. B. Scalabrini, São Paulo 10-03-1895, p. 19.
  41. Carta do Pe. J. Marchetti a Dom J. B. Scalabrini, São Paulo 04-04-1895, p. 29.
  42. Carta do Pe. J. Marchetti a Dom J. B. Scalabrini, São Paulo 04-04-1895, p. 28.
  43. Ibidem, p. 29.
  44. Ibidem, p. 29.
  45. BENEDETTI, EUGENIO, Partenza di D. Marchetti. "L'Esare", Lucca, 30 Ottobre 1895, Anno IX, n. 249, l, 3c. citado por SIGNOR, o. cit., p. 166.
  46. MELO, SONIA e IVO PRATI, In memoriam - Padre José Marchetti ( 1896-1996), Fotoprint, São Paulo, 1996. p. 18.
  47. MARCHETTI, GIUSEPPE, Resoconto generale delle spese fatte per l 'Orfanotrofio di Ipiranga, 15.2.1895 - 8.2.1895 (AGSS. 1.2/4 - copialo citado por SIGNOR, o. cit., p. 173.
  48. AC - Programma do Orphelinato de Artes e Officios "Christovam Colombo" - Clausula 8ª.
  49. AC - Programma do Orphelinato de Artes e Officios "Christovarn Colombo" - Clausula 11ª.
  50. Carta do Pe. J. Marchetti a Dom J. B. Scalabrini, São Paulo 17-04-1895. p. 32.
  51. Carta do Pe. J. Marchetti a Dom J. B. Scalabrini, São Paulo 12-12-1895. p. 37.
  52. Ibidem, p. 38.
  53. Carta do Pe. J. Marchetti a Dom J. B. Scalabrini, São Paulo 10-03-1895, p. 18.
  54. Para uma visão critica destes primordios das Servas e depois Missionarias de São Carlos e de sua luta pela autonomia do seu Instituto e pela propria identidade, cfr. SIGNOR, o. cit., pp. 188-202.
  55. Carta de Dom Gioacchino (sic) Arcoverde a Dom Scalabrini, San Paulo. 18- 02-1896.
  56. AZZI, o. cit., p. 175.
  57. "Come lilla meteora" é o titulo do livro de Mario Francesconi sobre o Pe. Marchetti.
  58. Mt.7.17.
  59. Mt. 7.20.
  60. Mc. 6, 34.
  61. Tt. 3,4.
  62. Mt. 25,35-36.
  63. Lc. 10, 37b.
  64. BEOZZO, JOSÉ OSCAR, "Pe. Julio Maria - Villa teologia liberal-republicana nutna lgreja monarquista e conservadora ", in CEHILA, Historia da Teologia na America Latina, Paulinas. 1981, pp. 107-126.
  65. PRADO, EDUARDO, O Pe. Marchetti - 15-12-1896, in Coletâneas de Eduardo Prado, vol. II, Livraria A. Campos, São Paulo. s.d.
  66. Santo Tornas define o belo como "o que agrada à vista" ("Pulchra sunt, quae visa placent": S. Th., I. q. 5ª, 4 ad I). Santo Agostinho caracteriza a beleza como o "esplendor da ordem" ("splendor ordinis", De vera Rel., cap. IV, n. 77) e Santo Alberto Magno, mestre de São Tornas, como o "esplendor da forma" (“splendor formae” In Dion. De divinis nom.): cfr. "Schonheit' in LThK B. 9. 455-456.


JOSÉ OSCAR BEOZZO