PORTO ALEGRE; (Rio Grande do Sul) – Arquidiocese

De Dicionário de História Cultural de la Iglesía en América Latina
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Porto Alegre é a capital do Rio Grande do Sul, o estado mais meridional do Brasil. O território sul rio-grandense foi, nos tempos do colonialismo europeu, objeto de disputas entre Portugal e Espanha, sendo definitivamente incorporado a Portugal, com os contornos praticamente atuais, somente em 1801, com o Tratado de Badajoz.

Desde os primórdios da colonização portuguesa, no início do século XVIII, toda região, conhecida como «Continente de São Pedro do Rio Grande», pertencia à longínqua diocese do Rio de Janeiro (exceto entre 1745 e 1748, quando pertenceu à diocese de São Paulo), situação que continuou após a independência do Brasil (1822). O quadro começou a mudar somente após a Revolução Farroupilha, conflagração que por 10 anos opôs o Rio Grande do Sul ao Império do Brasil (1835-1845).

Ciente de que o território sulino ficava muito longe do Rio de Janeiro para ser administrado religiosamente, D. Pedro II, dentro da prerrogativa que o regime do Padroado Régio lhe conferia, tomou a iniciativa de encaminhar junto ao Papa a criação de uma nova diocese no extremo sul do Brasil. E isso realmente aconteceu, quando em 7 de maio de 1848 o papa Pio IX, pela bula Ad Dominicas Oves Pascendas, erigiu a diocese de São Pedro do Rio Grande do Sul, com sede em Porto Alegre, a 10ª diocese brasileira, desmembrando-a do Rio de Janeiro e tornando-a sufragânea de Salvador da Bahia, a única arquidiocese que então existia em todo o Brasil.

Como primeiro bispo foi escolhido D. José Feliciano Rodrigues Prates, natural de Gravataí (RS), e que tomou posse somente em 3 de julho de 1853, com quase 72 anos de idade, vindo a falecer em 1858. Em seu curto episcopado, preocupou-se com a formação religiosa do povo e, numa casa alugada na capital, fundou, ainda em condições provisórias, o primeiro seminário sul rio-grandense: o seminário São Feliciano.

Para substituí-lo, foi escolhido D. Sebastião Dias Laranjeira, natural da Bahia, e que foi sagrado bispo pelo próprio papa Pio IX, em Roma, no dia 7 de outubro de 1860. Foi o primeiro bispo na história do Brasil a ter esta honra. D. Sebastião, entre outras coisas, participou do Concílio Ecumênico Vaticano I (1869-1870) e construiu o Seminário Episcopal Madre de Deus, em Porto Alegre, a fim de formar com qualidade os futuros padres no próprio estado.

Neste prédio funciona, atualmente, a Cúria Metropolitana, sendo também local da residência do arcebispo porto-alegrense. D. Sebastião não chegou a ver a conclusão definitiva da obra, pois veio a falecer pouco tempo antes, em 13 de agosto de 1888.

Como terceiro bispo do Rio Grande do Sul foi escolhido D. Cláudio Ponce de Leão, também natural da Bahia e, até então, por nove anos bispo de Goiás. Sua posse ocorreu aos 20 de setembro de 1890. O estado, após superar a Revolução Federalista (1893-1895) – uma verdadeira guerra civil que marcou por muito tempo a sociedade gaúcha – passou a apresentar um significativo desenvolvimento econômico e uma crescente influência política, no quadro da nova fase da vida nacional, a República, proclamada em 1889.

Isso, somado ao grande tamanho da diocese e ao aumento populacional, fez com que Roma não apenas acolhesse o pedido de D. Cláudio em criar uma nova diocese na região, mas se decidisse pela formação de uma Província Eclesiástica própria, o que ocorreu em 15 de agosto de 1910, quando o papa Pio X, pela bula Praedecessorum Nostrorum, dividiu a diocese de São Pedro do Rio Grande do Sul em quatro circunscrições eclesiásticas: Porto Alegre, Pelotas, Santa Maria e Uruguaiana.

Foi nesta ocasião que Porto Alegre deixou de pertencer à Província Eclesiástica do Rio de Janeiro (à qual pertencia desde 1892) e foi elevada à condição de arquidiocese, com o nome de «Arquidiocese de Porto Alegre no Brasil» (e D. Cláudio passou a ser seu primeiro arcebispo), sendo que as outras três novas dioceses, mais a diocese de Florianópolis, tornaram-se suas dioceses sufragâneas, o que perdurou até 1927, quando Florianópolis tornou-se arquidiocese.

A partir dali, a Província Eclesiástica de Porto Alegre passou a abranger exatamente a área do estado do Rio Grande do Sul, situação que permaneceu até 2011. Em 1912 ocorreu um fato incomum à época: D. Cláudio, por motivos de saúde, renunciou, retirando-se para uma casa de sua congregação, os Lazaristas, no Rio de Janeiro, onde veio a falecer em 1924. Mas já havia desde 1906, no Rio Grande do Sul, um bispo coadjutor com direito à sucessão, D. João Antônio Pimenta; no entanto, ele aceitou ser o primeiro bispo de Montes Claros, em seu estado natal, Minas Gerais.

Desse modo, no mesmo ano de 1912 foi escolhido para ser o segundo arcebispo de Porto Alegre D. João Becker, nascido na Alemanha, mas que veio ainda criança para o estado e que fez todos os seus estudos eclesiásticos no Seminário Episcopal Madre de Deus, na capital gaúcha, e que, em 1908, tornara-se o primeiro bispo de Florianópolis (Santa Catarina). No período de D. João (1912-1946), foram criadas a diocese de Caxias (1934) e a Prelazia de Vacaria (1934, e que se tornou diocese em 1957).

Mas a grande preocupação de D. João foi a formação, do clero e dos leigos; por isso, em 1913 o seminário foi transferido de Porto Alegre para o Seminário Provincial (mais tarde Central) de São Leopoldo, aos cuidados dos padres jesuítas, criando, assim, as bases para que o Rio Grande do Sul se tornasse, por muitos anos, um verdadeiro «celeiro vocacional» (entre 1913 e 1949 foram ordenados presbíteros 715 alunos de São Leopoldo e o sucessor de D. João, D. Vicente Scherer, pessoalmente ordenou 493 presbíteros).

Para a melhor educação dos mais jovens, foi construído um seminário próprio, o Seminário Menor de Gravataí (1938). Quanto à formação dos leigos, foi ampliada notavelmente a rede de escolas católicas, dirigidas por congregações religiosas, trazidas em grande número da Europa. Também neste período uma nova catedral (a atual) começou a ser construída (1920), de porte notável, de modo tal que sua conclusão somente ocorreu em 1986. D João Becker veio a falecer em 30 de maio de 1946.

Como terceiro arcebispo de Porto Alegre, foi eleito D. Alfredo Vicente Scherer, natural de Bom Princípio (RS). Sua ordenação episcopal e a tomada de posse ocorreram no mesmo dia: 23 de fevereiro de 1947. Durante seu longo episcopado à frente da arquidiocese (1947-1981), inúmeros fatos de destaque se sucederam. Logo em 1948, foi realizado na capital gaúcha o 5º Congresso Eucarístico Nacional, que evidenciou para todo o país a pujança do catolicismo no extremo sul do Brasil; em 1949, se deu a criação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), confiada aos irmãos maristas; em 1954, foi inaugurado o Seminário Maior de Viamão, dirigido pelos próprios padres diocesanos e com a missão de formar os futuros padres seculares do Rio Grande e de alguns outros estados do Brasil.

Novas dioceses foram criadas: Passo Fundo (1951), Santa Cruz do Sul (1959), Bagé (1960), Frederico Westphalen (1961), Santo Ângelo (1971), Erexim (1971), Cruz Alta (1971) Rio Grande (1971) e Novo Hamburgo (1980). No Concílio Vaticano II (1962-1965), vários bispos gaúchos estiveram presentes, sendo que D. Vicente Scherer foi o único bispo latino-americano a fazer parte da importante comissão teológica do Concílio. Levando adiante as deliberações conciliares no solo natal, criou, em 1966, o Conselho de Presbíteros da Arquidiocese, o primeiro do gênero em todo o Brasil.

Através de seu arcebispo, a Província Eclesiástica de Porto Alegre também esteve diretamente presente noutro evento histórico, qual seja, o primeiro Sínodo dos Bispos da Igreja Católica em tempos modernos (1967). Em 1969, o papa Paulo VI concedeu a D. Vicente a dignidade cardinalícia. Já em junho de 1980, Porto Alegre teve a alegria de receber uma visita que iria marcar para sempre o coração dos gaúchos: a visita do papa João Paulo II, a primeira (e até hoje -2016- única) de um Sumo Pontífice ao território sul rio-grandense. D. Vicente renunciou em 1981, sendo que nos últimos anos de sua vida dirigiu a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, vindo a falecer em 1996.

Ele e D. João Becker governaram a arquidiocese por um período de quase 70 anos. Nestes últimos anos, no entanto, Porto Alegre já teve vários arcebispos: D. Cláudio Colling (1981-1991, falecido em 1992), D. Altamiro Rossato (1991-2001, falecido em 2014) e D. Dadeus Grings (2001-2013). É nesta época mais recente que aconteceram, entre outras coisas, a inauguração oficial e consagração da catedral metropolitana (10 de agosto de 1986), a criação do Lar Sacerdotal, para acolher os padres idosos ou adoecidos (1989), a inauguração do Santuário em honra à Mãe de Deus (2000), a criação das dioceses de Cachoeira do Sul (1991), Osório (1999) e Montenegro (2008), o projeto das Missões Populares Rumo ao Novo Milênio (final da década de 1990), a inauguração do novo Seminário Maior de Viamão (2004) e o I Fórum da Igreja no Rio Grande do Sul, que reuniu, em Porto Alegre, um grande número de representantes de todas as dioceses do estado (2007).

Desde 2001, a arquidiocese foi dividida administrativamente em vicariatos episcopais e, a partir de 13 de abril de 2011, deixou de ser a única sede arquidiocesana do extremo sul brasileiro: naquele dia, o papa Bento XVI criou as Províncias Eclesiásticas de Pelotas, Santa Maria e Passo Fundo. As dioceses sufragâneas da Província Eclesiástica de Porto Alegre passaram a ser Caxias do Sul, Novo Hamburgo, Osório e Montenegro. Desde 2013 o arcebispo de Porto Alegre é D. Jaime Spengler, natural de Gaspar (Santa Catarina). Antes de assumir o arcebispado, D. Jaime já atuava na arquidiocese, como bispo auxiliar (2011). No seu governo foi implantado, no início de 2016, o método catequético de Iniciação à Vida Cristã (IVC), de cunho catecumenal e inspiração bíblica, com o objetivo de diminuir a distância entre a formação catequética e a participação ativa na vida litúrgica da comunidade.

Atualmente (2016), a arquidiocese de Porto Alegre engloba 29 municípios, numa área de 13.529 Km2, com uma população de 3.318.000 habitantes, sendo que um pouco mais de 60% deste total se declaram católicos (estimativa do IBGE – 2015). Está subdividida em quatro vicariatos (vicariato de Porto Alegre, de Canoas, de Guaíba e de Gravataí) e conta com 157 paróquias, 727 comunidades, 16 diaconias (que organizam o serviço social), 62 Institutos de Vida Consagrada e 5 Irmandades. São 209 padres diocesanos incardinados, 165 padres religiosos, 21 padres residentes de outras dioceses, 61 diáconos permanentes, 167 irmãos religiosos e 1065 religiosas, 2.171 catequistas e 2.917 ministros extraordinários da Sagrada Comunhão. É governada pelo arcebispo metropolitano, D. Jaime Spengler, que conta com a colaboração de três bispos auxiliares: D. Leomar Brustolin, D. Aparecido Donizete de Souza e D. Adilson Pedro Busin.

Episcopológio:

Bispos da diocese de São Pedro do Rio Grande do Sul (sede: Porto Alegre):
Dom Feliciano José Rodrigues Prates (1853-1858);
Dom Sebastião Dias Laranjeira (ord.: 1860; 1861-1888);
Dom Cláudio José Ponce de Leão (1890-1910);
Dom João Antônio Pimenta foi bispo coadjutor (1906-1910).


Arquidiocese de Porto Alegre teve os seguintes arcebispos:
Dom Cláudio José Ponce de Leão (1910-1912);
Dom João Becker (1912-1946);
Dom Alfredo Vicente Scherer (1947-1981; cardeal em 1969);
Dom João Cláudio Colling (1981-1991);
Dom Altamiro Rossato (1991-2001);
Dom Dadeus Grings (2001-2013);
Dom Jaime Spengler (2013...).


Arcebispos coadjutores
Dom João Antônio Pimenta (1910-1911);
Dom Altamiro Rossato (1989-1991);
Dom Dadeus Grings (2000-2001).


Bispos auxiliares
Dom Edmundo Luiz Kunz (1955-1988);
Dom José Ivo Lorscheiter (1966-1974);
Dom Antônio do Carmo Cheuiche (1974-1982);
Dom Urbano José Allgayer (1974-1982);
Dom José Mario Stroeher (1983-1986);
Dom Thadeu Gomes Canellas (1984-1999);
Dom Osvino José Both (1990-1995);
Dom José Clemente Weber (1994-2004);
Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues (1998-2001);
Dom Jacinto Inácio Flach (2004-2009);
Dom Alessandro Ruffinoni (2006-2010);
Dom Remídio José Bohn (2006-2011);
Dom Jaime Spengler (2011-2013);
Dom Agenor Girardi (2011-2015);
Dom Leomar Antonio Brustolin (2015-...);
Dom Aparecido Donizeti de Souza (2016-...);
Dom Adilson Pedro Busin (2016-...).

Referêcias:

BERNARDI, José (org.). História e Missão da Igreja no RS. Porto Alegre: Edições EST. 2007.

FLORES, Moacyr. História do Rio Grande do Sul. 5. ed. Porto Alegre: Nova Dimensão. 1996.

GUIA 2016 da Arquidiocese de Porto Alegre.

HASTENTEUFEL, Zeno. Dom Feliciano na Igreja do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Livraria Editora Acadêmica. 1987.

MOESCH, Eduardo Pretto Moesch. Dom Vicente Scherer: a voz de um pastor. Porto Alegre: Padre Reus. 2007.

RUBERT, Arlindo. A Igreja no Brasil. 4 volumes. Santa Maria: Editora Palotti, 1981, 1993.

RUBERT, Arlindo. História da Igreja no Rio Grande do Sul. 2 Volumes. Porto Alegre: EDIPUCRS,1998.


EDUARDO PRETTO MOESCH,