SALVADOR; (Bahía) - Arquidiocese

De Dicionário de História Cultural de la Iglesía en América Latina
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"A nova Igreja que a Senhor quer fundar"

Manoel da Nóbrega: “Desta Baya a 9 de Agosto de 1549 sentiu a terra, e lago escreveu a quem podia escutá-lo, o que Ihe parecía necessidade imediata: «Chegamos a esta Baya a 29• dias do mes de março de 1549. Andamos naviagem oito somanas. Achamos a terra em paz e quarenta ou cinquenta moradores na povoação que antes era receberam-nos com grande alegria; e achamos huma maneira de igreja, junto a qual logo nos aposentamos os Padres e Irmãos em umas casas a par della, que nao foi pouca consolacão para nós, para dizermos missa e confessarmos»”.[1]

Quem assim noticiava, era o Padre Manoel da Nóbrega (1517-1570), em carta ao Padre Simȃo Rodrigues, primeiro Provincial dos Jesuitas em Portugal. Dizia-se temeroso do mau exemplo que o nome de cristão poderia causar, pela falta de coerência entre o que díz acreditar e o que pratica a gente que de lá velo. Pela vida inteira há de se lamentar. Problema relevante para os propósitos dos que queriam servir primeiramente, ao Evangelho de Jesus Cristo.

Incontinente, nova informacáo dele mesmo: “Cá ha clerigos, mas ê a escória que de lá vem; «onmes quaerunt sua sunt» [todos procuram seus interesses], Nao se deviam consentir embarcar sacerdote sem ser sua vida muito aprovada, porque estes destroem quanto se edifica”. Adiante, fiel ao imaginario cristão, tinha como certo que nas origens, onde quer que vivessem humanos, aí o nome de Jesus Cristo teria ressoado pela voz de um dos apóstolos. “Também me contou pessoa fidedigna que as raízes de que cá se faz o pão, que São Thomé as deu, porque cá não tinham pão nenhum. E isto se sabe da fama que anda entre eles: «quia patres eorum nunciaverunt eis» [por que os pais deles lhes contaram]. Estáo d'aqui perto urnas pisadas figuradas em urna rocha, que todos dizem serem suas. Como tivermos mais vagar, havemo-las de ir ver”.[2]

Determinado estava em edificar “a nova Igreja que o Senhor quer fundar”. Sua pena não descansava. E sempre o quadro conflituoso. Alguns justificam as atrocidades que praticam contra os nativos, alegando que o fazem pelo mal que deles recebem, “o que posta que seja assim, foi depois de terem muitos escandalos recebidos de nós”. Nȃo abria mão do propósito que o trouxe, pois “esta terra é nossa empresa, e o mais Gentio do mundo”. E a “conversão deste Gentio”, depende da paz que se alcance entre eles e os que vieram.[3]

“Multo desejosos andamos todos de hir pollo certão, porque a nenhuma parte hiremos ande não aja aparelho millor para se fazerem boos christãos que nas Capitanias, os quais, para bem nos crerem, he necessario que por tempo nos experimentem e venhão a conhecimento da verdade, porque inda agora a medo nos creem por razão das muitas maldades dos branquos até agora”.[4]

Todas essas urgencias clamavam pela criação da diocese. “É multo necessário cá um Bispo para consagrar oleos para os baptisados e doentes e tambem para confirmar os Christãos que se baptisam... para castigar e emendar grandes males, que assim no ecclesiastico como no secular se commettem nesta costa, porque os seculares tomam exemplo dos sacerdotes e o Gentío de todos; ... e vindo Bispo, não seja dos que «quaerunt sua, sed quae Jesu Christi» (Filipenses, 2,21). Venha para trabalhar e não para ganar”.[5]

O Papa Júlio III atendeu o que por cartas informara e pedira Dom João III. Criou a primeira diocese na América Portuguesa, com a bula «Super specula militantes Ecclesiae», “dada em São Pedro de Roma, no ano da Encarnação do Senhor de mil quinhentos e cincoenta e um, 25 de fevereiro, segundo ano do Nosso Pontificado”.

Justificou o ato alegando estar “o seu pensamento voltado para todas as Provincias do Orbe” e com razão maior agora, “para os lugares... conquistados as nações bárbaras pelos reis católicos, para nelas se enraizar a religião cristã a fim de crescerem na fé, sob o pastoreio e doutrina dos bispos”.Razão em atender ao Rei, para que também na “Região do Brasil se alargassem as fronteiras cristãs”, e assim fossem coroados “o denodo, as grandes despesas e os imensos trabalhos”, já de algum tempo empregados pela gente lusitana.

Os conquistadores atribuíam ao cristianismo o cimento de segura integração. Nas caravelas navegaram o projeto exploratório, dominador, unido a uma outra ambição: assegurar a expansão cristã, intrínseca ao seu universalismo. Fazer o mundo inteiro cristão, mesmo que redundasse em submetê-lo. O homem novo e verdadeiro é aquele revelado em Jesus Cristo e só alcançará esse estágio ou condição aquele que a ele aderir inteiramente. Esse intento vinha dos primórdios quando os cristãos eram marginalizados na sociedade civil e sem direitos políticos. Não mais o caso, mas o propósito era o mesmo.

Já existiam “igrejas na costa, o culto já era celebrado, a palavra de Deus já era semeada; mas era preciso trazer os nativos a luz da verdade”. Escolhida estava a Capitania da Bahia de Todos Santos, “terra onde os campos são férteis, o clima é benigno, e o comércio atrai muita gente”. Concedeu o título de cidade a fortaleza-cidade, usando de ancestral prerrogativa, por não convir ao bispo ter sua sede em uma fortaleza. E indicou para Sé a igreja do “Santo Salvador. Para louvor de Deus e honra do próprio Santo Salvador, glória de toda.a Igreja triunfante e exaltacão da fé católica”.

A diocese compreendia “cincoenta léguas em longitude ao longo da costa do mar e vinte em latitude perto da povoação”. Da foz do río de São Francisco a ponta do Padrão na entrada da baía e avaçando para dentro por aproximadamente cento e vinte quilõmetros sempre riscado em vertical até de novo encontrar o rio. O bispo será Pedro Fernandes (1495-1556), bacharel em Teologia (París), presbítero da Diocese de Évora. Em linguagem curial, a bula detalha suas competências, bem assim, as prerrogativas do Rei, Grão-Mestre da Ordem de Cristo, Padroeiro para administrar e manter; o que implicava em criar/aprovar novas comunidades paroquiais, nomear seus párocos, autorizar a entrada de religiosos, levantar novos locais de culto e dotá-los do necessário ao funcionamento e manter por regime especifico os nativos em aldeamentos. Para sustentar esse custo e se compensar dos encargos, a Coroa chamou a si a cobrança dos dízimos eclesiásticos.

Esse documento fundador reconhece e consagra duas atividades pastorais bem distintas: conservar na Fé os que para aqui vieram, e trazer a Fé os que por cá já estavam. De futuro, a dicotomia há de marcar a co rnunidade crente por se constituir em Igreja particular, com grandes problemas. Conflitos culturais, assimllações mútuas, relação política desigual, exploração económica, tudo há de repercutir na vivencia da Fé propriamente dita, quer sejam ministros/propositores, quer destinatários.

“Véspera da véspera de São João [22 de junho de 1552], chegou o Bispo a esta Baya ... veio pousar conosco, até que lhe cercaram umas boas casas, em que agora está; e muito benigno e zeloso ... pregou dia de São Pedro e São Paulo com muita edificação, com que multo ganhou os corações de suas ovelhas”.[6]

Mas logo afloraram divergências em queixas comuns, por razões opostas. O Bispo e o Missionário notificaram ao mesmo Padre Simão Rodrigues logo em julho seguinte [1552].

Neo-couvertidos da gentioidade, a mulher [Catharina] e filhos de Diogo Álvares, Caramurú, vinham sendo ouvidos em confissão com o recurso de interprete, pois que “não entende a nossa fala, nem nós a sua”,[7]arguia o Padre Nóbrega. Inadmissível aos olhos de Dom Pedro Fernandes. O uso de cantares e instrumentos musicais dos nativos em missas e outras celebracóes, “que no sé quales son las orejas que puedem oyr tales sonos e rústico tañer”.[8]

O sepultar os mortos a maneira deles. Não lhe agradou que os curumins cortassem os cabelos a moda deles, pois a seu ver, o velho homem continuava a impedir o novo de aparecer. Soube das procissões de flagelantes pela Quaresma e Advento, e não Ihe agradou também, Por fim, o Padre Nóbrega a quem ele adrnirava, não Ihe parecía prático.

Para o pouco tempo na terra, fica patente sua grande estranheza pelo que encontrou. E não lhe faltava certa experiencia desses novos campos, pois tinha ido como visitador geral, em 1540, a Goa na Índia. Concluiu a carta pedindo orações ao Padre Simão pelo seu retorno a Portugal, aonde pudesse acabar seus dias “y esto sea muy cedo”.[9]

Por certo não lhe passava a morte trágica tão próxima. Parece não faltar razão ao Padre Nóbrega, quando adiante, escreveu a Thomé de Souza e sobre enaltecer as virtudes do Bispo morto, afirmava que ele tinha os nativos como incapazes de toda doutrinação “por sua bruteza e bestialidade”.

A criação de paróquias representará o indicador institucional da expansão. Pequenos núcleos do urbano, cercados de matas a perder de vista, recortadas por algumas faixas de ruralidade. Aos obstáculos ambientais, somava-se o atendimento precário pelos párocos. Justo na longa duração da eclesiologia tridentina, em que as iniciativas estavam quase exclusivamente em suas mãos, sobretudo em atos de culto.

Por volta de 1587, Gabriel Soares de Sousa assinala que “tem a Bahia com seus recôncavos sessenta e duas igrejas em que entra a Sé e três mosteiros de religiosos, dos quais são dezesseis freguesias curadas, convém a saber: nove vigararias que paga Sua Magestade e outras sete pagam aos curas os fregueses, e a maior parte das outras igrejas têm capelãescom suas confrarias, como em Lisboa; e todas essas igrejas estão mui consertadas, limpas e providas de ornamentos, nas quais, no dia dos oragos Ihe faz muita festa”.

Durante a década de oitenta, chegaram para a cidade do Salvador, beneditinos, carmelitas da antiga observância e franciscanos. Somavam-se aos clérigos regulares, jesuítas, desde a primeira hora. Suas casas tornaram-se centros de vida religiosa citadina e devota. Outros vírão adiante, sempre com o mesmo propósito. Não lhes era permitido assumir paróquias e o trabalho entre a população nativa a que previamente se obrigavam por disposição régia, logo, logo caía no esquecimento.

Para o final do século, ocorreu a visitação do Santo Oficio da Inquisição de Lisboa que aqui esteve de 1591-1593. Dela restaram registros dos confessantes e outros que oferecem um painel do viver de alguns moradores na cidade e recôncavo. Entre tudo relevante, um movimento marcadamente religioso que do interior mais longe, veio se abrigar em terras de Fernão Cabral de Taíde, vizinhas a ilha de Itaparica, conhecido por «Santidade de Jaguaripe». Resistencia ao colonizador, reelaboração de crenças cristãs, o que ficava evidente para a Igreja era a questão central de como tornar cristãos os nativos.

As fronteiras interiores traçadas pela Bula ao criar a diocese, já se moviam rumo ao oeste e sudoeste em procura do rio de São Francisco. Barreira natural que assim se manterá até meados do século XIX. Ao sul, a Capitania de Porto Seguro integrará a diocese do Rio de Janeiro (1676), enquanto a Capitania de São Jorge dos I1héus será do Arcebispado, unida a do Conde de Castanheira e a de Álvaro da Costa, no Recôncavo. A sudoeste, esses limites avançavam pela Capitania das Minas Gerais, até a criação da diocese de Diamantina (1854). E para encontrar termo, o Arcebispo Dom Romualdo Antonio de Seixas obteve pelo Decreto de 25 de maio de 1854, da romana Congregação Consistorial que os limites da Província da Bahía fossem também os da Arquidiocese.

Incorporaram-se as terras do além São Francisco que pertenciam â diocese de Olinda. A Província de Sergipe continuou integrando esse território eclesiástico até 1910, com a criação da diocese de Aracajú. Logo em 1913, o próprio espaço baiano será repartido pelas dioceses da Barra, de Caetité e de Ilhéus, abrindo um processo ainda não encerrado.

Cerca de cento e sessenta anos a frente (l712), já Arcebispo (1676), o Bispo de São Salvador da Bahia, traça com lucidez, um vivo quadro de suas carências. Imenso sobre imenso tornara-se o territorio, a precariedade dos caminhos se avolumara; presbíteros com disposição para ir, eram poucos. Povoamento descontínuo e rarefeito. Para Dom Sebastião Monteiro da Vide (1643-1722), Arcebispo entre os anos de 1702-1722, extrema a necessidade “de que parece he a total cauza o faltarem-Ihe muytas igrejas [paróquias] e ministros que cultivem esta dilatada vinha.”

Agrega ao seu rebanho um contingente que o documento fundador nao reconhecia ainda, Eram os que da África passavam a Bahia. Os trabalhadores forçados, a mão-de-obra escravizada. Se todos os seu s fieis, por falta de assistência religiosa merecem “sua compaixáo e lástima”, os que aquí são escravos, mais ainda. No conjunto, eles são o maior número.

Por ano “entrão nesta cidade da Bahya mais de duos mil escravos nas embarcacóes que os vão buscar da Costa da Mina e de Angola”. Os que chegam sem batismo, como os já batizados, carecem desse cuidado, sobretudo por não se contar com presbíteros que conheçam seus falares como seria desejável. Nao se encarava a escravidáo, olhava-se o escravo. Mesmo o padre Vieira (1608-1697), ao pregar nessa Bahía, em 1635, para negros em festa de sua Confraria, dissesse que: “a natureza como mãe desde o rei ao escravo, a todos fez iguais, a todos libres”, admitía contingencias históricas de sujeição.

Houve, porém, certo espaço de inserção no convívio religioso, mesmo mantendo a distancia do lugar social. Confrarias/Irmandades nas igrejas paroquiais mais urbanas, algumas mais fortes, chegaram a migrar para erguer su as igrejas como afirmativas de seu prestígio e não por excluídas.

“E considerando-me juntamente Pastor, e Pay de tão grande número de Almas, ainda são mais urgentes os motivos que me obrigão a este recurso [a súplica que apresenta ao Rei], porque nenhum Pay he tao duro de coração, que vendo e ouvindo chorar seus filhos, principalmente estando necessitados, que se Ihe não commovão as entran has e se aflija e lastime”.

São quarenta comunidades paroquiais na folha da Fazenda, 1712, “e quatro curatos em vias de o serem”, estes últimos os próprios fieis pagam a côngrua ajustada. Nessas [44] há mais de 90.000 almas para um território passante de 650 leguas. A distribuição é desigual quanto ao número de fieis, “o mesmo se diga quanto a distancia e tamaño”. Acessos difíceis e a lonjura impediam os fieis da “recepção dos sacramentos e assisténcia aos Oficios Divinos”.

Antes mesmo de expor com realismo essas necessidades, convocou um Concílio Provincial que por razóes alheias, veio resultar em Sínodo, 1707, no qual se aprovou verdadeiro diretório canónico-pastoral, cuja vigência em parte, se estendeu a promulgação do Código de Direito Canônico, Roma 1917. São as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, cu]a primeira edição é de 1719.

A exceção dos povos indígenas (regimentos específicos), procuraram alcançar a todos, distribuindo em cinco livros ou partes o que parecía necessário. A doutrina, o culto, seus ministros, obrigações e privilegios, o viver dos fieis, igrejas, cape!as, testamentos e sepulturas, delitos e penas, tudo com índice remissivo que surpreende. Mas entre a norma e a prática, há uma distância que se nâo pode ignorar. A ótica institucional que o documento evidencia, é provável, tenha sido o último esforço em ajustar a vida da comunidade crente na antiga ordem colonial. A política da Coroa sofrerá no avanço do século, redefinições, em aspectos de sua relação com a Igreja.

Mas o espaço já bem mais percorrido estava pelos passos de cristâos. Marcos religiosos dessa internação, revelam o esforço para lá chegar e a atração que passam a exercer, A beira do rio de São Francisco, buscou refúgio em fins do século XVII, Francisco Mendonça Mar, o «monge» e a Lapa se tornou do Bom Jesus, e ele foi ordenado presbítero. Declinante o século (1785), Frei Apolonio de Todi ofm cap., como missionário itinerante, chegou a Piquaraçá e ao enxergar o monte, viu ali o Calvário de Jerusalém e o Monte Santo surgiu.

Testemunha das missões populares que por todo o espaço arquidiocesano, os capuchinho vinham se devotando com ardor. Essas missões representavam a estratégia para suprir a falta de assistência religiosa continua. Contavam com o inteiro apoio dos Arcebispos e com a demanda dos párocos.

Antes, em tímida interiorização, os franciscanos já estavam em São Francisco do Conde, em Santo Antônio do Paraguaçu e em Cairú. Os carmelitas em Cachoeira; além de beneditinos e dos mesmos carmelitas para supervisão de suas propriedades rurais no recôncavo. A esses religiosos da primeira hora, outros vieram se juntar, ainda na segunda metade do século XVII: carmelitas descalços (1665), capuchinos franceses (1679), agostinhos recoletos (1693). No dezoito, vieram os franciscanos esmoleres da Terra Santa (1725), os irmãos de São João de Deus (Cachoeira/hospital, 1755) e os padres do Oratório (1756). E deu-se, para detrimento das atividades missionária e educacional, a expulsao dos jesuitas (1759).

De outra parte, as mulheres reuniram-se em Conventos e Recolhimentos. Buscavam reproduzir por cá, um viver específico, recluso e devoto. Sem nenhum compromísso pastoral, coisa aliás, que não lhes era pedido, nem imaginado. Surgiram as clarissas no Desterro (1677). Depois, as recolhidas nos Perdões (1723); as concepcionistas na Lapa (1744); as ursulinas nas Mercês (1744) e na Soledade (1753); as recolhidas em Sáo Raimundo (1761). Depois, as recolhidas de Nossa Senhora dos Humildes, em Santo Amaro (1808) e as irmãs da Caridade (1853).

Os futuros padres diocesanos ainda vinham se preparando junto a um Padre-Mestre franciscano ou beneditino, sendo arguidos por examinadores sinodais. E, se aprovados, inscritos para as Ordens Sacras. Só em 1815, abre-se o Seminário da Bahia, último no Antigo Regime, para ganhar melhor estruturação dos estudos e enquadramento disciplinar, com o primeiro brasileiro arcebispo, Dom Romualdo Antonio de Seixas (1828-1860). Seu funcionamento será ininterrupto, com variações diretivas. Constante envio de alunos seus ao Colégio Pío Latino-Americano e Universidade Gregoriana, em Roma.

Já é Império o Brasil e surge um problema quanto ao trabalho dos religiosos. O Aviso de 19 de maio de 1855, expedido pelo Ministro da Justiça, comunicava a todas as suas casas, estar suspensa a admissão de noviços, até a celebração de uma concordata com a Santa Sé. Chegará a República e ela não acontecerá. Vão minguando os religiosos e seus serviços. Para 1890, o Ordo da Arquidiocese apontava cento e oitenta e nove paróquias em todo o seu território baiano, muitas desassistidas de párocos.

Um outro tempo se abria, de recursos escassos e iniciativas mais livres. Desses dias aos días do Concilio Vaticano II, dois pastores conduziram a Igreja de São Salvador da Bahia: Dom Jeronimo Thomé da Silva (1894-1924) e Dom Augusto Álvaro da Silva (1968). Vinha em curso o alinhamento as diretrizes romanas que se reforçã com o Primeiro Concilio Plenário Latino-Americano (1899) e o novo Código de Direito Canônico (1917).

Novos religiosos: os padres Cordimarianos (1908), os Redentoristas (1933) e os Passionistas (1947), quando também entram os Agostinianos (1949) e os Vocacionistas (1951). Antigas casas, como beneditinos e franciscanos, se renovam com o apelo a coirmãos na Alemanha.

Há constante preocupação em mobilizar os católicos em torno de algunas bandeiras que. lhes pareciam prioritarias. Lutas que se configuravam nas cidades. O mundo rural parecía preservado no isolamento e na incompreensão de seus problemas. Canudos, em 1897, foi a prova maior. Traumátíco em dimensão de guerra, e a omíssão ou a tácita aprovação.

As questões urbanas eram mais evidentes. Para estímulo dos presbíteros, passou a circular desde fins de 1908 a Revista Eclesiástica da Bahía, sobrevivendo até 1964. Para criar condições de sustentação do Seminario, surge a Obra das Vocações Sacerdotais, O.V.S. (1906). Um congresso regional, em 1926, e outro nacional, em 1949, destinados a análise e incremento na formação de presbíteros.

O trabalho catequético mereceu atenção e publicaram-se o grande e o pequeno Catecismo da Doutrina Cristã, bem assim a revista «Pequenina Semente». Na esteira dos semanarios que já vinha desde o «Noticiador Catholico», em 1847, segue caminho até a «Semana Católica» (1964). A gráfica «Mensageiro da Fé» (1916) e suas publicações, obra dos franciscanos, ao trabalho dos Paulinos e suas edições, em 1954.

O primeiro Congresso Católico Brasileiro realizado aqui em Salvador, em junho de 1900, foi estímulo para diversas iniciativas. No plano educacional, vai se formando uma rede colégios dirigidos por religiosos na cidade. Os beneditinos e seu colégio; os Salesianos, em 1899; os Maristas, em 1904; os jesuitas, com o retorno em 1910; as irmãs Dorotéias, em 1895; as ursulinas das Mercês, em 1897, e logo na Soledade e adiante, 1916, em Ilhéus. As franciscanas do Sagrado Coração, em 1905. As Sacramentinas, em 1905, também em Cachoeira, Santo Amaro e Feira de Santana.

Depois, as irmãs da Caridade (Coração de Jesus, Salete, Medalha Milagrosa), franciscanas Hospitaleiras, irmãs de Jesus Crucificado, filhas de Sant' Ana, missionárias do Santíssimo Sacramento e Maria Imaculada, Mercedárias e outras, Como soma do ensino primário e secundário, a criação da Universidade Católica do Salvador, na década de 1950.

A vida religiosa da população vinha alimentada por dois santuarios: na península de Itapagipe, o do Senhor do Bonfim (1745) e no recôncavo, o de Nossa Senhora das Candeias, em capela do antigo engenho Pitanga, propriedade dos jesuítas que indo a hasta pública (1761) foi preservada. Pias associações mais dúcteis e modernas, como o Apostolado da Oração e a Pía União das Filhas de María, se multíplicaram. Vicentinos, entre outras. Um repositório significativo do que se propõs ao conjunto dos fiéis, são as disposições canónicas do Segundo Sínodo Arquidiocesano, em setembro de 1945. Dos anos 30, o movimento da Ação Católica que se desenvolvia em alguns de seus setores urbanos.

Cada aspecto ligeiramente indicado nesse painel levanta uma trilha de pesquisa, com suas inter-relações nem sempre patentes. Aquí, em traços sumários, a Igreja de São Salvador da Bahia que chegou ao Concílio Vaticano Segundo.


NOTAS

  1. (NÓBREGA: 71).
  2. (NOBREGA: 78).
  3. (NOBREGA: 82).
  4. (LEITE, 1954, p. 354).
  5. (NOBREGA: 83).
  6. NOBREGA: 128.
  7. LEITE, 1940, p. 29
  8. LEITE, 1954, p. 358.
  9. LEITE, 1954, p. 366.


REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMORA, Antônio Soares (org.). Sermões: problemas sociais e políticos do Brasil [do] padre Antonio Vieira. São Paulo: Cultrix; Brasília: INL, 1975.

LEITE, Serafim (org.). Novas cartas jesuíticas (de Nóbrega a Vieira). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1940. ___ Cartas dos primeiros jesuitas do Brasil (1538-1553). São Paulo: Comissão do IV centenário da cidade de São Paulo, 1954, v. l.

NÓBREGA, Manoel da. Cartas do Brasil, 1549-1460. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1988.

SILVA, Cándido da Costa (org.). Notícias do Arcebispado de São Salvador da Bahia. Salvador: Fundação Gregório de Mattos, 200 l.

VAINFAS, Ronaldo (org.). Confissões da Bahia: santo oficio da inquisição de Lisboa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.


CÁNDIDO DA COSTA E SILVA